Suzi Ohana - Parte II

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Credelize foi uma das meninas, conheci ela na zona mesmo, ou melhor, no bar do "baldinho vermelho" onde ela trabalhava, tadinha. Paguei o programa na primeira vez, outro dia paguei umas cervejas e o programa foi de graça. De graça, o cacete, uhh cerva mais cara.

Ela pedia:

— Valdizão, paga um "quépi"... — Outra cacetada, esse tal de Keep Cooler, me dava azia quando eu pagava.

Ela era gente boa, menina que sonha ou pelo menos diz que sonha em ter uma vida diferente e não deu outra, nos grudamos por uns anos, só pra eu descobrir que ela tinha um vagabundo que continuava "mamando" e esquentando minha havaiana. O safado visitava o barraco do negão quando eu tava amarrando estribo de ferro com o sol na moleira.

Ah meu Deus do céu, isso é "castiguis".

Jurei que nunca mais ia me amarrar numa coisa dessas e consegui me manter firme por anos. Numa das pagodeiras com o grupo de samba onde toco cavaquinho para ganhar uns extras, minha promessa começou a ir pelo ralo. Ainda mais Carnaval na "boite", numa dessas meio cheia de saliências e coisa e tal.

A esposa do antigo músico que eu substituí, ameaçou de separar dele quando o bocó falou pra ela que o nome do bar era: Bar Gatas e Panteras... depois ameaçou de levar as crianças embora e nada... Então o Joaquim contou que foi ameaçado de ser castrado quando dormisse e fiquei com a vaga dele.

Eu já tinha me juntado, separado, namorado, quase casado e nada dava certo. Não que eu não gostasse mais de mulheres, eu não me firmava com nenhuma. Sou homem que precisa de uma gata dengosa pra fazer carinho, chama-la de pretinha, ouvir ela miando no meu ouvido, me chamando de negão, de Valdizão...

Foi nessa "boite" mais ou menos, onde tocamos dois carnavais, que conheci uma gostosinha. Saquei que era daquelas bem possessivas só pelo jeito de me encarar. Eu toquei o baile todo, de barraca armada.

A moleca bunduda era uma negrinha do cabelo afro alisado, bonita de rosto, meio gordinha na cintura, mas nada que não desse ainda mais vontade de apertar aquela safada. Nós marcamos um encontro só nos olhares.

Final de noite, que acontece lá pelas cinco da matina, ela ficou esperando e eu cuidando, já preocupado que os colegas dessem em cima, eu peguei o cachê e grudei o braço dela. Quando subiu na moto e me agarrou na cintura, veio aquele perfume doce e fez uma festa nas minhas "ideias".

Eu morava de aluguel numa edícula, aqueles quarto/sala e era só o que precisava para namorar a gostosa.

Achei que ela era muda porque não falava, então pergunto:

— Ei gata, como é seu nome, linda?

— Suzi Ohana.

Opa, que voz é essa? Pomo de adão? Peitos? Ué, não tem.

— Você é um traveco? — Ah tá, eu sei que saiu pesada a pergunta, mas tomei um susto. Coitadinha não respondeu e começou a chorar. Ai, eu fico mal quando alguém chora e fiquei sem ação porque tava com receio de abraçar o cara.

— É, sou.

— Oh boneca não chora, olha desculpa o jeito de perguntar, mas tomei um "220 volts", nega. Eu te levo em casa, fica chorando não.

Não adiantou falar porque ele ou ela, ela então, só chorava e fiquei com mais dó. Ofereci um copo de água com açúcar, depois uma aspirina, porque ela chorou tanto que a cabeça começou a doer e como já era de manhã, convidei pra tomar café de uma vez. Tinha pão, margarina, mortadela, café fresco e leite. Quem precisa mais que isso?

— Olha Suzi, foi grosseria minha naquela hora, mas vamos combinar que você me pegou desprevenido.

— Desculpa, eu não queria... eu achei que tinha percebido, porque me olhou a noite toda.

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