7. ela não consegue dormir

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— Ah... — Foi a minha resposta.

Não tinha imaginado que um dia aquele meu método de organização, que eu mesma tinha me acostumado a fazer para que eu me mantivesse ocupada, fosse servir para alguém. Para mim era algo que me mantinha calma e sem a possibilidade de uma recaída, não para que simplesmente fosse bem nas minhas matérias.

— Não sei como. — Respondi, o que fez Matheus dizer o mesmo "ah" que tinha saído de mim alguns segundos antes.

— Só me diz o que que tu faz. — Deu de ombros, abrindo em uma página em branco no seu caderno e colocando de título na primeira linha: As regras épicas de Lívia.

Dando uma pequena risada, passei as mãos nos meus cabelos. Nunca alguém achara que minhas regras eram épicas, e tinha a leve sensação que ele só achava isso porque não sabia o meus motivos. Mas, também, não seria para ele que eu contaria.

Limpando a garganta, peguei um lápis e apontei para onde ele tinha começado a escrever. — Isso é sempre o começo. Colocar o título geral do que o professor está falando e daí ver depois as subcategorias que ele vai ir tratando.

Comecei a explicar, e de alguma forma aquilo me deixou mais relaxada do que revisar mais de três vezes os meus cadernos para saber se algo estava fora de ordem e recomeçar, só para que eu tivesse algo além do trabalho para fazer, evitando o máximo a noite e evitando o máximo a hora de dormir.

Porque era isso que eu fazia e fiz de novo enquanto Matheus ficou no meu apartamento. E uma hora e meia depois, ele estava recolhendo seus papéis e sorrindo para as anotações que tinha feito conforme eu falava.

O tempo tinha passado rápido, e eu não estava preparada para ficar sozinha de novo.

— Minha irmã vai adorar saber que tu me influenciou a comprar aquelas agendas pontilhadas. — Comentou, guardando suas coisas por completo.

— Ela vai? — Perguntei, ainda supresa com aquela animação toda e surpreendida que a organização era a fonte, e não uma bebida ou qualquer coisa de comida como era com Aquiles. Surpresa também, em como os dias passavam e a decepção se encontrava dentro de mim cada vez mais.

Eu olhei para ele enquanto ele falava sobre a irmã e seu vício em papelaria, tentei prestar atenção além disso, mas minha cabeça começou a ser inundada por ideias as quais exigiam mais de mim do que aquela conversa.

Sentia meu rosto caindo em tristeza, mas tentei o máximo não mostrar para ele como aquela história estava me afetando.

Por que, me perguntava, me sentia feliz pelos outros enquanto me arrastava cada vez mais para baixo com essa felicidade?

E essa resposta eu tinha: porque eles lembravam de novo e de novo que eu talvez fosse incapaz. E eu estaria sozinha com aquilo à partir dali.

Balançando a cabeça para isso, percebi que o meu colega estava me encarando com a rosto caído para o lado. Oferecendo a ele um sorriso fechado, disse que era só ele pedir para o porteiro abrir a grade pra ele, e comecei a fechar a porta.

O clique que a maçaneta fez preencheu a sala, e eu olhei para os meus cadernos espalhados e decidi manter aquela minha rotina o máximo que eu conseguisse. Eu peguei as canetinhas, os livros e as folhas avulsas, passando a limpo o que tinha visto naquele dia de aula.

Estudar tinha se tornado crucial pra mim, e eu tentei ignorar que não me lembrava como eu me sentia a isso durante meu primeiro semestre da faculdade.

Mas eu escrevi, letra após letra, tomando meu tempo para que elas ficassem no mesmo espaçamento, que as cores combinassem e que tudo estivesse organizado, com os comentários anotados da professora em lápis e a matéria das apresentações em caneta.

Boa noite, Aquiles ✓Where stories live. Discover now