Há anos eu não como isso, fiquei olhando por tanto tempo que a minha boca salivou, como se eu fosse aqueles cachorros que babam em frangos nas esquinas de Stratford.

Comi tudo devagar. Degustei cada pedacinho dos doces e salgados, percebi o quanto isso me faz falta e, que a visita do meu pai veio em hora certa.

É… eu pedi distância daquela psicóloga, mas ela me trouxe meu pai, com certeza o convenceu em vir me ver, quero vê-la - não só os peitos -, preciso agradecer Sarah de joelhos. A persistência petulante dela me deu um dia maravilhoso e, eu a tratei mal na nossa última conversa, pedi pra ela ficar uma semana sem vir por ter tocado naquele assunto. Não gosto de falar os detalhes que houve por trás do julgamento - que foi exibido para Deus e o mundo ver -, e, apesar disso, ninguém sabe o motivo da minha pena ter porcentagem em réu secundário, na verdade, é algo complicado de se explicar.

Terminei de comer e peguei a sacola, vendo sabonetes, giletes e um pacote com cuecas novas ( o que é ótimo, pois quando eu não estou sem cueca, estou com alguma cheia de rasgos).

Fui até o chuveiro e abri, vendo que em dois minutos ele não esquentou.

Não estou com a lâmpada queimada, tiraram a energia da minha cela e, uma coisa é certa : Tem dedo do Yale nisso.

Tentei não me estressar e tomei um banho longo.  Mesmo com a água fria, a sensação do sabonete novo passando pelo meu corpo me fez lembrar do cheiro da casa do meu pai, e, com os doces cheirosos que Erin preparou, ficou ainda mais familiar.

Isso me fez recordar de quando eu passava dias e mais dias com o meu pai, não suportava Nicholas, então eu saía da faculdade de música e ia direto para a casa do Jeremy, ficava horas brincando com meus irmãos e depois, eu dormia na sala dentro das cabanas que nós fazíamos. Eram bons tempos, até que minha situação com minha mãe e com Nicholas me tiraram do controle. Eu ia morar no campus, mas meu descontrole falou mais alto e eu coloquei tudo à perder.

Não me arrependo e nunca vou me arrepender, disso eu tenho certeza.

Minha mãe, após o divórcio com Jeremy, muito diferente do mesmo, não continuou a mesma de sempre com a chegada do novo marido, ela mudou totalmente, me tratava como qualquer coisa. Era Deus no céu e Nicholas na Terra, mas não, eu não matei o infeliz por ciúmes, foi muito além de provocações direcionadas à mim, o que eu não faço questão de lembrar.

Depois do meu banho frio e estar de barriga cheia, vesti a roupa velha laranja fluorescente e me deitei.

Eu queria ter visto Sarah hoje, bom, eu à vi no pátio mais cedo, mas eu quero conversar com ela, entretanto, tenho certeza que ela não irá aparecer pelos próximos dias.

                                   (...)

                                            Sarah Montserrat

- Você devia ir, de verdade, desde a gravidez da Sun você não sai.

Olhei para Madeline e neguei com a cabeça, cobrindo minha filha em sua cama.

- Sou mãe, esqueceu? - falei e saí do quarto, apagando a luz.

Madeline veio atrás, ainda com a ideia absurda de me fazer ir para uma boate ou algum bar com uns velhos amigos da faculdade.

- É mãe, não uma vovó de noventa e nove anos - insistiu.

- Eu não gosto muito de ir a festas e você sabe o motivo.

Ela riu e revirou os olhos.

- Você precisa de um psicólogo - minha amiga se sentou no sofá e apontou um para balde de pipocas - não, um psiquiatra, isso aí, é disso que você precisa, Sah.

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