Capítulo 6- Ele

Começar do início
                                    

–– Aqui estão as planilhas, senhor –– Carly entrou sorrindo
–– Obrigado...–– sorri malicioso

Carly abaixou o olhar corando até as pontas do cabelo.
–– Mais alguma coisa?–– Carly perguntou 
–– Ainda não –– fitei seu rosto –– mas você poderia jantar comigo hoje.

Ela piscou.
–– Eu... hã... não sei senhor. Moro longe.
––Você não precisa dormir em casa hoje. Minha casa tem bastante espaço–– provoquei

Ela corou e sorriu tímida mais uma vez, suas mãos tremiam e ela não conseguia falar mais de uma palavra sem gaguejar.
–– Tá.. tá bem –– ela disse sem olhar para mim
–– Mesmo? Não precisa ir...––Dei a chance dela escolher 
–– Eu adoraria –– respondeu ela rapidamente 
–– Então, tá bem –– sorri vitorioso

Era óbvio que não esperava uma resposta tão neutra da Srt. Allen. Voltei minha atenção para o trabalho tentando tirar esses pensamentos da minha cabeça.
Essa parte de mim, sempre sente vontade de investir em mulheres por um pequeno espaço de tempo, meu objetivo é fazê-las se apaixonarem; Paulo diz para mim que isso é errado, e ele é o único que sabe o por quê disso tudo.

No fim do dia, eu estava saindo da sala quando encontro com Safira no corredor. Ela tem um papel em mãos e nada de diferente passa por seu rosto. Era como se nada tivesse acontecido naquela sala, como se não tivéssemos insinuado nada um para o outro.
––Aqui está meu endereço ––ela entregou o papel a mim
–– Ah, sim...–– guardei o papel no bolso –– Vou buscar-lhe às 20h.
–– Tá bem –– ela assentiu 
–– Vai de carona hoje?–– perguntei 
–– Vou encontrar com uma amiga–– ela disse –– ainda não vou pra casa.
––Então, nos vemos amanhã às 20h–– falei 
–– Não preciso trabalhar amanhã?–– ela perguntou 
–– Eu trabalho em casa nos fins de semana –– pus as mãos no bolso
–– Ah. Entendi –– sorriu –– então tente não perder nada no seu computador.

Ela riu e saiu andando.
–– Vou tentar –– fui atrás dela 
–– Bom, então, até amanhã, Senhor –– ela acenou inocente e caminhou até a saída.
Fiquei parado olhando ela ir, tentando me convencer de que ela me tratava como um chefe, e de que não fazia idéia das minhas investidas nela.

Cheguei em casa às 18h45min, podia sentir o cheiro do jantar sendo preparado, dos produtos de limpeza que foram passados na casa.
–– Margô?–– Chamei

Ela surgiu da sala com um sorriso materno no rosto.
–– Olá, querido –– ela veio pegar meu paletó –– como foi seu dia?
–– Bem. E aqui?
–– Tudo bem–– ela disse ––seu amigo Paulo está vindo aqui.
–– Ah? Por quê?
–– Ele não disse –– Margô foi para a cozinha

Paulo chegou às 19h30 e ele parecia feliz. Levei ele para minha sala de eletrônicos onde ficamos mais à vontade.
–– Fiquei surpreso com sua visita –– afirmei 
–– Cláudia foi passear com uma amiga ––Paulo deu de ombros –– achei que podia te ver, já que você não sai nunca.
–– Eu saí ––defendi
–– Raridade––ele acusou
–– Excessão –– corrigi
–– Tá, que seja. E você não arranjou ninguém para namorar? –– Paulo se deitou no sofá 
–– Quantas vezes tenho que dizer que não sinto vontade de foder com a minha vida. O quê um namoro pode me oferecer?
–– Companhia... –– ele citou –– Risos. Felicidade.
–– Felicidade? ––gargalhei –– Muito feliz o quê houve com o meu pai né?
–– Você não tem que se vingar por ele, Nicholas! Quantas vezes tenho que dizer?
–– Meu pai morreu por amor –– trinquei os dentes –– Esse sentimento pode ser tudo, menos bom.
–– Você precisa largar disso –– Paulo bufou –– Ainda vai se machucar com seu próprio jogo.
–– Não faço nada para mim –– sorri
–– Mas faz para os outros. Mulheres. Cara, isso é horrível. Acha legal fazer elas sofrerem?
–– Não é pra ser legal! –– olhei para ele
–– Nicholas, se você não quer namorar, tudo bem. Mas para de fazer garotas te amarem para que você as largue depois.
–– Não obrigo elas a me amar–– olhei para minha janela tentando não me abalar com suas palavras 
–– Você ainda vai magoar alguém que vai te fazer ver o quão horrível é o que você faz. ––Paulo disse

Olhei para ele vendo certeza em seu olhar.
–– Paulo, eu só fico com mulheres por pouco tempo, se elas se apaixonam, isso não é culpa minha –– dei de ombros –– não vou ficar com elas só porque elas dizem me amar.
–– Tá certo, mas você não sente vontade de encontrar a garota certa? –– ele perguntou 
–– Não existe garota certa ––afirmei
–– Tá, eu desisto –– Paulo revirou os olhos ––Você já tem uma nova assistente que está planejando fazer isso?
–– Já...–– sorri –– só que ela não é como eu esperava.
–– Como assim?
–– Ela reage de forma diferente. Não fica intimidada, nem tímida. Ela é...divertida.
–– Que legal...–– Paulo riu ––quem sabe ela não caia na sua teia.
–– Como disse, eu não obrigo ninguém.
–– Espero que você encontre alguém que te mostre o quê o amor é realmente ––Paulo desejou e virou o rosto

Eu sei o que é o amor...
Lembrei do dia em que acordei e a casa estava em completo silêncio. Foi o dia que eu vi o que o amor faz.
Pisquei não querendo reviver essas lembranças agora.
–– Vamos sair amanhã? –– Paulo convidou 
–– Não posso –– dispensei ––tenho um evento de negócios para ir.
––Ah. Claro –– ele bufou
–– Afinal, tenho coisas para fazer agora–– disse
–– Está me expulsando?
–– Não...- revirei meus olhos
–– Tá. Tenho que ir buscar Cláudia e a amiga dela no shopping mesmo –– Paulo se levantou. –– te vejo outro dia.
–– Tá. Até mais, Paulo –– acompanhei ele de forma educada

Quando ele se foi, eu pude jantar. A sala de jantar em completo silêncio, vazia, apenas com a minha presença ali. Me servi e comi silenciosamente.

O Chefe e a EstagiáriaOnde histórias criam vida. Descubra agora