Fim de expediente

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Antônia odiava dias de balanço na empresa. Era cansativo e terminava tarde. Por isso, são quase 22h e ela espera seu coletivo no ponto de ônibus. Sozinha. E as ruas, que horas atrás eram cenário de um formigueiro humano, estão desertas.

Um rato passa ao seu lado. Robusto, faminto, vai buscar comida no lixo acumulado junto ao meio-fio. Antônia sente um calafrio. Nojo. Queria companhia, mas não aquela. O roedor também não quer e parte para outro lixo.

Então, surgem três adolescentes andando de bicicletas. A mulher senta no banco e aperta a bolsa junto ao corpo. Tem medo. O que poderia fazer contra três? Fecha os olhos e espera até não poder mais ouvir o som das rodas das bicicletas deslizando no asfalto.

Abre os olhos. E dá de cara com um menino de uns 13 anos. Sujo. Exala um odor forte de suor, misturado com um produto químico. Cola? Crack? O garoto segura uma faca. Quer a bolsa. Está agitado.

Antônia tenta dizer algo. Gagueja. Não encontra as palavras. O menino lhe acerta um tapa na cara.

- Anda, dona, me dá a bolsa. Senão te furo.

Ela desiste de qualquer reação. Dá a bolsa. E o pivete desaparece.

Antônia desaba. A mão na face que arde. O choro transborda em soluços.

Ela não pensa na bolsa. Tampouco no tapa. Pensa em Gabriel, seu filho. Faz dez anos que ele havia desaparecido. Se estiver vivo, possui a idade do menino.

Talvez fosse ele.

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