Terminei meu almoço sozinha, rapidamente. Dispensei a sobremesa e quinze minutos mais tarde estava no quarto novamente.

Escolhi para passar o tempo meu caderno de desenhos. Havia tempo que eu não pintava alguma coisa, e, dado o meu estado emocional, eu me surpreendi quando os traços foram mais do que rabiscos fortes.

Quando reparei, eu estava desenhado um par de olhos. Suas sobrancelhas eram grossas, mas contrastava com seu olhar leve. Eu podia dizer que, apesar do restante do rosto não estar ali, ele estava sorrindo. Me passava confiança. Segurança.

Fiz pequenas sardas na linha em direção ao nariz e quando me dei conta de que havia pegado o lápis marrom para colorir, eu dei risada, sentindo meu rosto corar. Aquele era o olhar de Andrew nos últimos tempos. Era como eu o via nos últimos dias.

Balancei a cabeça, me dando como desculpa para deixar aquilo de lado que já estava na hora de ir me arrumar.

Tomei um dos banhos mais demorados da minha vida, tentando pensar em alguma roupa para me vestir, em como seria a tarde no parque, em qualquer coisa que não fossem os olhos de Andrew.

Juntei na pequena bolsa meu dinheiro, celular, e desci as escadas rapidamente enquanto ajeitava meu casaco no corpo. Andrew estava no sofá, jogando algo no celular.

Ele se levantou no momento que me viu e sorriu, seguindo para a porta. Eu o acompanhei rapidamente, em seguida me ajeitando em seu carro no banco do carona.

-Ainda acho que poderíamos estar assistindo Harry Potter. – balançou a cabeça em negativa. Eu ri ainda mais, batendo em seu braço com o ombro.

-Estou ansiosa para conhecer os pombos daqui. Anda logo! – brinquei.

Andrew acelerou em meio a uma pequena risada.

Quando senti o carro em movimento, soltei um pequeno suspiro de alivio. Eu me sentia bem em sair de casa, como se, de algum modo, deixasse ali toda a tristeza e saíssem em busca de um recomeço melhor para mim, mesmo que durasse só algumas horas.

Andrew deixou que eu escolhesse a música que ouviríamos. Escutamos Alessia Cara e Shawn Mendes durante todo o percurso, ele nem mesmo reclamou.

-Temos que ir para tão longe assim? – resmunguei me ajeitando no banco. Já estávamos na estrada a cerca de quarenta minutos, o sol começava a se pôr, e eu não conseguia mais conter a curiosidade (e as câimbras).

Andrew deu de ombros e assentiu.

-Foi você quem escolheu os pombos... – lembrou.

Deixei escapar uma risada, aceitando sua resposta.

Andrew e eu chegamos a mais uma parte da cidade que eu não conhecia, porém, me encantei rapidamente. Era um parque a céu aberto.

Foi impossível conter a surpresa e minha boca que se escancarou imediatamente.

Ele não esperava minha reação. Quando o carro estacionou e seus olhos finalmente caíram em mim, ele pareceu assustado com meu reflexo tão espontâneo.

-Você me trouxe a um parque! Eu nunca vim a um parque! – comemorei.

Eu sentia meus olhos brilharem ao admirar todas as luzes e os brinquedos coloridos. Eu me sentia como uma criança ao olhar tudo aquilo de pertinho pelo vidro fumê do carro.

Andrew deu risada e saltou do carro. Eu o acompanhei rapidamente.

Quando finalmente assisti a tudo aquilo sem vidro no meio, eu senti meus olhos marejarem. Precisei cobrir os lábios que insistiam em tremer para que o choro não explodisse.

O atraso certo (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora