único;; no ritmo de uma mesma melodia

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Não existia saída. Changkyun teria de sentir o peso das pálpebras e os cílios que tremiam incansavelmente. O cabelo grudaria em sua testa graças ao suor, que corria por suas bochechas ao desenhar as curvas de seu rosto e encontrar os lábios secos. O coração começaria a bater preguiçosamente, afinal, do que adiantaria trabalhar tanto no último dia antes das férias? Pouco a pouco, sua visão se tornaria uma fotografia com a exposição alta demais.

Depois disso, Minhyuk não teria mais o que fazer. Aceitaria que o pior tinha acabado de acontecer, permitiria que a mãe lhe abraçasse calorosamente enquanto também chorava graças ao desespero do filho. Aquilo não adiantaria de muito, a dor continuaria a crescer imensamente no pequeno coração que teria sido dividido por dois no momento de último suspiro de Changkyun.

O pai, possivelmente, diria algumas palavras engasgadas pelas lágrimas, tentando se mostrar forte pelo filho. O resultado seria um desespero que cresceria cada vez mais em Minhyuk. Se até seu pai estaria segurando lágrimas de tristeza, quem era ele para não chorar todas aquelas que um dia não pensou existirem?

Então, Minhyuk abraçaria um de seus travesseiros, afastaria-se de sua mãe, isolaria-se no seu quarto e desejaria acordar daquele pesadelo ou simplesmente parar de vivê-lo. O mundo não seria o mesmo sem o melhor amigo.

Não conseguindo assistir o desespero do garoto, a mãe continuaria a acariciar o cabelo do filho, escutando os soluços. Dessa forma, Minhyuk permaneceria chorando por Changkyun e a maneira sem avisos prévios pela qual ele havia partido, levando consigo metade de seu tesouro, aquele que Minhyuk guardava com tanto apreço: seus sonhos, seus erros e o mais importante, sua vitalidade.

Changkyun, então, acordaria sentindo a grama úmida e morna sob os pés descalços. O céu azul cintilante e ensolarado lhe mostrava uma imensidão inimaginável prestes a ser descoberta. O fone de ouvido pendurado em seu pescoço tocava uma de suas sinfonias preferidas e mesmo que não existisse ninguém ao seu redor, Chagkyun sentiria-se completo.

As noites desesperadoras não existiriam, seria apenas o campo verde e brilhante infinito. As únicas coisas que acabavam eram as músicas, mas uma após a outra, sempre viria aquelas que mais agradaria Changkyun. Seria no final de uma daquelas músicas que ele conseguiria escutar o choro baixo e alguns soluços próximos. Minhyuk estaria distante, e Changkyun queria alcançar o amigo, dividir com ele aquela música que tinha acabado de começar e fazer daquele momento algo para os dois.

Por fim, iria anoitecer pela primeira vez e depois de tanto tempo, Changkyun teria sua primeira noite de sono daquele vasto campo sem sofrimento, tristeza ou desespero. Ao acordar, se depararia com o corpo deitado ao seu lado, com o qual dividia seus fones de ouvido. E lá estaria Minhyuk, deitado sobre a grama verde reluzente, ambos completos mais uma vez: sonhos, erros, corações. Estariam ali, Changkyun e Minhyuk, ao som da mesma melodia, deitados sob o mesmo céu ensolarado e brilhante, vivendo num mundo aconchegante e refrescante, impedidos de se separarem mais uma vez.

devaneios ┊ changhyukWhere stories live. Discover now