Meu nome é Sonia

SEM TOMAR BANHO

Alguém me disse que os primeiros 15 minutos após o despertar pela manhã é o que define se o dia será mal ou bom.

Isso não é verdade, eu fiz o teste. Cheguei a concussão que a vida é uma mistura de ódio, raiva, magoas e ressentimentos. Por mais que eu tenha bons pensamentos ao acordar os meus dias sempre serão iguais, sempre serão um tédio.

Você tenta fazer tudo diferente muda de caminho muda de calçada, uns dias olha para os caras outros para a estrada, outros dias faço aquele exercício da velocidade que li no livro O Diário de um Mago. Eu tento e tento de novo, você tenta e acaba percebendo que realmente a vida é uma fútil rotina de movimentos chatos, e, no fim do dia, você tem mais perguntas do que respostas, mais problemas do que soluções. A vida é o caos no inferno.

Estou cansada de acordar cedo todos os dias. Quem consegue dormir antes das duas da manhã pode se considerar um super-humano! São livros para estudar, vídeos para assistir, provas e avaliações para responder e ainda se sair bem no ENEM, sem contar que sou forçada a dar satisfações de tudo o que eu faço aos meus pais. Eu tento ter vida social, pelo menos nos grupos no WhatsApp.

Por mais que eu tente não consigo me levantar da cama cedo, minha mãe bate na porta umas 3 ou 4 vezes até que eu levante e entre no chuveiro, tomar banho de manhã é suicídio. Você passa a note toda deitada, não faz esforço algum, por que então é preciso tomar banho? Se eu tomei antes de dormir, é só para desperdiçar água. Depois ainda falam de seca e aquecimento global e todas as idiotices dos anos 90.

Ontem em pleno domingo fui forçada a acordar as 11 da manhã meu pai me arrancou do quarto e me jogou dentro do carro, me senti um poodle recebendo as lapadas de vento pela janela do carro. Nem deu tempo de arrumar os cabelos, mal tirei as ramelas dos olhos. Eu odeio os meus pais, eles não percebem que eu odeio ir à praia com eles. Queria que eles morressem e me deixassem livre.

Minha mãe sempre voltava bêbada, não podia ver um homem sarado e musculoso que lembrava do desvio da coluna de e meu pai, "que ele não é mais o mesmo de antigamente" e meu pai sempre coloca a culpa em mim, ''a culpa é da Sônia que mijou na escada "

Mas eu não tive culpa! Eu era apenas uma bebê.

Queria que ele tivesse morrido no último degrau, quem sabe um dia meu sonho se tornará realidade. Eu não quero ser igual a mamãe! Não mesmo.

— Sônia é hora de levantar, todo dia é a mesma coisa... disse minha mãe invadindo meu quarto e catando a roupa pelo chão.

Blá blá blá...

Pois é, você ouviu bem :( eu me chamo Sônia! Não é Vânia ou Tânia ou Germânia com acento no a, é SÔNIA mesmo!

Não sei o quanto minha mãe bebeu, mas ela convenceu o meu pai a me dar o nome da avó dela, provavelmente ela se suicidou saltando em baixo de um caminhão logo após receber esse nome horrível da minha tataravó...

Mas eu que não sou obrigada, dou o truque da galinha morta. Liguei o chuveiro e derramei um pouco de shampoo no chão para disfarçar um pouco. Passei a toalha por baixo do chuveiro e fiz igual aqueles filmes americanos. Passei a toalha molhada nas axilas e nas partes intimas, coloquei desodorante e borrifei um pouco de perfume. Vesti a farda e peguei minha mochila que estava na cadeira, amarrei a camisa na cintura e desci as escadas para esperar no carro. Ouvi um assobio vindo do alto a claridade incomodava os meus olhos, levantei a mão para proteger os olhos da luz, mas ouvi segura.... Foi bem na minha cara. Pufft! Uma bolsada matinal, pensei eu.

— Não vai tomar café de novo, mas fiz esse lanche para você... minha mãe gritou da janela.

Ela me odeia! —Não poderia somente embrulhar com alumínio? Precisava pôr em sacola de papel? Quer me matar de vergonha? Ela simplesmente fechou a janela na minha cara. Eu abri a porta do carro e entrei, olhei a sacola que mais parecia está cheia de merda dentro... eu não sei o que eu fiz de tão errado em outra vida para nascer nessa família? Murmurei de cabeça baixa olhando as atualizações no celular.

O que foi filha, por que está resmungando? Perguntou meu pai ligando a ignição do carro. Eu já disse que você precisa trazer a sacola e deixar no carro, não quero que sua mãe fique triste, mas também sei que o sanduiche que ela faz...É horrível ...

— Então você deveria procurar outra mulher para cozinhar para você... retruquei com aquele sarcástico humor matutino maravilhoso...

— Por que você me odeia tanto? Eu sou o seu pai! Eu faço tudo por você e pela sua mãe... eu trabalho o dia inteiro a semana toda para te dar tudo de melhor para você, te dou roupas boas e de marca, te dei um celular de 5 mil reais a poucos dias, eu pago todas as contas de casa é assim que você me agradece? Você não está nem aí para nós ne?! Você vive dentro de seu mundo idiota, enquanto milhares de filhos estão procurando pais para adotar, que morreriam para encontrar os pais e ama-los, você tem tudo e ainda assim não tem o mínimo de decência para agradecer as coisas que fazemos para você, nós nos sacrificamos por sua causa.... Eu realmente não sei no que eu errei com você! Eu tento me aproximar, mas você como sempre me afasta com suas atitudes grossas.... Filha por favor me dá uma chance....

— Dá para acelerar esse carro? Eu vou chegar atrasada no colégio....

Ok. Tudo bem se você quer assim... respondeu ele dando de ombros.

Hoje eu estou naqueles dias... não tenho paciência para conversar com meu pai ele é muito chato. Queria que ele sumisse, na verdade queria que todos sumissem, o meu maior sonho é morar sozinha, só eu e a minha gata gleicy. Quando o carro parou na frente do colégio olhei bem aqueles idiotas fardados, me deu uma coceira por todo corpo. Aff.... Mais um dia nesse inútil colégio em minha fútil vida... O que foi agora? Perguntou meu pai franzindo a testa, eu olhei para ele e o encarei com aquela cara de ''tomara que você morra no caminho de volta" — nada pai! Vá com Deus... Desci do carro e acenei dando um sorriso mais falso que nota de 7,00.

Abri a mochila e tirei a toca, ajeitei o cabelo, coloquei os fones de ouvidos abri minha playlist na música The Blackest Day de Lana Del Rey subi as escadas de cabeça baixa. Em minha cabeça os pensamentos se repetiam eu não queria encarar aquelas pessoas chatas todos os dias a mesma coisa, o mesmo blá blá blá dos Professores chatos e colegas idiotas, até quando eu vou ter que aturar tudo isso... eu só queria não existir, ou pelo menos não precisar dar satisfação da minha vida a ninguém. Para mim bastava algumas bebidas na geladeira, batatas fritas e pizza e resto era só calcinhas sujas...