Capítulo 17 - Ceifador

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Ali estavam os homens que eram o pesadelo até mesmo dos vampiros. Os Vampiros Sombras. Não sabemos como, mas haviam nos seguido a cada passo que demos, e agora estavam bem a nossa frente.

O corpo dividido em dois de Leda estava caído a minha frente e podia sentir o rastro úmido das lágrimas em meu próprio rosto. Pelo canto dos olhos pude ver Pietro desabar sobre os próprios joelhos ao lado do corpo da irmã mais nova, sua expressão em puro choque.

O fogo nos cercava e sinceramente não via qualquer saída daquela armadilha. Parecia que enfim a minha morte havia me alcançado. Depois de escapar do ataque que vitimou toda minha família, de sobreviver à Torre, da perseguição do Conselho... tudo para morrer aqui. Teria sido mais fácil morrer logo no início.

Atrás de mim Dimitri dizia que Lucius era o homem que os havia atacado na mansão e eu sabia que quatro eram os que tinham me levado à Torre, dias antes. E acima disso, o arlequim era seu líder, provavelmente o pior de todos eles.

- Se não apagarem este fogo, vocês também irão morrer! – Dimitri tentava diminuir os nossos problemas.

Os cinco Sombras riram.

- Céus! Tem razão – Tilian dizia com um sarcasmo exagerado que fez gelar meu sangue. – Talvez seja melhor para nós que o fogo queime em outra direção.

Um sorriso doentio estava no rosto do arlequim preto e branco no momento em que ele girou a foice entre os dedos, em um arco completo, repetindo o movimento cada vez mais rápido e mais rápido até que o cabo da foice girasse tão rápido que produzisse vento o suficiente para inflamar as chamas ao nosso redor, e pior que isso, em nossa direção.

Para nos afastarmos das chamas a nossa frente, que avançavam levadas pelo vento provocado pela foice que girava rápida, todos demos um ou dois passos para trás, de forma instintiva, ignorando por um momento o fato de haver também fogo nos cercando por trás. Paola gritou ao ver seu vestido tocar o fogo e ameaçá-la.

- Eu não quero morrer queimada! Não quero morrer queimada!

Levada pelo desespero, Paola tentou se afastar do círculo de fogo e fez isso tentando correr para longe, mas tudo o que conseguiu foi cruzar pelo meio das chamas e seu vestido de cetim brilhante ser devorado violentamente pelo fogo em segundos. Os gritos da mulher eram agudos e cheios de dor enquanto o fogo a transformava em cinzas.

Donato tentou ir até a irmã, mas foi contido por Jacques e Adam antes de se lançar ao fogo. Tudo o que podíamos fazer era assistir, em choque, o fim de Paola, assim como não pudemos fazer nada por Leda.

Levou menos de um minuto até que a voz de Paola fosse silenciada pelo fogo e uma massa carbonizada ainda em chamas tombasse inerte nas águas de Veneza com um chiado tenebroso e fazendo elevar uma nuvem de fumaça escura.

- Menos duas – o arlequim ria. Não percebi quando, mas ele havia parado de girar a foice, e agora apoiava o próprio corpo contra o cabo. A lâmina reluzindo alta a cima da própria cabeça.

- Agora entendem? – A voz de Fausto era profunda e calma.

- Nenhum de vocês sairá daqui – Bardo justificava. – Desistam.

Tilian pulava de um lado a outro, rindo de uma forma insana. Era uma cena perturbadora e certamente traumática.

Ainda estava assustada com a insistência do Lorde Vampiro em dançar sem música, mas quando ele resolveu cantar, me sentia ainda mais desesperada. A voz de Tilian era bem grave, porém com um toque de suavidade.

Ele cantarolava. Uma melodia totalmente estranha aos meus ouvidos, porém parecia ser conhecida pelos vampiros.

- Essa música... – Jacques sussurrava.

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