Reunindo a Trupe

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— Humpf! Nem te conto! Aquele curta deu o maior boró… — Deu um tapinha em meus braços cruzados, logo voltando seus dedos à cintura. — Fui com um contrato para o papel, mas quando cheguei no set, eu era a figurante, acredita? A droga de uma figurante! E a grana, não dava nem a metade do que eu tinha pensado, lógico. Até que tentei conversar né, mas quando aquele diretorzinho de merda disse que se eu quisesse, seria só a figurante, ah, mas não deu certo. — Fez sinal de "não" com o dedo. — Aí, você me conhece, armei o maior barraco, rodei a baiana e tudo que tava perto. No final, fui só a figurante mesmo… Espera! Eu ainda não terminei! — Antes que começássemos a rir, ela nos interrompeu. — Fui só uma figurante, mas aumentaram o salário! — Se curvou como no fim de uma apresentação, aguardando aplausos; até recebeu alguns de Sofia. — Elas foram me buscar no aeroporto agorinha, qual é, ainda nem deu tempo de avisar! Fiquei morrendo de saudade! — Me apertou num abraço desesperado e rápido, logo após agarrou meus ombros, me fazendo ficar de costas. — Olha como o cabelo dessa vaca cresce rápido!

— Então, a Vanessa chegou agora há pouco, Sofia há alguns dias atrás… — Me virei de volta, encarando Pietra vestida com seu casaqueto Chanel. — E a mademoiselle?

— Retornei há alguns dias também. Papai e mamãe mandaram lembranças. Os negócios estão como sempre, estressantes… Mas dei a ajuda que precisavam. Fui em sua casa para uma visita surpresa, até trouxe uma coisinha de Paris para você, porém… A verdadeira surpresa era que a senhorita não estava. — Estreitou os olhos.

— Tenho trabalhado muito — respondi antes que Vanessa viesse com suas especulações.

— Às nove da noite, de um domingo? — Pietra me encurralou, erguendo uma de suas sobrancelhas ruivas.

E como previsto, Vanessa começou:
— Ah, você tá de rolo, não tá? O que era? Um encontro? Sua mala!

Ela sempre insinuava algum possível relacionamento romântico e misterioso da minha parte quando eu comentava ter qualquer mínimo envolvimento social que fosse fora do trabalho.

— Ia levar essa blusa? — toquei na peça cropped, estampada num xadrez vichy amarelo-ovo. — Não sei não, hein, apesar da cor combinar com o seu estado mental, esse tom vai te deixar com cara de doente.

Riram da minha mudança brusca e sarcástica do assunto. E como numa emboscada, as três se aproximaram à passos lentos, nos unindo em um abraço coletivo.

— Sabe que a gente te ama, né? — Sofia confessou, com a voz abafada pelo vínculo. — Ela nunca responde… — nos desunimos, e a Fofa ria da situação.

— É, eu sei que você concordou aí nessa sua cabeça dura! — Vanessa resmungou, retirando da arara a blusa que escolhera.

— Mas e aí? Que chantagem usaram pra conseguir fazer a Patricinha pisar aqui? — mudei de assunto novamente.

— Vim por livre e espontânea obrigação! — confessou.

A verdade era que Pietra sequer sentiu a textura de uma roupa de lojas fast fashion em seu corpo, simplesmente pelo fato de nunca precisar.

— Quando vai aprender a ser humilde? — caçoei, ao que ela riu educadamente.

— Mas e você? — perguntou Sofia.

— Só estou de passagem. Estava dando uma olhada nas tendências de outono...

— Você está em horário de trabalho?

— Unrrum, mas vou almoçar agora — Levantei o pulso, checando os ponteiros do relógio preso nele. — Tô até um pouco atrasada. Já comeram?

Bangtan e EuOnde histórias criam vida. Descubra agora