Capítulo 1- Mariana

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Respiro fundo, lembrando do meu último namorado, o Renato.

— É, mãe, quando decidi me dedicar a essa carreira, eu sabia tudo o que perderia e para namorar um médico tem que ser forte e ter uma cabeça boa... — declaro, resignada quanto à ideia de talvez nunca encontrar a pessoa ideal.

— Você é jovem, bonita e tem um coração gigantesco. Vai encontrar a pessoa certa quando menos esperar. Seu príncipe encantado vai aparecer.

Ela beija meu rosto e eu me preparo para sair, não querendo me atrasar.

Enquanto dirijo, as palavras da minha mãe ecoam em minha cabeça.

Príncipe encantado? Balanço a cabeça achando graça. Eu realmente não acredito nessa coisa de alma gêmea.

Passo pela recepção e cumprimento as secretárias, de soslaio. Olho para a sala de espera e uma meia dúzia de pessoas já ocupam as cadeiras.

— São todos pacientes meus? — pergunto a uma das enfermeiras que separa as fichas dos pacientes.

— Não. — Ela sorri para mim. — Agora pela manhã você vai atender apenas os pacientes que eram da Doutora Ana Rosa. Se quiser dar uma olhada nas fichas, elas estão aqui — diz, entregando-me os papéis.

Luís Felipe Assis, oito meses; Ana Julia Braga, dois meses; Lorena Motta Assunção, seis meses.

Esses serão meus três primeiros pacientes dessa manhã e eu estou ansiosa para começar.

As paredes do meu consultório são claras, em um dos cantos há um tapete com brinquedos e bichos de pelúcia. Vou para trás da minha mesa e sento na cadeira aveluda. É confortável.

Abro minha bolsa e com muito cuidado retiro um porta-retratos.Nele, a foto da minha formatura, eu estou no meio dos meus pais e o sorriso de orgulho deles faz todo e qualquer sacrifício meu valer a pena.

Coloco ao lado do computador e respiro fundo.

— Pode pedir para o primeiro paciente entrar, por favor — digo pelo telefone que me liga direto às secretárias.

Tudo correu muito bem. As mães das duas primeiras crianças aceitaram tranquilamente a mudança da médica. Eu estou substituindo uma das pediatras mais renomadas da cidade e só isso é uma baita responsabilidade.

— Faz um favor para mim? — indago à mãe da Ana Júlia, antes de ela passar pela porta.

— Claro! — Sorri.

— Minha próxima paciente é a Lorena Assunção — falo, olhando para a ficha dela. — Diga que já podem entrar, por favor.

Ela assente com a cabeça e eu aproveito para me levantar. Estou de costas quando ouço a porta se abrir. Diferente do que eu esperava, um rapaz que não aparenta ter mais do que trinta anos segura nos braços uma bela menina de olhos azuis.

Alto e dono de um corpo musculoso, carrega nos ombros uma bolsa cor-de-rosa cheia de ursinhos estampados, isso contrasta de maneira gritante com sua aparência e eu não posso deixar de notar o quanto ele é bonito.

Volto à minha mesa e pego a ficha da Lorena.

— Pedro Motta Assunção? — Estendo minha mão para ele.

— Isso mesmo. — ele confirma, apertando a minha mão. — A pediatra vai demorar? — pergunta, enquanto olha para os lados.

Franzo a testa sem entender.

— Prazer... Dra. Mariana Sanchez, a pediatra.

Ele sorri e não me parece ser um sorriso de satisfação.

Era para ser assimOnde histórias criam vida. Descubra agora