Gavin tinha me ensinado bem sobre protocolos de ataque, e eu os seguiria, embora ele não estivesse aqui para nos ajudar. Teríamos uma chance de voltar ao castelo, um dia, mas primeiro era meu trabalho garantir que Stefan e Chelsea ficassem em segurança. Depois, tinha certeza de que James ficaria mais do que feliz em me ajudar a matar cada um dos nossos inimigos, por mais que nunca tivéssemos nos dado bem.
Disfarçados, Beatriz nos levou para sua casa do outro lado da cidade, onde os soldados mal dava atenção. Éramos praticamente invisíveis enquanto nos misturávamos ao povo por todo o caminho, e embora tivéssemos avistado vários soldados nas redondezas, nenhum se aproximou de nós, nem nos abordou. Apenas fomos ignorados, talvez porque já estavam muito ocupados destruindo a cidade para prestar atenção nas pessoas que estavam à sua volta. A casa de Beatrice ficava no segundo andar de um mercadinho, fechado e surpreendentemente intacto. Entramos em seu apartamento assim que nos cedeu passagem no corredor apertado, e se dirigiu imediatamente à cozinha para nos buscar um pouco de água. Me sentei ao lado de Stefan no sofá, apoiando minha mão nas suas costas quando apoiou o próprio rosto sobre as mãos, a ficha então caindo. Via como fazia esforço para não chorar, mas eu não o julgaria se fizesse exatamente isso. Era o que eu esperava que qualquer pessoa normal fizesse.
— Vocês podem ficar aqui pelo tempo que precisarem.- Beatriz me ofereceu um copo de água, e eu imediatamente o coloquei nas mãos de Stefan.- Não tenho muito espaço, mas podemos dar um jeito. Não é seguro sair daqui por enquanto.
— Não queremos colocá-la em perigo caso nos encontrem.- Sou a única capaz de falar ali, aparentemente.- Não precisa se incomodar conosco. Tirar sua liberdade de ir e vir na própria casa.
— Não é um incômodo.- Beatriz me oferece um sorriso condescendente.- Me preocupo com vocês jovens. De qualquer forma, não sairão daqui essa noite. É bom que descansem e resolvam os problemas amanhã. Não vou permitir que enfrentem aqueles soldados nessas condições.
— A senhora está sendo mais gentil do que merecemos.- Stefan segurava o copo com tanta força que parecia que iria quebrá-lo em suas mãos a qualquer momento.- Não devia ser gentil conosco, não somos mais seus patrões, aparentemente.
— Não faço isso pelo meu emprego, querido.- Ela o olhou com gentileza.- Vi você crescer, é como um filho para mim. Você também, Chelsea. Deixe que cuido de vocês agora também.
— Nós agradecemos.- Resolvo tomar uma decisão.- Não vamos ficar como estorvos, no entanto, vamos ajudá-la no que precisar nessa casa, para valer a pena a estada.
— Está tudo bem.
Beatriz sorri.
— Além disso, moro no final da rua.- É Vivian quem diz.- Podem ir até lá quando quiserem. Visitar meu ateliê, inclusive.
Stefan apenas observava tudo calado, talvez ainda estivesse processando aquela noite. Havia sido difícil para todos, mas teríamos tempo para lamentar depois que tivéssemos dado um jeito nos rebeldes e sua líder.
— Eu adoro as roupas que você fazia para mim, Vivian.- Chelsea comenta.- Pensava em trabalhar com isso também, sabe? Tinha até um caderno de desenhos no meu quarto, até...
Ninguém queria tocar no assunto ainda, pelo visto. Não me sentia bem o suficiente para romper o silêncio.
— Como não percebi que Troyan era capaz de algo assim?- Chelsea sussurra, mas na sala silenciosa, todos a ouvem.- Achava que ela era minha amiga.
— Não tinha como saber, nenhum de nós tinha.- Interfiro, meus olhos passeando entre todos naquela sala.- Não é culpa de nenhum de nós.
Evito pensar no momento que desconfiei dela, no fato de que sabia desde o início o quanto a voz dela era familiar. Troyan tinha me ignorado de propósito, para não deixar muita chance de reconhecer seu rosto. Mesmo que não tivesse me visto no Museu, sabia quem eu era, e não queria arriscar a própria identidade. Mas por que, exatamente, a criada de Chelsea tinha liderado toda uma rebelião contra os Craworth? Por que tinha se aliado com os estrangeiros orientais com a esperança de derrubar o governo?
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A Guardiã da Neve
Science FictionEm um futuro distante, uma nova Era do Gelo começou. Neste mundo congelado, os humanos sobreviventes precisaram mudar todo seu estilo de vida. Com menos água líquida disponível e novas porções de terra reveladas, novos países e colônias surgiram. Re...
33. Cidade Sitiada
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