UMA MORTE NA INESPERADA

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—Eu te avisei isso antes, Pedro!

—Mas eu não achei que você falava sério! E eu? E a Lillá?

—Não! Não tente usá-la para me fazer ficar. Eu não posso, Pedro, será que você não vê? Olhar para você me faz lembrar de tudo que aconteceu. Eu achei que eu seria forte, que eu aguentaria, mas eu não consigo! Será que você pode me entender? Eu preciso de um tempo fora.

—Um tempo? Quanto tempo? Um ano? Dois anos? Dez anos?

—Eu não sei quanto! —Explodi sem querer.

—Você não me ama mais?

Olhei para os olhos azuis que me penetravam em lágrimas e a culpa, o medo, a dor, tudo me veio imediatamente ao coração.

—Amo mais do que você imagina, mas eu preciso ir...

—Por quê?

—Se eu quero me recuperar, saber quem eu sou de verdade, ter uma vida, inclusive contigo.

—E você quer uma vida comigo ainda?

—Quero, quero muito, mas não agora..., eu não consigo... —Agora eram as minhas lágrimas que eu "via" e sentia e como doía...

—Então vá, mas me esqueça, ok? Me esqueça totalmente. Acabou, Catarina...

— Ei, terra para Cath.

— Desculpe, Lia — disse me recuperando de onde a minha mente estava segundos atrás.

— Ok, se não quer falar, não fale, ok? Mas se resolve. Eu sempre te achei presa ao passado.

— E eu sempre fui mesmo, mas quem sabe isso não muda em breve.

Mais duas semanas se passaram até que novamente eu tivesse meu nome em uma matéria importante. Era sobre como o medo de uma seita como as dos anos setenta pudesse ressurgir, não só nos Estados Unidos, mas também na Europa ou quem sabe, até no resto do mundo. Eu segui todos os fóruns do youtuber que encontrei no dia do meu aniversário desde aquele dia. Ouvi suas mensagens de ódio, os apoiadores em diversos idiomas e países diferentes. Tentei me passar por um deles, entrar no seu grupo em redes sociais, me infiltrar, mas fui recusada. Eles faziam uma pesquisa detalhada antes de deixar alguém entrar em contato de verdade com um representante do que chamavam "Os purificados" e eu não passei em seu filtro.

O youtuber, Breno Bastos era brasileiro, carioca e morava em um sítio com seus fiéis seguidores. A polícia da Inglaterra e também a brasileira já o investigou várias vezes, mas nada ilegal apareceu. Seu grupo não foi citado como suspeito do crime contra a Sra. Groten, apesar de desconfiar que seja e o tal amante também, segundo depoimento público, foi considerado apenas um mito, uma invenção da mídia.

— Se você passar mais uma hora vendo um vídeo desse rapaz, vou te considerar uma devota? — Lia brincou. Eu realmente estava na cama ao lado da sua revendo pela décima vez um dos seus vídeos.

— É alguma nele, no seu discurso, eu acho que motivaria alguém a cometer crimes contra mulheres ricas, só não entendo a parte de retirar o coração.

— Todos nós no jornal já tentamos entrar em seu grupo, até mesmo amigos nossos ou pessoas não registradas, mas ninguém consegue! Eu não sei qual é o critério deles para aceitar alguém, mas é bem rígido pelo visto.

— Faz você pensar no que eles não falam ali entre si.

— Por que as pessoas seguem malucos preconceituosos? — Se questionou Lia.

— Porque elas estão dispostas a acreditar em qualquer coisa que justifique seus próprios preconceitos, eu acho. Ou então elas não os vêem como tal, vai saber...

Enquanto me emergia mais uma vez no mundo e Breno para entendê-lo, meu telefone tocou, era um número do Brasil.

"Alô?"

"Filha, como você está?"

"Estou bem, mamãe. Por que? O que houve com você? Sua voz está péssima"

"É a sua tia..., minha irmã..., ela..."

Mamãe começou a chorar descontroladamente no telefone, me fazendo querer estar muito perto dela e consolá-la, desesperadamente.

"Ela o que, mamãe?"

"Ela morreu, filha" papai aparentemente pegou a linha, já que mamãe parecia não poder falar mais de tanto chorar, ainda a ouvia no fundo junto a meu irmão que a ajudava.

"Papai! Você está brincando? De que? Como? Onde? Quando?"

"Hoje de tarde, soubemos agora porque seu primo achou o corpo, ele está em choque coitado..., ela estava em casa"

"E o que houve com ela?"

"Ela..., foi morta minha filha, ela teve seu coração retirado e sua garganta estava marcada, exatamente como os casos que você investiga"

Meu telefone caiu da minha mão por um segundo. Não podia ser verdade! Minha tia havia sido vítima do assassino que eu caçava? Ou assassinos...

"Filha, você está aí?" Ouvi papai dizer enquanto Lia me perguntava o que havia acontecido.

"Sim, sim papai, eu só não sei o que dizer, eu não consigo acreditar no que aconteceu!"

"Escuta, estamos lhe enviando uma passagem para vir para cá amanhã, depois que o corpo for liberado, sua mãe irá querer você no velório"

"Ir ao Brasil amanhã?"

"Sim, filha, tenho quase certeza que se falar que irá investigar o caso, seu chefe irá lhe liberar, não acha? Se não amanhã, depois de amanhã então"

"Si...sim, de fato que sim"

Eu não consegui falar mais com meus pais, apenas enviei os meus sentimentos a eles e imediatamente narrei a Lia todos os detalhes que me foram passados.

— Você tem que ir! Pela sua tia, pela sua mãe e também pela história. Eu sinto muito dizer, Cath, mas agora você tem uma oportunidade de ouro em suas mãos. Você é da família dela, você tem acesso a informações privilegiadas que não tinha antes!

— Lia, talvez você queira parecer menos empolgada com tudo isso...

Eu realmente estava confusa. A minha tia era uma pessoa que eu não tinha muito contato, mas gostava, apesar de seu jeito todo peculiar de ser e mamãe estava sofrendo, podia ver. Fora que meu primo Alberto era muito apegado a sua mãe, eu nem podia imaginar o que ele passou vendo o corpo dela assim...

— Ok, você pensa direitinho e eu sinto muito se pareço empolgada demais, eu realmente estou sentindo muito por você e sua família.

— Tudo bem, eu só preciso me recuperar do choque e mandar um e-mail para o nosso chefe informando tudo, inclusive que amanhã eu volto para o local aonde tudo começou para mim...

— E talvez para eles também, para os criminosos, caso o seu palpite esteja certo.

— Sim e talvez para isso também — eu concordei.

— Força, amiga, eu estarei com você sempre. Você sabe disso, né?

As palavras dela, tão parecidas com as do Pedro acabaram me afetando e acalmando um pouco, então eu apenas sorri e a agradeci pela gentileza.

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