22. Apreensão

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- Sério? Mas o que ele tem de tão importante para ter que falar com todos de uma vez? - perguntei, sentindo uma pequena parte de mim, temer a resposta.

- É um almoço de comemoração ao nosso compromisso, a família dele vai estar também.

- Ah sim. - eu assenti, olhando para nenhum local especifíco, apenas tentando não encarar mamãe.

- Julie? - ela me chamou. - Você tá bem?

- Eu não sei exatamente o que estou sentindo, mãe. Mas eu estou feliz por você.

Ela pôs a almofada que estava en suas pernas de lado e se aproximou de mim com um olhar compreensivo.

- Você não está a vontade com esse almoço não é?

- Não é isso, mãe. É só porque hoje foi um dia difícil. Eu juro de mindinho que estou feliz pela senhora! - falei, esboçando meu melhor sorriso. - Só preciso dormir. - falei, dando um abraço rápido nela.

- Tudo bem. Boa noite, Julie.

~~*~~

Eu não podia dizer à minha mãe que estava apreensiva porque ela iria casar de novo, eu sei que ela não falou isso, mas tenho certeza que o Aldo vai querer casar com ela logo, esse almoço com a família dos dois gritava isso na minha cara.

Deitei na cama, depois de vestir meu pijama e segurei o porta-retrato com a foto de papai junto ao meu coração.

- Eu sinto muito a sua falta, papai. - eu falei.

Senti as lágrimas molhando meu rosto pela milésima vez só naquele dia. Eu estava emotiva demais, talvez fosse a proximidade do meio do ano, que me trazia péssimas lembranças, o acidente, a morte do meu pai... E Alex. Por mais que eu estivesse seguindo a vida era difícil esquecer completamente. Eu ainda sentia falta do meu pai. Se eu não tivesse prova de matemática pra fazer naquela sexta-feira, poderíamos ter ido todos juntos, e papai ainda estaria aqui comigo...

Antes de dormir ainda pensei muito sobre mamãe e Aldo, meu irmão não iria aceitar tão cedo esse namoro, e com certeza só viria a esse almoço arrastado pela vovó, o que não era muito difícil de acontecer. Fiz uma oração e dormi a noite inteira, quase perdendo o horário da aula.

~~*~~

Na hora do intervalo Nadine e eu conversamos sobre o grupo de apoio.

- Julie, as meninas estão querendo se reunir hoje a noite, numa lanchonete. Você pode ir?

- Posso sim, e quem vai ficar com a Martha? - questionei.

- Na verdade ela não está querendo receber nenhuma de nós. Fiquei sabendo pela Poliana que os vizinhos entraram em contato com a mãe dela, ela deve chegar na cidade no fim de semana.

Eu suspirei, tentando me convencer a não ir no hospital fazer companhia pra Martha, não estava conseguindo entender como tiveram a brilhante ideia de chamar a mãe, que a expulsou de casa depois da garota ter sido violentada pelo pai, pra ficar com ela no hospital. Como é que Martha lidaria com isso?

- Quero saber como vai ser o reencontro das duas. Elas não se veêm a anos. - falei, tomando um gole gigantesco do meu suco de cajá.

Entrega (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora