Capítulo 1

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Garoto Sorumbático

     A Propriedade onde Eriberto vivia com a família, mantinha todos os traços de uma charmosa casa campestre. Espaçosa e decorada com os característicos rústicos na mobília, a casa tinha um andar com cinco quartos, e fôra construída toda de madeira reflorestada, e o fosso, feito de pedras. No entorno da casa, havia um belíssimo jardim com grama verde que circundavam o chão da propriedade, e ao fundo, frondosas copas de árvores que enfeitavam a paisagem campestre rústica.
        Em meio a sala principal da residência do cantor, encontrava-se vários tapetes estendidos ao chão, e sob eles, descansavam lustrosas guitarras em seus tripés de apoio, organizadas de modo impecável em fileiras, junto de alguns belíssimos violões Give Special, e um único piano de cauda ao lado do teclado, e mais outros equipamentos musicais existentes na sala.

       Na parede central da sala de estar tinha vários quadros do artista em seus álbuns de sucesso, incluindo os prêmios e  discos de ouro, com destaque pro quadro principal do jovem cantor, que o consagra como o Príncipe da música Folk, pela Comunidade Internacional de músicas Folk-Country.
       Aos 21 anos de idade, Eriberto ostentava um vasto material de seus trabalhos artísticos como músico folk, e tinha inúmeros prêmios que acumulara em tão pouco tempo de carreira.
E, no meio desse gorjeio, que é o mundo musical, ouvia-se o som de teclas sendo operados de maneira ágil naquela manhã na propriedade, único ruído vivo da moradia isolada do cantor.
Mas, entrando a fundo na intimidade do Principezinho, veremos a seguir, o que ele tem feito em sua vida de casado e longe dos holofotes nesses dois anos e meio.
      Eriberto encontrava-se em um dos compartimentos da casa, sentado de frente pra escrivaninha retrô, ele usava pulôver preto de gola alta que contrastava com a palidez de sua pele, e os cachos sedosos de sua charmosa cabeleira castanha, enquanto datilografava com os dedos calosos suas composições, e fumava o cigarro preso nos lábios, formando um lindo bico. O jovem músico era avesso às tecnologias modernas, preferindo o uso da máquina datilográfica, ao invés de um bom e moderno computador.

       A rapidez com que digitava os textos de suas composições autorais, era formidável, deixando escapar a solidão patente no semblante triste que ele exibia

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       A rapidez com que digitava os textos de suas composições autorais, era formidável, deixando escapar a solidão patente no semblante triste que ele exibia. O garoto vivia sorumbático em seus pensamentos, conseguindo apenas criar as letras de suas composições. Ele próprio prendeu-se numa espécie de claustro. Casou-se com Glória como manda o protocolo manjado da sociedade tradicional, e ambos tiveram um lindo filho, o pequeno Abel de apenas 1 ano e alguns meses. O sorriso e os gracejos que o bebê fazia para o pai, era um de seus refúgios favoritos quando não estava trancado no cômodo da casa datilografando seus textos, ou, dedilhando sozinho os seus instrumentos musicais na sala. O músico evitava a companhia e os reclames da esposa, que nos últimos meses vinha queixando-se da falta de atenção e afeto dele. Glória cuidava da casa, que incluía os afazeres domésticos e os cuidados com o pequeno Abel. Ela não tinha empregados. Preferiu cuidar sozinha de todo o serviço doméstico da propriedade.
      Temia que a intimidade do marido e da família vazasse para a imprensa. Glória queria evitar ao máximo o burburinho da mídia, mantendo Eriberto recluso do mundo da fama, pois ele próprio queria que as coisas em sua vida estivessem longe dos holofotes.
Eriberto refugiou-se nessa propriedade para viver em paz com a família, e manter distância das lentes dos paparazzi e dos fãs mais afoitos. Dificilmente, Glória lhe importunava naquela sala quando escrevia suas composições. Ela acreditava que o marido sendo um artista famoso, precisava de todo o silêncio possível para criar as letras de suas músicas. Em parte ela estava certa, em outro, equivocada. Começou sentir a frieza do marido que não a enchia mais de beijos ou afagos.
Os mimos que ele dava, eram inteiramente para o filho Abel. Glória não ousava se queixar disso, pois quando casou-se com Eriberto, estava ciente que ele não a amava mais, mesmo assim, o cantor quis construir uma família com ela. Mas não era só o garoto que estava infeliz no casamento, Glória também sentia-se dessa maneira. Prometeu a si mesma, que continuaria casada com ele, pois ainda o amava. Mas diante da frieza demonstrada pelo amado, glória sentia a cada dia o amor por Eriberto esmurecendo...
    Ela já não suportava o silêncio sepulcral dele dentro da casa, e a melancolia expressa em seu rosto, de modo algum Eriberto falava a respeito de seu estado solitário com ela.
Sua dor e solidão, pertenciam unicamente á ele. Ela nada tinha a ver com isso.

      Eriberto pausara a datilografia, e pegou o resto de cigarro e o amassou no cinzeiro, olhou de viés pro vidro da janela notando o verde abundante das copas das árvores que circundavam a imensa propriedade. A paisagem em torno da moradia era exuberante em vegetação. Eriberto parecia imerso em suas lembranças, acendeu outro cigarro e fumava, tendo a outra mão apoiada no rosto, lembrou-se dos momentos felizes que tivera com Lorenzo. Especialmente, aquele em que eles beijaram-se pela primeira vez na casa de campo e roçaram seus corpos nus e afoitos de desejo, chegando quase às vias de fato... (Leia Eriberto da Gaita/ CAPÍTULO 38)
  Ele sentia saudades do empresário, de sua proteção, de seus afagos viçosos, dos seus beijos úmidos, do seu cheiro agradável, e sobretudo, de sua maneira linda e elegante de ser um homem surpreendentemente encantador.
Eriberto o amava, chegou tarde demais nessa conclusão, ao vê o amante de partida pra Paris.

      E, desde então, essa tem sido a dilacerante tortura que o jovem apaixonado sofria, e não conseguia esquecer-se de Lorenzo e nem de seus pensamentos, levando-o á melancolia que tomava conta de sua vida aos poucos. Eriberto encontrava-se preso no claustro da solidão que assola a mente dos apaixonados não consumados.
   O jovem solitário deixou a sala e a máquina datilográfica de lado, e deslocou-se até a garagem. Chegando lá, ele pegou a moto, um modelo clássico de 1978 com motor turbinado, que percorre grandes quilômetros em alta velocidade. Eriberto tornou-se um apaixonado por carros e motos antigas, desde que assistira Marlon Brandon e James Dean no clássico O Selvagem da motocicleta, e bem ali na garagem de sua propriedade, tinha uns oito modelos de carros antigos e três motos que ele arrematara em um leilão.
A fortuna que o garoto possuía, lhe propiciava esses pequenos deleites caros de colecionador.
Eriberto arrastava a moto para fora da garagem, quando iminentemente, Glória colocou-se à sua frente e perguntou para onde ele iria àquela hora de motocicleta.
      — Onde vai?
      — Dar uma volta por aí... — Respondeu ele ao subir na moto, sem olhar pra ela.
      — Eriberto, o que está havendo com você? — Quis saber Glória.
      — Nada — Retrucou ele, ao colocar os óculos escuros no rosto.
      — Nada? Como nada?! Estou preocupada com você... — Disse ela.
      — Não se sinta assim. — Falou-lhe Eriberto, ligando a moto.
      — Você vem para o jantar?
      — Sim.
      — Então, vou esperá-lo junto com Abel.

    Eriberto arrancou com a moto veloz, deixando Glória para trás.
O garoto sorumbático dirigia a moto no asfalto a oitenta quilômetro por hora, sentindo o vento batendo contra o seu rosto e esvoaçando a cabeleira ondulada.
Mais curvas à frente, e o cantor pisava fundo no pedal da moto, imprimindo mais movimentos na velocidade da motocicleta, e dando um belo mal exemplo de não usar o capacete, onde resultaria em multa e fração gravíssima de trânsito. Ele só parou mais adiante, e ficara absorto em seus próprios pensamentos. Eriberto já não suportava a dor da solidão que o dilacerava por dentro, pensou em todas as pessoas importantes de sua vida: o filho Abel, a família, e principalmente no amor que nutria por Lorenzo.
    O seu conturbado consciente dizia-lhe que deveria o quanto antes tomar uma atitude em relação às suas dores para aplacá-los de vez da sua mente. Pensando dessa maneira, Eriberto ligou a moto e retornou para a casa com a decisão tomada, só não sabia como faria pra comunicar á sua esposa.
      Sua decisão era um caminho sem volta.

Príncipe do Folk (Wattys 2018) *RETIRADO Onde as histórias ganham vida. Descobre agora