32 | Machismo Enraízado

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— O quê? Não! — Kailana finalmente me olhou, desta vez com as sobrancelhas unidas.

— Então o que foi? Fala comigo — quase implorei.

— Amélia, não tem nada a ver com o fato do que você fez na festa. Aliás, eu só tenho que te agradecer. Eu não sei o que teria acontecido, se você não tivesse intervido — ela falou e deixou um suspiro escapar antes de continuar: — A verdade é que eu tenho evitado todo mundo por pura vergonha. Eu só queria um lugar pra enfiar a cabeça e nunca mais ter que encarar nenhum de vocês.

— Vergonha de quê? — tentei entender sobre o que aquilo se tratava.

— De ter passado o maior vexame no dia do luau; Por ter parecido desesperada pra transar com um cara que eu nem sequer conhecia; E, pior, por ter ficado tão bêbada que precisei de você e do meu irmão para me ajudarem. — listou com os dedos.

— Kailana — a segurei pelos ombros, tomando cuidado para o meu pão com ovo não cair — Você não precisa se envergonhar de nada. É normal as pessoas quererem fazer...aquilo. E você só teve a má sorte do cara não ser uma pessoa confiável, não foi sua culpa. Nem eu, nem a Lua e, muito menos, o seu irmão te julgamos. Não precisa nos afastar por um erro de outra pessoa.

Ah, Mel...— a morena me encarou com os olhos marejados antes de me abraçar — Eu senti tanta a sua falta.

— Eu também senti a sua falta — confidenciei — Na verdade, estava ficando louca de ter tanta coisa pra te contar e não poder — disse enquanto me afastava e dava, finalmente, uma mordida generosa no meu pão.

— Como, por exemplo, o boato de que a louca da Franciele surtou na frente da escola inteira com você e com o Kai, que foram suspensos pela briga no luau? — tentou adivinhar enquanto voltamos a andar.

— Nossa, as histórias voam mesmo por aqui — comentei admirada com a rapidez com que aquilo havia se espalhado.

Meu bem, eu não sou boba, né? — Kailana piscou um dos olhos enquanto eu gargalhava, sentindo meu peito esquentar por ter desejado tanto momentos como aquele de volta e, agora, eu tinha.

(...)

    Na escola, Luara só faltou soltar fogos de artifício quando soube que Kailana havia voltado ao seu normal, porém mudou da água para o vinho quando soube o motivo que havia feito a nossa amiga ficar esquisita em primeiro lugar.

— Lana, olha bem na minha cara e me diz uma única vez que eu te julguei? — Lua cruzou os braços, a desafiando.

— Bom, teve aquela vez que eu comi açaí com pão e você ficou dizendo o quanto eu era nojenta — Lana relembrou brincalhona e sorrindo, mas a latina continuava com a cara fechada, o que fez a havaiana voltar atrás de sua resposta: — Nunca.

— Então como pode pensar que eu te julgaria por algo que nem foi a sua culpa? — quis saber.

— Porque eu me julguei, afinal uma garota direita nunca teria passado por aquilo — Kailana confessou.

Wow, wow, wow! — chacoalhei minhas mãos enquanto negava com a cabeça, chamando a sua atenção — "Garota direita"? Sério?

— O quê? — ela nos olhou sem entender.

— Basicamente, você foi machista consigo mesma — Luara esclareceu.

O quê?!

— Lana, escuta — segurei as suas mãos — Ao contrário do que muita gente diz, não existe uma garota exemplar. Isso foi só uma invenção para reprimir as mulheres de serem o que elas quiserem ser. Cada pessoa é diferente uma da outra e, sim, existem garotas tímidas que não fazem o tipo de coisa que você fez, mas isso é uma característica delas. Da mesma forma que ser louca por moda é uma característica sua, entende?

Deus! Eu fui mesmo machista! — ela acabou se dando conta e arregalou os olhos — Desculpa, feminismo, eu falhei! — dramatizou para nenhum ponto específico, arrancando risadas de mim e da Lua.

— Não é sua culpa, tá enraizado na nossa sociedade de muitas maneiras. Até a mulher mais feminista alguma hora desliza. A gente só tem que se ligar para não deixar que se repita. Então você precisa parar de se culpar pelo que aconteceu. Além do mais, aquele assediador de merda poderia ter feito o que fez com qualquer outra menina, até mesmo com uma que fosse tímida e estivesse sóbria. — Luara completou o que eu disse, apoiando a mão no ombro de Kailana que deixou um suspiro frustado escapar.

— É difícil ser mulher, né? — jogou o pensamento no ar enquanto o sinal da escola soava pelos corredores, encerrando aquele assunto de uma vez por todas.

   Mas ela tinha razão: em alguns momentos, quase que sempre, é mesmo difícil ser mulher.

   Mas ela tinha razão: em alguns momentos, quase que sempre, é mesmo difícil ser mulher

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✨Aloha, guys✨

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Aloha, guys

Aí eu sou mt rendida por esse brotp que é feminist e demonstra mt sororidade e dá um show de
grl power!

E quem aí se ligou no meme que a Lana soltou no meio da conversa??

E quem aí se ligou no meme que a Lana soltou no meio da conversa??

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