Capítulo Oito

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- Quero muito beijar-te. – murmurou e só pelo facto de a sua respiração bater diretamente nos meus lábios é que percebi quão perto ela estava. – Mas não sei se o queres também.

Apertei as suas coxas nas minhas mãos, indeciso entre responder verbal ou fisicamente. Quando ela pousou um leve beijo no meu maxilar, percebi que ela queria mais que aquilo de mim. Queria que eu lhe mostrasse com clareza as minhas intenções, apesar de não ter feito qualquer movimento para a afastar de mim. Demorei a perceber a razão para tudo aquilo mas, passados uns momentos, compreendi. Ela recusava-se a fazer o que lhe tinham feito: tocar sem permissão, sem consentimento. E, por ter percebido aquilo, por saber dentro de mim que era aquilo que ela estava a fazer, Ava ficou mil vezes mais bonita no meu cérebro.

- Quero. Claro que quero, Ava. – e, para lhe mostrar que estava a ser honesto, abri finalmente os olhos. Azul contra azul, contra luz matinal.

Por uns segundos, limitámo-nos a olhar um para o outro, mas não demorou até que ela se aproximasse. Tinha acabado de processar a ínfima distância entre os nossos lábios quando ela chocou os seus lábios contra os meus. Apesar de termos acabado de acordar, consegui sentir um pouco do aroma fresco da sua pasta de dentes. Com um joelho em cada um dos meus lados, Ava apertou o meu corpo com as suas pernas e deslizou as suas mãos das minhas bochechas para os meus cabelos. Eu, em contrapartida, levei as minhas mãos até às suas costas e pressionei os nossos corpos ainda mais.

Num único gesto, inverti as nossas posições e coloquei-me em cima do seu corpo. Abri os olhos apenas para verificar que ela continuava a querer tocar-me e, quando ela me sorriu aquele sorriso de maravilha que me mostrara na noite anterior, sorri de volta. Beijei-a mais uma vez, deixando uma das minhas mãos entrar na sua t-shirt, devagarinho, e chegar ao seu peito. Ela deitou a cabeça para trás, voltando a circular a minha cintura com as suas pernas, e ofereceu o seu pescoço aos meus lábios. Sorri contra a sua pele e fiz-lhe a vontade, nunca parando de a acariciar com tudo o que tinha disponível.

A fraca luz que entrava pela janela fazia tudo parecer muito mais íntimo. Debaixo dos seus lençóis azuis, e debaixo de mim, eu tinha Ava. A mesma Ava que não me saía da cabeça há mais de um mês, que arranjava sempre maneira de se infiltrar nas minhas noites, na minha vida. Na noite anterior, ela teria conseguido convencer-me a fazer tudo o que quisesse, se fosse esse tipo de pessoa, mas ao invés disso...ofereceu-me a sua cama, a sua companhia. Aquela rapariga tinha uma força tão grande em mim e nem sequer o sabia; se o sabia, era incrivelmente humilde em relação a isso.

Não demorou muito até ela puxar a bainha da minha t-shirt preta para cima, até sair completamente do meu corpo. Eu sabia que deveria controlar-me, que deveria evitar avançar demasiado com ela naquela manhã, mas a verdade é que não era eu quem tinha o controlo naquela situação. Era Ava. Por muito que me custasse abdicar do controlo, não me era difícil fazê-lo quando o passava à rapariga dos olhos azuis mágicos e dos sorrisos brilhantes. Ofegante, voltei a abrir os olhos para a encarar; ela fizera o mesmo que eu e, com um sorriso tímido, parara a olhar para mim.

- Por favor?

Demorei a perceber o que ela me estava a pedir. Só quando ela olhou para o espaço entre nós é que eu reparei que eu estava a agarrar a sua t-shirt com imensa força, quase a retirá-la do seu corpo mas a controlá-la. A forma como ela me olhou, no entanto, foi a minha ruína. No momento seguinte, voltei a beijá-la e permiti que os nossos corpos se entrelaçassem como ambos queríamos. Talvez eu já o quisesse fazer há demasiado tempo mas, naquele momento, pareceu-me perfeito. Conhecia-a o suficiente, sabia que ela confiava em mim o suficiente para eu não repensar todos os meus passos. Quando ela soltou um grunhido suave ao meu ouvido e puxou os meus cabelos, eu soube que tinha feito a escolha certa.

Devagar Se Vai ao LongeOnde histórias criam vida. Descubra agora