– Eu aceito tuas desculpas. Não há mais necessidade de ser tão duro consigo mesmo.
Embora suas palavras fossem dóceis, seu tom não era. Ela apenas desejava que ele partisse e lhe desse o espaço que necessitava para esquecê-lo.
Seus lábios estavam torcidos de uma maneira que ele nunca havia visto antes.
– Por favor, deixa eu terminar – implorou Arthur, lutando parar normalizar a respiração de novo, e Ge cruzou os braços. – Eu fiquei despedaçado ao descobrir que tu és casada, mesmo sabendo que tu não havias feito promessas a mim, porque eu não posso suportar a ideia de perdê-la.
"E sim, eu sei o quão egoísta isto soa," continuou ele, "mas eu nunca acreditei, nem por um momento, em nenhuma daquelas coisas que eu disse. Eu só fiz isso porque estou completamente apaixonado por ti e a ideia de amar uma mulher com quem jamais posso me casar me destruiu por dentro. Pensar que ela pode ter escondido isso de mim apenas para brincar com meus sentimentos por todo este tempo, sentimentos estes que não sumiram mesmo após tal descoberta, foi ainda pior. Eu me senti patético. Eu me senti envergonhado por ter me apaixonado por uma ilusão e..."
Ele fechou os olhos, bufando, e Ge sentiu seu peito dançar, mas permaneceu em completo silêncio.
– Eu entendo agora que tu és boa demais para fazer isto comigo voluntariamente e eu não me importo que tu sejas casada – ele prosseguiu. – Não quero mais ser aquele homem egoísta. Tu és minha melhor amiga e se amizade é tudo que terei, então, serei teu melhor amigo. Se me aceitares como mais do que isto, então, serei o homem que tentará fazer-te feliz todos os dias pelo resto da minha vida. Eu não me importo com o que outros pensarão de mim e não me importo com o que Lord Lockhart possa fazer a mim contanto que a deixe em paz. Não tê-la em minha vida nesses últimos meses foi devastador e a culpa foi inteiramente minha, o que machucou muito mais do que quaisquer obstáculos que eu possa vir a enfrentar para estar do teu lado.
Georgie travou a mandíbula. Ela não esperava ouvir tudo aquilo e muito menos que suas palavras pudessem causar-lhe o efeito que haviam causado.
– Eu não sei... – começou ela. – Eu não entendo exatamente o que queres de mim.
Arthur atravessou a sala e deu-lhe as mãos, olhando-a nos olhos.
– O que quero é saber o que tu queres – respondeu ele com certeza.
Ela umedeceu os lábios e olhou para as mãos dele.
– Mas e se eu não souber?
– Não há problema. Apenas peço que me dês a chance de estar perto até que saibas.
Ge levantou a cabeça, olhando em seus olhos por um momento. Ela via apenas verdade neles e teria ficado ali vendo-a por horas não fosse o súbito barulho vindo do corredor.
– Jane? – Ge perguntou após ouvir um gemido de dor. – Estavas escutando?
Houve um breve momento de silêncio antes que a menina respondesse em um tom não muito convincente:
– Não...
Ge apenas pigarreou.
– Desculpa, – respondeu Jane, voltando à sala –, mas é um apartamento pequeno!
Arthur encarou o chão e tossiu numa tentativa de esconder uma risadinha e Ge revirou os olhos.
Enquanto andava até a mesa, Jane acidentalmente esbarrou na mesinha de centro e derrubou um jornal. Ao inclinar-se para apanhá-lo, ela vislumbrou a manchete e arfou.
– Egerton está morto?!
– Não – respondeu Arthur. – Ainda não sabes? Todos estão falando sobre isso... Houve um ataque terrorista contra uns membros do parlamento. Egerton levou um tiro na perna, mas os outros três, incluindo Murray, conseguiram escapar ilesos.
– Anthony Murray? – Ge perguntou e ele assentiu.
– Já prenderam algum suspeito? – indagou Jane.
Ele respondeu que não.
– Isto é horrível... – ela murmurou, pondo a mão na testa.
– Não é nem metade da confusão – disse ele. – Murray já está usando isso para ir atrás da oposição. Ele está determinado a convencer a todos de que é o resultado de uma conspiração. Eu não me surpreenderia se ele sugerisse pôr fim em todo tipo de reunião regular não autorizada por ele...
Ambas as moças arregalaram os olhos. A maioria no parlamento, de fato, sempre fora contra artistas como Jane e contra pessoas como Grace Brown e Henry Bentley, que promoviam discussões subversivas semanais em suas próprias casas e estabelecimentos. Era plausível que um homem como Murray rapidamente encontrasse um jeito de usar esses acontecimentos para ampliar seu poder.
– Os Bentleys já sabem disso? – perguntou Jane.
– Sim! Estive na casa de Henry mais cedo e estava um pandemônio lá. Todo mundo receia que seus jantares se tornem proibidos e está enchendo-o com estratégias de resistência. Eu cheguei a ver o pequeno sr. Langley gritar com o sr. Harvey, eu definitivamente vi de tudo nesta vida...
– Oh! Achas que Peter ainda está lá?
– Claro! O sr. Hawkins e ele não tinham a menor intenção de ir tão cedo...
Dito isso, Arthur e Ge viram Jane rasgar a carta que estivera escrevendo antes da chegada dele.
– O que estás fazendo? – a irmã indagou.
– Detesto ser rude com um convidado –, respondeu Jane com um sorriso –, mas considerando que os dois têm assuntos para colocar em dia mesmo, deixarei-os a sós e farei uma visita aos Bentleys.
Georgie piscou confusa.
– Não quero que entendas errado, – disse ela à irmã mais nova –, mas não creio que tua presença deixará as coisas menos caóticas do que já estão, minha querida...
– Eu sei, – Jane deu de ombros –, mas não suportarei ficar aqui sem fazer nada a respeito... Quero que o sr. Bentley saiba que pode contar com o apoio de Jude. Além disso, creio que meus amigos tenham algumas boas ideias e gostaria de ouvi-las.
Prometendo contar à irmã tudo mais tarde, Jane deu-lhe um beijo na bochecha, despediu-se de Arthur e foi com pressa ao encontro dos amigos.
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Jude & Jane
Historical Fiction🏆 VENCEDOR DO THE WATTYS 2019 NA CATEGORIA FICÇÃO HISTÓRICA 🏆 Eleita uma das 50 Melhores Histórias de 2019 no @AmbassadorsPT (embaixadores do Wattpad) 🏆 1° Lugar no Concurso Best Stories 2019 - Ficção Histórica 🏆 1° Lugar no Concurso Descobrindo...
Capítulo 17
Começar do início