Um garoto num internato de meninas

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Lena

  Foi numa tarde de verão que minha mãe disse que eu iria para um internato em Nova York. Era a terceira vez que eu mudava de escola só naquele ano — eu mudava de escolas mais do que de roupas —, eu estava tão chateada com isso. Ficar longe de minha mãe? Nem pensar! Ela era meu porto seguro, onde eu me aconchegava e me acalmava. Ela havia me dito que era para o meu bem. Claro! As mães sempre dizem isso. O chato era que não teria nenhum garoto lá para eu gostar, já quer era um internato só de meninas. Mas eu nem deveria pensar nisso, já que eu tinha que me focar em estudar ou iria reprovar de ano. O que dificultava mais ainda, era meu TDAH e minha dislexia.
Me sentei na minha cama de casal, e suspirei. Estava cansada de ter que arrumar minha mala, já que teria que ir para o internato no dia seguinte. Não sei como todas minhas roupas couberam dentro de uma minúscula mala, acho que deve ter sido porque eu pulei em cima várias vezes, até fechar.
— Lena, tem certeza que não vai levar sua guitarra? — perguntou minha mãe. Neguei com a cabeça.
— Acho melhor não, porque provavelmente não vou poder tocar mesmo — sorri. Ela limpou a mão num pano de prato que estava segurando, e veio na minha direção. Me abraçou e fiquei mais calma.
— Não se estresse, minha filha — falou mamãe. — Eu já te disse, isso vai ser o melhor para você.
— Só que eu não quero ficar longe de você, mamãe! — falei. Meus olhos estavam lacrimejados.
— Não vai ser para sempre, meu anjo — disse com sua calmaria extraordinária — se tudo der certo, logo você vai frequentar um colégio aqui em Boston — falou e me soltou. Assenti, já sabendo que isso iria demorar muito para acontecer. — Mas por ora, estou fazendo seu bolo preferido — sorriu. Eu pulei da cama e fui até a cozinha com ela ao meu lado.

Depois de ter comido vários pedaços do enorme bolo de chocolate que minha mãe fez, eu fui descansar um pouco em meu quarto — já que eu não o veria por muito, mas MUITO tempo mesmo. Fiquei deitada na cama olhando para o teto. Resolvi tocar um pouco de guitarra, então saí de minha cama e fui pega-la ao lado de meu guarda-roupa. Minha guitarra era uma Stratocaster preta.
Me sentei na minha cama e comecei a tocar uma melodia que havia composto. Ah, como eu amava aquela guitarra. Escutei um barulho. Olhei para o teto e já sabia o que era. Ou melhor, quem era. A senhora Thompson que morava no apartamento de cima, odiava quando eu tocava guitarra. E então ela ficava chutando o chão para eu parar. Desisti de tocar e me deitei na cama.

Olhei em volta e vi um lugar escuro, úmido. Por mais que estivesse escuro, eu conseguia enxergar boa parte do local. Tinha algumas pedras grandes, e tudo estava empoeirado, como se ninguém limpasse a séculos. Uma gargalhada horrenda fez com que o chão tremesse um pouco. Um homem alto e com roupas pretas, se aproximou. Ele passou reto ao meu lado. Aparentemente, ele não conseguia me ver, e se conseguia, estava me ignorando.
— Tem certeza disso, senhor? — perguntou alguém. Não consegui distinguir se era uma mulher ou um homem falando, já que parecia mais um animal falando.
— Tenho. É claro que vai dar certo! Ele que quebrou nossa promessa, e isso vai chamar a atenção dele, já que ele sempre gostou daquela mulher — disse o homem ao meu lado. Tentei me virar para poder encara-lo mas não consegui. — Coloque esse plano em ação o mais rápido possível.
— Sim senhor — e de repente minha visão ficou preta.

Acordei atordoada com o sonho, e me perguntei quando foi que havia dormido. Passei as mãos pelos olhos, e olhei no meu relógio de cabeceira. Estava marcando seis e meia da manhã. Estranhei. Já tinha amanhecido? Por quanto tempo eu havia dormido? Levantei da minha cama e fui direto para o banheiro. Me arrumei e fui procurar minha mãe pelo apartamento. Encontrei-a sentada no sofá assistindo televisão enquanto tomava café.
— Bom dia mãe — falei e sentei na ponta do sofá.
— Bom dia — ela olhou para mim de cima a baixo — você não vai com essa roupa, não é? — perguntou.
— Vou, por quê? — perguntei confusa olhando minha roupa.
— Vá trocar de roupa, não vou deixar você sair com essa roupa rasgada — falou séria. Olhei novamente para minha roupa. Eu estava vestindo uma camiseta sem mangas e rasgada nas laterais, minha calça jeans era clara e também rasgada nos joelhos. Calçava um all star preto sujo e velho, e claro que não podia faltar minha velha companheira, minha jaqueta de couro.
— Mãe! Eu não estou tentando agradar ninguém — reclamei. Ela revirou os olhos. Logo mais uma discussão sobre minhas roupas começou.
— Você está certíssima — falou. — Mas só precisa agradar a mim.
— Por favor, mamãe — pedi. Ela não resistia quando eu lhe chamava assim. Ela assentiu e eu sorri. Dei um abraço e um beijo estalado em sua bochecha.
— Vamos logo, se não você vai perder o trem. — Nos levantamos. Ela foi colocar a xícara na cozinha e eu fui pegar minha mala — nada leve — em meu quarto. Fiz carinho no Bayron, meu cachorro preto da raça Terra-nova. Ele era enorme!
Saímos do apartamento, e descemos a escada. Bem, minha mãe desceu. Eu fiquei presa nos degraus por conta da mala ser pesada. Depois de muito esforço, consegui descer. Ela parou um táxi que estava passando na rua e nós entramos. Seguimos até a estação ferroviária de Boston, e lá nos despedimos. Minha mãe chorou, beijou minha bochecha milhares de vezes e me abraçou durante uns cinco minutos. Ela me deu a passagem de ida e eu embarquei. Seriam três — talvez quatro — longas horas de viagem.

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⏰ Terakhir diperbarui: Oct 17, 2016 ⏰

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