Filhinho de papai

IV Capítulo

-Por favor, quero falar com a diretora - informo quando entro na secretaria.
-Desculpa moça, mas ela está ocupada hoje e não pode atender ninguém.
-Magina querida, desculpa eu, mas estou indo falar com ela agora - me dirijo para diretoria e ainda bato na porta antes de entrar.
-Já disse que não vou atender ninguém hoje! - grita a diretora antes mesmo de me ver.

Entro em sua sala e ela sorri quando me vê.

-Em que posso ser útil? - pergunta com uma falsa simpatia.
-Gostaria de saber o que aconteceu ontem. Houve vários casos de intoxicação alimentar, não é? - pergunto calmamente sentando-me na sua frente.
-Sim senhorita, um pequeno descuido das cozinheiras. Mas isso não irá se repetir.
-Mas não irá mesmo! Isso não deve nem acontecer. Essas crianças poderiam ter morrido! - meus resquícios de paciência se vai aos poucos.
-Peço que abaixe o tom de voz senhorita. Entenda que é muitas refeições, e para muitas crianças. É normal que com a pressa aconteça descuidos.
-Você está falando isso porque não é seu filho. Não foi você que passou a noite em claro com o seu filho passando mal - aumento ainda mais meu tom de voz.
-Se não está gostando da nossa escolinha pode retirar seu filho e colocar em uma particular. Tem inúmeras por aí - diz sem olhar na minha cara.
-Você só pode estar de brincadeira comigo - levanto-me da cadeira e aponto o dedo em sua cara - espera, que se você não pode resolver esse problema, eu mesmo resolvo por você.

Saio da sua sala sem olhar para trás. Seguro melhor Ben, e me preparo para subir o morro até o topo, onde fica a mansão do Alemão. Odeio ter que pedir favores para ele, principalmente por saber que ele tem uma quedinha por mim. Depois de alguns minutos, e de um suor escorrendo pelo meu rosto, paro em frente ao enorme portão de ferro da única mansão da favela.

-Quem é você? - pergunta um dos tantos seguranças do Alemão.
-Sou a Lia, avisa ao Alemão que eu quero falar com ele.
-As coisas não funcionam assim não docinho - ele segura o meu queixo - o Alemão tem que querer falar com você.
-Então avisa ele por gentileza - peço com toda a educação do mundo. Não estou a fim de brigar com esse muro de músculos, chega de problemas por hoje.

Ele pega um rádio no seu bolso e informa que eu estou aqui. Não demorar nem cinco minutos e o portão da mansão se abre revelando o Alemão sorridente para mim.

-Ela sempre volta pra mim - diz sorrindo.
-O assunto é sério - aproximo-me dele que pega o Ben do meu colo.
-Fala aê garotão! Senti sua falta - esse é um dos poucos momentos que eu vejo o quanto Alemão é bom. No fundo acredito que ele só se envolveu nesse mundo do crime por conta de fatalidades, afinal ele é uma boa pessoa. Ajuda mais o pessoal da favela do que os governantes.
-Ele está com intoxicação alimentar por conta da falta de cuidado da escolhinha - digo logo de uma vez.
-Eu disse para você por ele em uma creche particular. Eu pagaria as mensalidades, Ben é como um filho para mim.

Quando Alemão soube que eu estava grávida e abandonada pelo pai do bebê, ele foi até a minha casa me pedir em casamento. Com ele é assim, oito ou oitenta. Disse que gostava de mim e que assumiria o filho. Mas como eu estava com o juízo no lugar, recusei a oferta de me envolver com ele, e consequente com esse lado sujo da sua vida.

-Alemão menos, você sabe que eu não quero nada vindo desse dinheiro sujo. Preciso que faça alguma coisa, coloque outra diretora lá. Uma que preste para alguma coisa - fico nervosa ao me lembrar daquela sem educação.
-O que ela fez com você anjo? - pergunta todo preocupado.
-Nada. Exatamente por isso. Ela tem que tomar uma medida em relação à esse acontecimento. As crianças poderiam ter morrido!
-Você tem razão - ele faz carinho em minha bochecha - você sempre tem.
-Então, pode me ajudar ou não? - pergunto afastado sua mão.
-Ganho um beijo em troca? - pergunta esperançoso.
-Você sabe que não.
-É, eu já sabia - ele faz um cara de decepcionado que nos faz rir - Rael prepara as coisas pra mim, eu vou descer o morro para resolver uma parada para o meu anjinho - Alemão me entrega o Ben e dá um beijo no meu rosto.
-Obrigada Alemão - sussurro agradecida.
-Fica suave anjo, no que precisar tamo aê!