I

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         - O que você vai fazer nesse fim de semana, amiga?

         - Não sei, acho que vou ficar em casa.

          - Você precisa sair mais, como vai conhecer ou amor da sua vida? 

          Nina lança o seu olhar fuzilante para a amiga que a ignora e continua falando

       - Passo te buscar sábado, você vai comigo num barzinho novo que inaugurou no centro, todo mundo está falando, você vai amar!

         -Não sei Cissa... eu não quero ver pessoas, só quero ficar em casa, descansando.

          - Jogar, você quer dizer...

          Marina amava amiga, mais que quase tudo. Haviam conhecido-se no trabalho; uma farmácia que fica a duas quadras da sua nova casa. Quando mudara do interior, sozinha, sem rumo e apenas com o desejo de ficar o mais longe possível do seu passado, não imaginava que  dariam-se bem tão rapidamente. Conseguiu o emprego de caixa na farmácia da esquina na mesma semana em que chegara á capital, fora mesmo uma sorte a  funcionária estar se demitindo e fazendo um escândalo bem na hora em que ela foi levar seu currículo. Ficar amiga de Cecília, a farmacêutica, não foi nada difícil, ela era muito fácil de gostar e mais fácil ainda de se identificar, era difícil pensar em algo que a amiga ainda não sabia de sua vida. Inclusive o fato de que todas as noites após a faculdade e todos os finais de semana, desde a chegada, Marina passava online, jogando e conversando com amigos virtuais. Não seria exagero dizer que a vida virtual que levava lhe salvara a vida algumas vezes. Era seu ponto de fuga, seu refrigério, o lugar para onde ia para não ter que pensar no passado e nem decidir sobre o futuro, ainda não, não agora. Por hoje, tudo o que Marina queria era poder logar e vencer algumas batalhas no pvp, que, certamente, eram mais fáceis que as batalhas da vida "real".

       - Vou sim Cissa. Hoje eu pego Rank um! escreve aí.

       - Você sabe que eu não faço ideia do que está falando, né?

       - Pois devia! Não sabe o que está perdendo.

       - Fico com minhas séries, obrigada.

          Conversar com Cissa era tão fácil, tão leve. Marina amava o tempo que passava com ela. Cecília sempre tinha um sorriso no rosto miúdo, parecia mais uma adolescente colegial que uma farmacêutica formada,dona do seu próprio nariz. - Um dia, serei como ela, vou terminar os estudos e me tornar uma historiadora de sucesso, trabalhando em algum grande museu e viajando o mundo fazendo pesquisas - Com esse pensamento e um sorriso nos lábios, Nina abre a porta do apartamento, um pequeno cubículo que seu salário lhe permitia pagar. Hoje não havia aula, a universidade entrara em greve pela segunda vez no ano, o que era ruim, pois depois iria perder as férias recuperando o tempo perdido e repondo aula. Mas hoje, só por hoje ela não iria pensar nos problemas. O computador - sua primeira conquista desde que decidiu largar tudo e fugir para a capital - estava na mesinha improvisada no canto da sala com uma cadeira simples com uma almofada logo a frente e uma garrafa de coca-cola abandonada ao lado a fizera lembrar da noite anterior que passara jogando.

       - Hoje vai mocinho, hoje eu pego esse ranking um! - Marina fala balançando o dedo indicador em direção ao computador enquanto se direciona para o quarto. Um pequeno quadrado com uma cama e uma cômoda envelhecida que ela usa como guarda-roupas. Uma toalha e o pijama devidamente dobrado a aguardam em cima da cama perfeitamente arrumada. Tomar banho, comer qualquer coisa e depois logar. partir em direção a Azeroth, até os campos de batalha e arenas, assim tinham sido todas as noites e hoje seria igual. Ela sorri. Um bom plano. Perfeito!

          A água do chuveiro cai molhando seu cabelo e ela se  perde em seus pensamentos, indo longe, deixando a água levar as preocupações do dia, do passado ou do futuro ...

                                                                                                    II

          A chuva caía fina e suave, a grama mal estava molhada e o cheiro de flores e da terra úmida a desperta. A jovem acorda ainda sonolenta, como quando se dorme uma tarde toda de verão sem hora pra acordar. Ela abre os olhos e leva algum tempo para perceber onde estava. A coceira da relva no rosto a faz levantar e perceber que estava dormindo embaixo de uma grande árvore - uma enorme árvore na verdade - Marina olha ao redor ainda sem entender. Estava cercada por árvores gigantes, folhas enormes, flores em tamanhos e formatos que nunca vira antes. Ela percebe que suas roupas estão molhadas e...- que droga estou de pijama. O barulho pouco comum a chama a atenção, então ela percebe que atrás da enorme árvore havia uma estrada rústica, vicinal - é sério isso? onde estou? - o barulho aumenta e ela percebe que algo se aproxima - cavalos? - instintivamente a moça se esconde atrás da árvore. - obrigado por ser tão grande dona árvore - o barulho cessa e ela percebe que o que quer que tenha se aproximado parou exatamente em frente a sua árvore.

       - Vamos acampar aqui senhores. Montem acampamento e acendam uma fogueira, sei que estão ansiosos pra chegar em casa, mas os cavalos precisam descansar.

          Cavalos? Acampar? Como assim? - A voz era grave e levemente rouca, e estava muito perto, perto demais. Precisava sair dali, voltar para casa, pra capital - será que voltei pra casa? eu me lembraria se tivesse feito uma besteira dessas ... e quem anda de cavalo hoje em dia? - Criando coragem e prendendo a respiração ela espia pela lateral da árvore.

       - Saudações senhorita. - Marina quase bate com o rosto na armadura metálica do soldado - medieval? - que a olha de cima a baixo preocupado. - Estás bem? fostes assaltada? essa estrada não é segura para uma jovem andar sozinha, onde está sua carruagem ou cavalo? Precisas de ajuda? - quantas perguntas, quem é você?

       - Eu... é... eu... onde estou? - foi tudo o que conseguiu pronunciar ainda tentando absorver a imagem de vários soldados, cavalos e aquele cheiro forte esquisito de suor e sujeira que invadia suas narinas. O soldado a olha confuso e sorri.

       - Estás na estrada real, a meio caminho do norte, há dois dias de Arathi, é para lá que estavas indo? - o cavaleiro tira a capa e a oferece - Coloque isso, deves ter passado por uma terrível situação - ele a olha de cima a baixo - a deixaram somente com as roupas de baixo. Se me contares o que exatamente aconteceu, poderei mandar alguns homens ao encalço dos assaltantes.

          Cecília olha para seu pijama envergonhada. Arathi? Eu já ouvi esse nome...

       - Desculpe, onde disse que estou?

         O Comandante Fordring sorri com olhar compreensivo, como se ela fosse uma criança perdida em Negraluna.

       - Estás segura agora. E se nos permitir, poderemos acompanhá-la até a cidade mais próxima, onde poderás retornar para sua casa, temos um bom mestre de grifos lá, os preços são acessíveis, podem te levar para praticamente qualquer lugar de Azeroth.

         Azeroth... Azeroth...  - AZEROTH?

                                                                                  III

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⏰ Last updated: Mar 05, 2020 ⏰

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