A Guerras de Eriador

Capítulo 1 - Os Orcs

Sim, algo estava errado. Após desembarcarmos e passarmos pelo ancoradouro, sentimos na pele o medo do que havia de errado. O vilarejo costeiro estava vazio; um frio percorreu minha nuca até a espinha, e meus joelhos sentiram o peso da malha repentinamente, o que era estranho. As tochas ainda estavam queimando, indicando que deveria haver pessoas ali, mas o único som era da água batendo na costa. Apertei a mão no cabo da espada, e minha pele começou a suar por baixo da armadura. Mesmo sendo outono e frio, era uma sensação que tive muitas vezes ao longo dos anos diante do perigo, algo anormal, estranho, um aviso vindo do medo. Alguns pensam que apenas os covardes sentem medo, mas é mentira. Todos os guerreiros sentem medo antes de suas vidas serem postas em jogo, uma preparação de espírito.

O ancoradouro entrava na floresta que abrigava o vilarejo que ia subindo uma colina arborizada e nevoenta, que bloqueava nossa visão dos resto da floresta, haviam muitos caminhos por entre as casa de comerciantes, assim antes de nos espalhar em busca de pessoas, Míriel nos chamou.

- Fiquem atentos e observem cada sombra; podem estar sendo mantidos cativos em algum lugar - Disse Míriel. Ela era formidável, com o rosto severo, pálido e belo, escondendo cada sentimento por nunca mover um músculo, quase sem expressão. Seus olhos eram escuros como a noite sem estrelas, e seus cabelos negros e lisos. Mais velha, havia nos treinado a maioria durante anos. Por sua severidade e justiça, um grande respeito foi criado.

- Há algo na espreita. - Acrescentou ela, sussurrando.

Seguimos com as mãos nas espadas por uma pequena rua subindo pela terra úmida, com folhas e raízes das árvores; às vezes, havia casas, outras vezes, hortas ou pátios entre elas. No início, só casas de pesca mais perto do mar, onde todos haviam desaparecido. Tudo foi levado, desde a pesca até as linhas e anzóis. Outras casas mais adiante também estavam vazias, reviradas, e todo tipo de suprimento fora levado. E agora admito, mesmo com medo, nunca deixei isso ser percebido, mas tremi e tive minhas tripas reviradas quando vi o sangue, e havia sangue de mais de uma pessoa, mas não em grande quantidade, pois não havia corpos.

- Eles vieram para fazer escravos. - disse Ciryandil, o mais velho, um soldado antigo, severo, baixo, com o rosto barbudo, um pouco ruivo e com cortes de guerra na face.

"Eles" eram os orcs, que, um dia, no raiar dos tempos, foram elfos capturados por Morgoth e torturados até seus corpos se quebrarem, tendo sua natureza destruída pelo poder do Valar maligno. Agora, eram soldados de alguém, e o mal que vinha com esse alguém, mesmo que fraco, os convocava ao terror. Fomos obrigados a nos espalhar mais, encontrando alguns mortos enquanto seguíamos pelas vielas e pequenas escadas na colina arborizada. O sol quase aparecia, mas o dia era cinzento, e as árvores bloqueavam a maior parte da luz, segurando a neblina.

Andei até, por fim, parar na beira de um caminho curto que, subindo, levava entre a mata densa até uma parede de pedra no topo do morro. Ali, quando pensei em dar o próximo passo, escutei risadas acima, mais parecidas com rosnados. Ainda segurando o cabo da espada, me abaixei entre a vegetação fora da trilha e consegui ver dois orcs descendo o caminho em minha direção. Eram escuros e deformados, como se um pântano tivesse dado vida a eles. Tinham espadas longas, vestiam armaduras pesadas e sem forma, como se tivessem sido feitas às pressas. E o pior, algo que nunca mais saiu da minha lembrança e pesadelos: traziam cabeças de crianças cortadas, seguradas pelos cabelos, várias delas. Virei o rosto por um momento e me escondi atrás de uma árvore, tomado por terror, medo e raiva.

Esses eram os orcs das histórias, criaturas malignas, medonhas e sem um resquício de bondade. Mais tarde encontramos o resto dos seus corpos. Elas haviam se escondido numa gruta no topo do morro no momento do ataque, mas foram descobertas e mortas, pois certamente não serviam para o trabalho duro.