-Eu não aguento mais! Dói muito me machuca e está me destruindo. - gritei em meio aos soluços e as mãos que antes apenas me tocavam, agora me abraçavam carinhosamente.

                                                                                           ~*~

Adam:

Os gritos eram assustadores, aquele pequeno corpo tão frágil tremia tanto pelo choro que não teve como eu não abraçá-la. A mulher forte havia dado lugar à menina assustada, com medo e com dor.

-Faz passar, faz com que tudo passe. Eu quero viver, eu preciso viver... está doendo tanto! - a voz suave estava carregada de dor e sofrimento. A abracei mais forte querendo passar a confiança necessária para que ela colocasse tudo o que estava machucando, para fora.

Ajeitei-me na cama e puxei sua cabeça para meu peito, Aline olhava tudo da porta com lágrimas nos olhos. Assim como eu, acordou com os gritos.

-Aline, água e açúcar. - pedi e ela saiu apressada. –Ei, vai ficar tudo bem... chore, grite, coloque para fora tudo o que a sufoca, o que a machuca tanto.

-Ela me deixou, ainda sinto sua mão começando a esfriar agarrada a minha... dói... - os soluços faziam com que ela engasgasse. Suas mãos agarraram a minha camisa enquanto chorava e eu apenas a ouvia. -Achei que poderia contar com ele, mas ele também me feriu... me traiu, humilhou e ainda dói, me sufoca!

Ela gritou, chorou e chamou pela mãe. Uma cena chocante para mim, no entanto, eu conhecia bem aquele sentimento, havia sentido na pele quando minha mãe morreu, eu não disse nada, apenas deixei que ela colocasse tudo para fora. Meu coração se apertou porque eu sei o que é perder uma mãe! Mas eu tive o suporte da minha família, essa menina está sozinha porque tendo em vista como ela está, duvido que tenha desabafado com Frank.

A parte pior foi ela pedindo para que ele (Hector), não a machucasse e pensasse em April antes de fazer besteira. Suas mãos apertaram ainda mais a minha camisa nesse momento. Pude sentir o mesmo terror que ela sentiu e meu corpo ficou rijo pela raiva que senti.

Não sei quanto tempo ficamos daquele jeito. Ela chorando e falando tudo o que a fazia mal e eu a acalentando como podia. Aline deixou a água com açúcar e desceu para explicar o que estava acontecendo para meu pai que não tinha como subir, devido ao problema da perna.

Silêncio...

Após longo tempo seus soluços se estabilizaram, eu estava escorado na cabeceira da cama e não tinha como ver seu rosto, mas senti o peso em meu peito. Alexandra adormeceu em meus braços após sua longa sessão de tortura. Tenho certeza que irá acordar melhor pela manhã.

Com cuidado eu me levantei sustentando seu corpo com meu braço para que ela não acordasse, a ajeitei na cama e a cobri. Os cabelos envoltos ao seu rosto pareciam uma moldura, linda, ressonando. Senti um nó em minha garganta, mas não pude deixar de admirar aquela mulher à minha frente, sofreu tantas coisas tão ferozmente e mesmo assim quando a conheci mantinha um lindo sorriso na face, enquanto eu deixei de acreditar no amor. Sai do quarto e me juntei a meu pai e irmã na sala.

-Ela dormiu. – informei assim que apareci no cômodo.

-Gente aqueles gritos me aterrorizaram, pai ela vai ficar traumatizada com tantas atrocidades. – Aline tinha o olhar caído, sentia pena de Alexandra, era nítido.

-Não Aline ela não irá. O que aquela garota precisa é de pessoas a quem ela possa confiar, pelo que eu percebi após tudo isso hoje, é que Alexandra é o tipo de pessoa que guarda suas mágoas sem compartilhar a dor. Ela é forte, mas é muito frágil em seu interior e uma hora tudo acaba explodindo e hoje foi a vez dela colocar para fora o que não estava lhe fazendo bem. Ela precisa de alguém para conversar, mas não espere que ela lhe conte tudo. Cautela para conversar com pessoas assim é o que mais precisamos ter, a confiança se adquire aos poucos e quando ela estiver pronta ela irá falar. – meu pai ressaltou, homem sábio que me traz orgulho. E se hoje não me tornei uma pessoa ainda mais amargurada é justamente pelos seus conselhos sábios. –Agora irei me deitar, ela já está descansando e amanhã cedo será outro dia. Acorde cedo Aline e busque as ervas com a Glória, precisamos tratar daqueles hematomas.

Feridas da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora