A/N: esse é, de longe, o capítulo mais complexo que já escrevi. Espero, verdadeiramente, que gostem e me acompanhem na expressão desse amor entre elas, que são seres reais e altamente complexos.
Para fins de intepretação, a água, na literatura, é alegoria para o renascimento. Tenham isso em mente durante a leitura.
Agradeço, novamente, pelos comentários. Vocês fazem o meu dia.Prometo que o próximo capítulo não vai demorar pra sair tanto quanto esse, rs.
Todos os dias, rezo para que o sol nasça.
No entanto, numa desobediência crônica, ele só se põe. Cai no horizonte em cores alaranjadas enquanto esses olhos constantemente buscam pela luz solar, buscam queimarem cegos devido ao excesso de luminosidade.
Cai,
como
estou
caindo.
Com água nos olhos, caio na índole não misericordiosa de Faye, porque ela não impede que meus demônios, lambendo, reacendam as chamas antes trazidas à tona; não impede que me implorem abrir a boca e diga palavras mecanicamente pensadas; não impede que essa alma seja vendida ao umbral apenas para, por uma fração de segundos, ser assombrada por algo além da compreensão de uma mente restrita. Antes, eu era tão pura quanto as águas cristalinas de um rio florestal. Agora, retida a um estado de possessão, o amor é dogma religioso. E eu estou caindo, rezando para que o sol nasça, porque o diabo, com seus olhos educados, nocauteia e diz que preciso de mais. Diz essa ser a razão da minha existência. Talvez realmente fosse, pois, ao ver os pequenos fios de cabelos vinho caírem sobre sua testa, tenho a ânsia em dizer
venha e me destrua,
continue me assombrando tão graciosamente.
O coração dourado e as mãos geladas pelo nervosismo de, a cada intervalo após seu corpo penetrar no meu, encontrar-me com deus. Deus em forma de amante, sem misericórdia nessa cama que, de minuto em minuto, espalhamos erros ou acertos duvidosos demais envoltos num lençol expansivo. Yoko sendo completamente maluca ou consideravelmente astuta.
A cada segundo, então, rezo pelo amanhecer.
Mas, de forma traiçoeira, sua íris borda o crepúsculo de um dia sem fim.
Nessa órbita imprecisa, atrevo fechar os olhos por seis segundos. Voando muito próximo do sol que se põe no leste, as asas derretem e a ansiedade torna as conversas cada vez mais difíceis. Ainda posso sentir o peso das costelas de Faye enquanto deita entre minhas pernas, como se num eterno castigo por tanto tempo ter ansiado pelo gosto de seus lábios, a maciez do toque e o carinho do afago. Não sabia no que estava me metendo.
No contato do quinto segundo, o dígito do seu polegar contorna a penugem da minha sobrancelha direita. Através da carícia, ela me invoca, percebo. Quer saber se ali permaneço, se todos os círculos percorridos previamente não trouxeram um excesso de sensações capazes de me fazer dissociar, agora. Não há subterfúgio, contudo, quando evito até engolir a saliva que acumula na boca com medo de perder seu gosto impregnado na língua.
No silêncio excruciante dentro do cômodo, ouço as escalas de suas respirações fundirem as minhas. A essa altura, sou uma mera, e singela, extensão de Faye. Não havia brecha ou tempo necessário para raciocinar a imensidão de ter barganhado a alma, ter sido posta de joelhos e mantida numa áurea de sacrifícios irreal. Os músculos doem quando sou segurada nesse plano.

YOU ARE READING
Amáveis.
FanfictionHistória com uma abordagem diferente do que aconteceu após o evento de aniversário da Yoko. - está tudo bem querê-la - Neko diz, agora em palavras tão simplificadas. Está tudo bem querê-la. Ecoa incessantemente na beirada da minha mente. Yoko...