Capitulo Único.

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Observei o avião descer pela minha janela, o céu estava alaranjado, fim de tarde, logo o piloto avisou que havíamos pousado na Califórnia. Levanto-me e pego minha mochila, atravesso o mar de pessoas aglomeradas no portão de desembarque. Caminho até a esteira, pego minha mala e logo saio dali. Espero alguns minutos até meu taxi chegar, digo o endereço e logo o motorista acelera.

Chego ao meu pequeno (mas nem tanto) apartamento. Apenas deixou minha mala lá e saio. Passo direto pela porta de meus vizinhos que não paravam de brigar. Saio do prédio e sinto a brisa leve que fazia naquele dia. Ajeito meu moletom e atravesso a rua. Tiro meus sapatos e caminho pela areia da praia. Vejo que já começava a anoitecer.

Paro quando sinto a água ir de encontro aos meus pés. Vejo as ondas se quebrarem no horizonte e o sol dar lugar a grande e majestosa lua. Fecho os olhos e sinto o cheiro salgado do mar inundar minhas narinas. Respiro fundo. Sinto meus pulmões arderem. Cravo meus dentes um contra o outro.

Abro os olhos lentamente quando não consigo mais segurar a grosas lagrimas que agora escorriam por meu rosto. Que desciam lentamente e caiam no mar, agora se tornando um só. Tento respirar normalmente. Um ato falho, minha respiração acelera e minhas mãos tremem e suam. Limpo-as em minha calça jeans.

Concentro-me no horizonte, no movimento da água, no balanço do mar.

Fecho os olhos com força assim que as lembranças chegam. Elas sempre chegam. Sinto minha visão ficar turva dentre as lagrimas que agora escorriam desenfreadas. Aos poucos a lembrança invade todos os meus pensamentos. Lembro de tudo. De inicio ao fim.

Lembro da minha risada se misturando a do meu pai. Da música calma que soava pelo som do carro. Da feição de meu pai de repente se tornar outra. De seu desespero. Do freio falho. Da ponte que atravessávamos. Do carro perdendo o controle. De meu corpo ser lançado brutalmente contra o vidro da frente do carro. Da altura dentre a ponte e o mar. De meu medo se aproximando. De meu corpo se chocar contra a água. De a dor invadir meu corpo. De a água salgada entrar por minha boca. De meus gritos desesperados de dor e medo. De não conseguir voltar para a superfície. Do breu imediato.

Limpo um pouco de meu rosto quando não consigo enxergar mais nada.

Lembro do quarto de hospital branco, sem vida. De perguntar a todas as enfermeiras que entravam sobre meu pai. De seu olhar cabisbaixo. De quando me olhei no espelho pela primeira vez depois do acidente. De parte de meu cabelo raspado e com uma cicatriz enorme cobrindo o local. De vária manchas arroxeadas por meu corpo...

Abro os olhos e volto a tentar respirar. Dessa vez minha respiração lentamente volta ao normal. Olho paro o céu e vejo que estrelas começaram a aparecer. Limpo meu rosto com a manga da blusa.

Saio do mar e caminho em direção ao meu apartamento. Atravesso a portaria. Abro a porta silenciosamente. Entro no banheiro e lavo meu rosto.

Sinto mãos tocarem minha barriga em um abraço. Sorrio e me viro.

-Devia voltar para a cama. – Digo encarando seus olhos. – Sério. –Observo que ela está usando apenas minha camisa.

-Eu já vou, te espero? – Ela diz passando a mão por meu rosto. –Thi?

-Claro mi amour. Eu só vou tomar um banho primeiro. Ok Julli?

Ela não diz nada. Apenas me da um beijo e sai, voltando para o quarto. Sorrio. Um bom motivo para eu continuar lutando cada dia. Cada dia após aquele acidente.

Meu sorriso alarga mais quando ouço um choro baixo, e sua voz acalmando nossa pequena filha.

Aquilo realmente me fez esquecer do acidente.

Beach.Where stories live. Discover now