- Tudo bem. Podemos ir buscar o notebook, ou eu tenho que esperar você ir? Não costumo ficar parada por muito tempo, sofro de ansiedade.

Mais uma característica para a minha lista de conhecimentos sobre ela. Era tão transparente que daqui um tempo essa lista ficaria imensa. Não se pode esconder as coisas quando a sua verdadeira natureza é totalmente o contrário.

- Vamos juntos. Tenho que te apresentar para toda a equipe.

Já aproveitaria e faria tudo de uma vez. Pelo menos essa parte burocrática estaria encerrada. A deixaria no setor pessoal depois para já acertar os trâmites e tudo o mais.

Ela se sairia bem, melhor que muitas pessoas que passaram pelo lugar dela, isso eu tinha certeza. Não era o tipo de mulher que desistia de uma guerra sem ter antes uma boa luta, do tipo que sabe que seu sucesso depende unicamente e exclusivamente de si mesma.

Ninguém é capaz de transformar nossos sonhos em realidade e ela sabia. Sabia que para conseguir algo na vida precisava lutar e era esse tipo de coisa que me deixava fascinado em mulheres como ela. A habilidade de superar obstáculos que todos julgariam impossíveis.

Apenas tolos subestimariam o poder de uma mulher. E eu não era um.

Chamei-a para me acompanhar e senti sua presença em cada maldito poro do meu corpo. Era algo totalmente invisível, mas que tinha um peso colossal sobre a minha cabeça.

- Quer um café?

Os empregados inferiores infelizmente não tinham todos os direitos do que os que estavam nas salas com ar condicionado, a frente de um computador, responsáveis pelas finanças e demais serviços burocráticos. O que era injusto, até demais, mas eu iria resolver isso o quanto antes. Eram funcionários da mesma forma e deveriam ter direito a uma simples máquina de café expresso.

Aquilo era pouco pra mim, mas pra eles poderia até não ser. Tinha um lema que funcionários felizes trabalhavam mais e com muito mais zelo. Estava mais do que certo. Porque com o salário justo que eu pagava, a maioria não ficava descontente. Mas alguns direitos a mais poderiam deixá-los ainda mais felizes em trabalhar ali. O que ajudaria bastante a moral do hotel.

Se até mesmo os empregados falavam bem, para os hóspedes fazerem o mesmo seria apenas uma resposta ao bom tratamento. Porque todos seriam tratados com cordialidade e não teriam motivos para reclamar.

Uma coisa levava a outra, simples assim. Não precisava ser um chefe temido para que as coisas evoluíssem, bastava apenas ser alguém respeitado.

- Não, obrigada.

Ela não aceitou por causa do medo em não saber fazer, tinha certeza. E foi por isso que me ofereci em fazer, nada mais. Sentir algo por essa mulher seria idiotice. Já estava com muita carga emocional na minha vida, não precisava de mais uma complicação. Até porque ainda tinha a Lara, que eu nem havia superado. Nem sabia se um dia superaria.

Passei muitos anos amando somente uma mulher e não sabia como faria para viver sem esse sentimento em mim. Parecia que era algo fixo no meu peito, que se eu tirasse, morreria na mesma hora. Não sei se era maluquice afirmar algo do tipo, mas era o que eu tinha a impressão.

Fiz seu café e percebi quando as suas bochechas avermelharam, devido ao contato da nossa pele. Agora estava confirmado, eu causava embaraço nela. O que era engraçado, porque eu me sentia bem ao seu lado. Sentia como se as coisas pudessem melhorar.

Ela bebeu o líquido quente, olhando de lado para mim. Se ela não fosse tão ingênua, apostaria que estava tentando me prender em curiosidade. Mas ela não era assim. Nem um pouco manipuladora, como muitas das mulheres com as quais tive a infelicidade de sair.

Esperei que ela terminasse completamente e prosseguimos com a sua apresentação. Uma boa parte da manhã já tinha se passado e eu não havia feito nada de útil com o meu tempo. Nenhuma questão prenderia minha atenção tanto quanto ela.

Chegamos no setor responsável pelos computadores e avisei o supervisor para que buscasse a pequena máquina. Vi quando ele ligou, testou para verificar se estava ligando e abrindo as demais tarefas, trazendo-nos logo a seguir para que Eva configurasse seu login na rede. Ela ainda não tinha e-mail empresarial, o que dificultava um pouco. Mas os especialistas estavam ali para exatamente aquilo e rapidamente criaram seu e-mail, assim como configuraram as contas no notebook. Ela agora teria uma forma de contato imediato e eu torcia internamente para não cair na tentação de ficar mandando mensagens eróticas para ela. Seria muita cafajestagem.

Pior ainda era saber que o e-mail seria simples, seu nome completo e logo depois o padrão da empresa. Nada bom... Fácil de memorizar.

- Eu vou precisar levar para casa?

Vi o medo passar nos seus olhos e não imaginava o que o teria causado. Qual era seu receio, mas eu queria descobrir, queria desvendar todos os seus segredos e saber a maioria dos seus medos.

Que coisa idiota de pensar.

- Só se precisar para terminar alguma coisa. Mas não é mesmo obrigatório, você pode deixá-lo na sua sala, até porque não gosto dos funcionários utilizando seu tempo livre para o trabalho. Quando acontece, eu pago horas extras, mas ainda sim, sinto como se fosse errado.

- Entendo.

Ela o deixaria ali, tinha essa opção e eu percebi que levar coisas daqui para sua casa a incomodava e não deixaria que fizesse algo pelo qual se sentiria mal depois.

- Por hoje é isso, Eva. Tenho que verificar quem ficará responsável pelo seu treinamento. E dessa vez, espero não errar.

Recebi um sorriso fraco em resposta, somente aumentando o meu empenho em encontrar alguém à sua altura para ensinar os ossos do ofício. Nada era fácil no começo, mas ela se daria muito bem. Se dispusesse de metade da sua força, já seria a melhor.

- Só isso?

- Por enquanto... Se quiser verificar como está a sua futura equipe sinta-se a vontade. Sei que já conhece a maioria, mas ainda assim é bom se apresentar e falar os seus ideais, para que eles já tenham o que esperar quando assumir o cargo.

- Claro.

Ninguém reclamaria dela, porque aquele olhar não era de alguém que pisaria nos outros para se sair bem. Ela tinha sua própria luz e faria bom uso dela.

Deixei-a sozinha antes que fizesse algo do qual me arrependeria e amaldiçoei os sete infernos por me sentir um garoto quando ela estava perto. 

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