Era sábado e felizmente, eu não estava trabalhando. Como o Otávio estava bem melhor, falamos com o médico dele e com a prévia autorização, combinamos de levá-lo ao parque da cidade; ele ficou animadíssimo e mal dormiu na noite anterior, fazia tempo que ele não saia de casa. Estávamos confiantes que ajudaria em sua recuperação. A pequena praça da cidade estava linda, iluminada pelas luzes da roda gigante e pairava no ar a alegria dos palhaços e malabares. Aquela noite era para o Otávio mas eu não pude deixar de sentir um certo entusiasmo em andar pela praça da cidade de mãos dada com o Humberto, orgulhosa e ao mesmo tempo tímida, afinal, a cidade era pequena e eram muitos olhares sobre nós, mas já que o Humberto fez questão de assumir nosso relacionamento eu não iria me opor. Rodamos o parque de ponta a ponta para que o Otávio pudesse aproveitar todos os brinquedos. Comemos cachorro quente, algodão doce, nos divertimos muito. Quando eu estava quase entregando os pontos de tão cansada, para minha surpresa o Humberto convidou a todos para a roda gigante.

– De jeito nenhum – eu disse – tenho medo de altura.

– Não seja boba, essa roda gigante é tão pequena que nem dá para chamar isso de altura – Ele argumentou.

– Não vou – continuei firme.

– Até eu que sou criança não tenho medo, vamos, por favor, vamos todos, eu vou com a vovó e você com o papai.

Eu não resistia vê-lo chamar minha mãe de vovó, eu não sabia direito quando havia acontecido pela primeira vez, mas era fofo e a dona Estela se derretia toda; eu bem sabia que ela também tinha medo de altura, mas, também sabia que ela faria tudo pelo menino.

– Ok, me convenceu – eu disse fazendo sinal de rendição – me levem.

Sentamos naquelas cadeirinhas enferrujadas e meu coração disparou, apertei a mão do Humberto.

– Ainda podemos desistir, somos jovens para morrer!

Ele simplesmente sorriu e me beijou. Começamos a subir, subir e subir. Quando nossa cadeira chegou ao topo e íamos começar a descer, a bendita roda gigante parou. Surtei.

– Humberto pelo amor de Deus, parou e agora, como vamos descer? Eu quero descer!

– Calma, respira, eu estou aqui.

Não sei se foi a paz da sua voz ou seu sorriso, mas meu batimento cardíaco voltou ao normal e então, me dei conta da beleza que estava bem a frente dos meus olhos, uma lua cheia linda e um céu magicamente estrelado.

– A lua está magnífica – murmurei

– Está mesmo – Ele segurou meu rosto delicadamente e fez com que eu olhasse nos seus olhos – Eu alguma vez já disse que te amo?

Aquelas palavras me pegaram de surpresa porque eu realmente nunca as tinha ouvido nem dele e nem de nenhum outro homem. Na verdade, eu nunca ansiei por ouví-las de nenhum outro homem com quem sai, mas com ele era diferente, com ele eu sonhei por essas palavras desde quando o vi pela primeira vez e não podia ser mais perfeito, no alto de uma montanha russa enferrujada com uma lua linda como testemunha.

– Não, nunca disse.

– Que falha a minha porque eu te amei desde a vez que a vi com a boca cheia de paella.

– Você é um idiota – eu gargalhei.

– Ei – ele segurou meu rosto com as duas mãos – Casa comigo?

Por um momento eu parei para processar aquelas palavras, ele estava me pedindo em casamento? Sério mesmo? A gente não tinha nem ido para cama ainda e ele estava me pedindo em casamento? As coisas estavam realmente muito modernas.

– Caso, caso e caso, pensei que nunca ia pedir.

– Espero que isso sirva – me entregou uma pequena caixa que tirou do bolso.

– Sério mesmo que comprou um anel?

– Eu sou das antigas, se esqueceu?

Enquanto ele colocava o delicado brilhante na minha mão direita, voltamos a girar e então eu tive certeza de que tudo não era um sonho, era real.

Descemos da roda gigante e o Otávio correu em nosso encontro.

– Você conseguiu, pai?

– Consegui graças a você – ele respondeu agachando para abraçá-lo – Obrigado pela ideia – agradeceu com uma piscada.

– Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – perguntei quando percebi que cai em uma armadilha porque todos sabiam menos eu.

– Simples – Otávio começou a explicar – Eu percebi que vocês se gostavam a muito muito tempo e percebi também que o papai tinha medo de me magoar então eu o chamei para uma conversa de homem para homem e disse que ele devia ser feliz, que não se preocupasse comigo porque eu gostava de você e da vovó Estela, e que devíamos ser uma família só. Como ele estava com medo de pedir você em casamento, eu o ajudei. Ele estava com a anel há dias mas não sabia como pedir, quando eu vi a roda gigante dei a ideia e ele gostou.

– Então Sr. Humberto, quer dizer que você colaborou com ideia de me deixar presa lá em cima e me matar do coração?

– Essa parte eu juro que não estava nos planos. Olhamos para o Otávio.
– Ops! - ele disse.
Todos rimos.

– Meus parabéns – disse dona Estela com os olhos cheio de lágrimas enquanto nos puxava para um abraço coletivo – A vovó Estela está muito feliz, ainda mais que virei avó hoje.

Minha mãe estava certa, havia sido a primeira vez que o Otávio a chamara de 'vovó', e ela havia adorado pelo sorriso que deu, todos percebemos.

– Será que podem me dar um minuto com ele? – perguntei pegando na mão do Otávio e me afastando para um banco a alguns metros.

– Você tem certeza que quer que seu papai e eu nos case- mos?

– Muita certeza.
– E o que o faz ter tanta certeza assim?
– O jeito que você olha para gente.
– E como eu olho para vocês?
– Não sei explicar, mas tenho certeza que é o jeito que a mamãe olharia se estivesse aqui.

Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto o abraçava e agradecia a Deus por ter colocado essa pessoinha linda na minha vida, que ajudou com que eu encontrasse meu caminho.

– Eu amo você, grande garoto. 

Algo Grandioso (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora