"Quem é você?" 

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As pessoas sempre falam sobre dor, sobre o quão intensa, destruidora e confusa ela é. Mas você já sentiu uma felicidade desconhecida que simplesmente não te coubesse? Foi dessa exata maneira que a solitária feiticeira se sentiu quando os finos lábios da humana atrevida tocaram os seus pela primeira vez.

Quando se deu conta do que acontecera, a morena desapareceu em um breu esverdeado, a procura de espaço pra colocar seus pensamentos no lugar.



Duas luas se passaram, até que Maleficent tivesse coragem de aparecer naquele ponto especifico do rio. Ela se sentia uma fraca, se acovardando por uma simples princesa.

E como se seus pensamentos tivessem o poder de controlar os atos a sua volta, lá estava a mulher de cabelos loiros, sentada a beira do rio.

O sorriso da humana apareceu seguido de uma só palavra.

"Finalmente!"

Mas agora Maleficent não tentou se esconder, nem fugir, muito pelo contrário, elas seguiram uma em direção a outra.

A feiticeira tremia segura em seu cajado, mas em um lapso de consciência ao cruzar seu olhar com o as águas do Cecina, uma ideia passou por sua mente.

Ainda em silêncio, a morena retirou sua capa e ficou apenas com um vestido fino de cor escura. Depois disso, apenas estendeu sua mão em direção a loira e esperou.

A herdeira do trono humano vizinho retirou sua própria capa, mesmo com o cenho franzido, mas a suavidade no rosto da mulher a sua frente lhe dava uma segurança antes desconhecida.

Quando as duas mãos se tocaram, Maleficent a guiou em direção ao rio.

A água estava fria, mas Ingrith não se importou. As pedras eram escorregadias, mas Ingrith sabia que não cairia.

Quando a água atingiu a altura da barriga de ambas, elas pararam e a morena passou os braços em volta da cintura da princesa. Elas se entreolharam por um momento, um questionamento mudo clamando e instigando a alma das mesmas por segurança, mas quando nenhuma objeção oral foi feita, a Princesa de Volterra tocou os ombros da Feiticeira de Moors.

Maleficent abriu os lábios com o toque, mas manteve os olhos sempre fixos no rosto da loira, captando toda e qualquer resposta expressiva da bela mulher de olhos claros.

Ingrid levou os dedos em direção aos ossos saltados do rosto de Maleficent e então ela seguiu sua clavícula sentindo a pele da morena arrepiar.

Se era culpa da água ou de seus toques, era irrelevante demais perguntar, então a humana seguiu seu pequeno percurso com toques meigos pela garganta da feiticeira.

Suas digitais eram tão suaves como a pétala de uma flor e parecia absurdo mas em nenhum momento a morena sequer ousou se sentir ameaçada. Era como se sua pele soubesse que aquela que a tocava era boa. Ao menos para ela.

Se prendendo ao pescoço da híbrida, a herdeira do trono de Volterra se curvou para trás e desceu os cabelos em direção a água, umedecendo-os de uma só vez. Voltando a posição original, a loira continuou sua jornada tentando compreender sua fascinação pela morena.

Suas mãos subiram pela nuca de Maleficent e os gélidos anéis fizeram a pele ali se arrepiar. Em um único movimento Ingrith soltou os finos fios, fazendo assim metade deles ficar submersa, graças ao cumprimento dos mesmos.

A respiração de Maleficent parou quando duas mãos suaves entraram em contato com os lados de seu rosto enquanto olhos azuis curiosos brilhavam olhando para os seus.

"Quem é você?"

Quando a voz da feiticeira finalmente soou, suave e direta, fazendo as pernas da loira ficaram fracas dentro da água.

Princesa Ingrith Alice Desiree, Primeira de seu Nome, Herdeira direta das Terras de Volterra. O discurso a muito tempo decorado gritava em sua mente, mas não ali, não com aquela mulher.

"Ingrith, me chame de Ingrith."

Mesmo sem esforço físico, a voz dela soava ofegante.

Quando a mulher a sua frente esboçou um sorriso, mesmo com presas, Ingrith também sorriu e antes mesmo que a loira devolvesse a pergunta, a voz da morena se pronunciou.

"Eu sou Maleficent."

E assim tudo começou. Elas começaram se encontrando uma vez a cada lua, em frente ao Rio Cecina, mas com o tempo e a chegada do inverno, o Castelo de Moors soou mais convidativo.

Ainda assim a história era a mesma, quando as estrelas estavam quase deixando o céu para dar espaço ao intenso sol alaranjado da manhã, Ingrith se levantava da principal cama escura do castelo do reino de Moors, olhava para a feiticeira nua em meio aos lençóis, e pronúnciava a mesma frase.

"É a última vez."

A frase não surgia efeito.

Era obvio que aquilo não tinha futuro.

Um hibrido quebrado e um humano.

Juras de amor não fariam sentido.

Maleficent sempre se pegava pensando: Talvez nós fomos destinadas a isso. Toques singelos e momentos intensos, mas todos temporários.

Mas aqueles "É a última vez!" ditos todas as noites de lua cheia durante 3 anos soavam apenas como palavras ao vento, já que após se retirar ao seu reino, a loira sempre sucumbia a saudade e voltar na próxima lua, para os braços da mesma morena.

Mas não esta noite.

No momento que Ingrith saiu de seu castelo, acariciando o anel de noivado do Príncipe John -herdeiro direto das Terras de Ulstead- que em sete dias seria substituído por uma aliança definitiva, ela tinha uma ideia em mente.

Esta noite, Ingrith ficará até depois do nascer do sol.

Esta noite, ela passará deitada nos braços da feiticeira.

Ela caminhará boa parte do dia com a mesma e se deitará na beira do rio com ela.

Até porque, esta noite será, de fato, a última vez.


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Obrigada pela leitura e eu espero que tenha gostado. Comentários de todos os tipos são extremamente bem vindos.
O Segundo Capitulo será liberado dia 10/10 e o Terceiro (e último) dia 13/10.
Sneak peek do Próximo Capítulo, intitulado: O Rio Cecina

"Você tem essa força que vem de dentro e me faz querer ser você. Mas cheguei a perceber que há algo mais que eu poderia ser do que você."
"O que?"
A princesa não mediu suas palavras, firme e inabalável sua voz saiu sem rodeios.
"Sua! Ao menos por hoje..."

Novamente, obrigada.
Xoxo

Twitter: @HausOfVal

"É a última vez!"Onde histórias criam vida. Descubra agora