Mas em questão de segundos, tudo mudou. A pouca paz que eu havia encontrado naquele lugar foi destruída. Meus olhos se encheram de água. Não havia ninguém por perto. Eu podia chorar. Por algum motivo, voltei a sentir as feridas em meu corpo. Até os batimentos do meu coração doíam. Não podia mais suportar a ideia de não ver mais Simon. Eu precisava dele. Não queria morrer. Não queria ficar longe dele. Minhas mãos estavam para trás e amarradas. Minhas pernas também estavam atadas à cadeira. Meus olhos permaneciam vendados e minha boca ainda era calada por um pedaço de pano. Mas eu precisava sair dali. Comecei a me debater. Mexia muito pouco o corpo, já que estava toda presa à cadeira, mas não conseguia mais parar de me movimentar. Precisava ver Simon. Comecei a mexer a boca para tentar tirar o pano. Ao mesmo tempo em que me mexia, comecei a ouvir um forte barulho vindo do lado de fora. De início, não consegui identificar o que era, mas depois de pouco tempo percebi que eram tiros. Ouvi muitos gritos também. Era ele. Eu sabia que era Simon. Fiquei desesperada. Me debati com tanta força que a cadeira virou. O pano saiu da minha boca, mas antes que eu pudesse gritar por socorro, gritei por desespero. Ouvi um tiro. Gritei com toda a voz que havia dentro de mim. E se tivesse sido Simon? E se eles o tivessem matado? Ouvi a porta abrir. Meus olhos ainda estavam vendados, por isso, não vi quem me pegou. Apenas senti alguém me desamarrar e me arrastar para o lado de fora da cabana. Comecei a gritar o nome de Simon. Sabia que ele estava lá. E, aí, para a minha surpresa, a pessoa que me segurava retirou a venda dos meus olhos. Acho que ele queria que eu visse Simon sofrendo. Procurei desesperada por ele. Mas havia outros corpos pelo chão. Estava tudo tão confuso. E, então, consegui encontrá-lo.
— Nãããããããããão!
Gritei. E continuei gritando. Não podia acreditar no que meus olhos viam. Simon havia levado um tiro na barriga e estava jogado no chão. Não sabia se estava morto. Dois homens estavam ao seu redor. Um deles me olhava e sorria. Então, Simon abriu os olhos e me achou. Senti um enorme alívio por ele estar vivo.
— Você precisa se levantar, Simon. Você precisa reagir. Eu não posso te perder...
Foram as únicas palavras que eu consegui gritar. Eles não nos entendiam. Não entendiam o idioma que falávamos. O homem que me segurava me sacudiu e disse alguma coisa. Talvez para eu me calar. Simon me olhava como se aquele fosse seu último suspiro. Como se aquela fosse a nossa última troca de olhares. Mas eu não podia perdê-lo. Não ele. Eu precisava fazer alguma coisa. Simon havia virado sua vida de cabeça para baixo só para me proteger. Eu não podia assistir à sua morte sem ao menos tentar alguma coisa. Vi que o homem que me segurava carregava uma faca na cintura. Num surto de coragem e loucura, peguei a faca e a encravei em seu peito. Ele caiu. Os dois homens que estavam perto de Simon vieram em minha direção, mas, antes que eles pudessem encostar em mim, Simon pegou uma arma que estava jogada no chão e atirou. Como ele era bom nisso. O primeiro homem, ele acertou na cabeça e o segundo nas costas. Os dois caíram, mas apenas um estava morto. Eu peguei a faca novamente e encravei na barriga daquele que ainda respirava. Várias vezes. Com dificuldade, Simon conseguiu se levantar e veio me tirar daquele surto de ódio. Ele me segurou pelo braço e me levantou.
— Chega, Annie. Ele já está morto. Ele está morto.
Eu larguei a faca e levei as mãos à cabeça. O sangue que molhava minhas mãos passou a molhar também o meu rosto. Era difícil acreditar que aquilo tudo estava mesmo acontecendo. Olhei aqueles corpos no chão e senti uma dor avassaladora. Simon se aproximou e colocou a mão em mim. Me virei para ele. Com uma das mãos, Simon segurava o ferimento em sua barriga. Nos olhamos por um tempo. Seu rosto continuava sério, com a mesma expressão de sempre. Eu queria abraçá-lo, dizer o quanto havia sofrido com a possibilidade de nunca mais vê-lo, mas não havia tempo. Também não era necessário. Conversávamos pelo olhar. Sem perder mais tempo, apoiei seu braço em meu ombro e fomos embora daquele lugar.
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ANNIE [Português]
RomanceEm um apartamento no Rio de Janeiro, uma jovem médica está prestes a ver sua vida terminar nas mãos de um assassino de aluguel. Não há o que ser feito, a não ser se entregar ao seu destino. Os olhos de Annie estão presos aos olhos de seu algoz. E, a...
Capítulo 7
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