O Bosque dos Ipês

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Antes mesmo de abrir os olhos ela já sabia onde estava. O frescor do vento lhe trazia o cheiro de rosas e o ar parecia puro como se pertencesse a um lugar onde a poluição fosse inexistente! Como sempre, todos os seus sentidos estavam em alertas e cada fibra do seu ser vibrava em resposta a qualquer mero estímulo do lugar em que se encontrava. Com um longo suspiro, Nynna permitiu que suas pálpebras se abrissem e piscou repetidas vezes, acostumando-se a claridade e aos pequenos raios de sol.

Mais uma vez ela estava ali, no "Bosque dos Ipês"... No seu Bosque dos Ipês. Era assim que se sentia... como se aquele pequeno pedaço do paraíso pertencesse a ela e não o contrário. Acima de si estava à copa do grande e majestoso ipê amarelo, completamente florido, permitindo que apenas alguns tímidos raios de luz perfurassem seu belo mando e tocasse sua pele.

Sem pressa, sabendo que ainda estava sozinha, permaneceu deitada sobre a grama macia e observou os raios de sol brincar entre os buquês naturais do ipê. Sem vontade de se mover ou mesmo sair dali, ela voltou a fechar os olhos, apreciando o vento suave e fresco que parecia envolver todo o seu corpo e assim ficou por longos minutos que não se importou em contar... Até que sentiu algo frio tocar sua pele e franziu o cenho.

"Está chuviscando de novo?" – ela abriu os olhos e sua expressão mostrava bem toda a sua contrariedade.

A copa do ipê a protegia, de modo que apenas uma gota ou outra caía sobre si e um leve sereno a deixava ciente da chuva fina. Então a brisa lhe trouxe aquele perfume quente e amadeirado, que ela tanto conhecia! Em movimentos lentos, Nynna se sentou e respirou fundo, embriagando-se naquele aroma por alguns instantes antes de se levantar e sentir o tecido acetinado deslizar por sua pele.

Sempre que estava no Bosque de Ipês, um lindo vestido branco com algumas partes em vermelho escuro, todo decorado, adornava-lhe o corpo. Ele a fazia parecer uma princesa ou uma milady de uma corte real, com o corpete detalhado, as mangas longas e a saia que se arrastava quando ela andava. Seus cabelos ruivos estavam presos em um coque baixo e apenas alguns fios se mantinham soltos, caindo em seus ombros e costas.

Quando aquele perfume pareceu mais forte, Nynna olhou para o lado direito e se virou, seguindo aquela direção em passos morosos. Sentia a grama macia sob seus pés descalços e a fria brisa, mas aquilo não a incomodava, embora a deixasse em alerta.

Aquele bosque era realmente lindo, em especial pela diversidade de ipês! Havia de todas as cores: rosa, roxo, branco e os mais altos, que eram os de cor amarela... E todos floridos ao mesmo tempo, desde o menor ao maior! Isso a fascinava, principalmente porque sempre quis ter um ipê em sua casa, mas não havia espaço suficiente para plantar uma árvore como aquela. Protegida pelos cachos de flores, Nynna continuou sua caminhada a um destino desconhecido, mas isso não a deixava com medo, pelo contrário, naquele bosque se sentia totalmente segura. O cheiro de terra molhada a agradava, mas o perfume amadeirado ainda se sobressaía e a guiava de encontro a ele.

Desde a primeira vez que o viu, sua vida mudou e ela não tinha absoluta certeza se foi para a melhor. O mundo não era o que ela achou que fosse... As cortinas se abriram, revelando todo um lado sobrenatural que se escondia nas sombras, guiando a sociedade e além dele, havia também um espiritual, celestial, muito superior a qualquer humano... E agora ela estava no meio disse tudo! Não porque queria e sim por ser arrastada para o centro do palco contra a própria vontade.

Aos poucos ela notou um pequeno ponto escuro em "seu jardim" e soube que ele estava lá. Aproximou-se sem pressa desta vez, reparando no manto branco que o cobria, o capuz novamente escondendo parte de seu rosto... e os olhos que ela sempre gostava ver. Desta vez ele estava recostado ao tronco de um frondoso ipê rosa e não lhe passou despercebido que aquela região era diferente do resto do bosque, em um tom levemente avermelhado como se o céu estivesse em um tom de pôr do sol e naquele pequeno ponto do paraíso, e apenas nele, o entardecer tivesse chegado.

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