De volta ao infer... digo, à escola

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— Ela tem me feito companhia enquanto você estava em casa... ela é uma boa companhia, mas fala coisas mais constrangedoras que você!

— Tem certeza? Acho que você só não tá acostumado a conversar com uma garota como ela.

— Talvez!

Entrei na sala com Anthony, e a professora já estava na mesa se preparando para a aula. Assim que me viu, não conseguiu esconder a curiosidade, então tive que explicar o motivo de estar assim. Vi Liz sentada no lugar de sempre, acenei e sorri para ela antes de ir para a minha mesa. Eu devo estar parecendo muito ferrado mesmo, porque aprofessora até ofereceu para me ajudar, mesmo com Anthony já ao meu lado me dando suporte. Não que eu precisasse tanto assim – pelo menos sentar sozinho na minha cadeira eu consigo.

Durante o intervalo, fiquei na sala. Ficar andando de muletas por aí é complicado. Anthony e Liz me fizeram companhia e até trouxeram algo para eu comer. Achei muito bonitinho eles cuidando de mim.

No fim da aula, fiquei sentado em um banco no pátio, esperando meu pai chegar. Anthony continuava por ali, me atualizando sobre o que eu perdi durante a semana em que faltei, mas Liz... sumiu. Parecia estar tudo bem, mas, pensando agora, ela falou menos do que o normal comigo.

— Se quiser, posso dormir lá na sua casa e te explicar os assuntos! — disse Anthony, acariciando o queixo, como sempre fazia. Ô mania estranha. — Se seu pai falar com minha mãe, talvez ela deixe!

— Se você acha... — dei um sorriso desconfiado. Meu pai é legal, mas duvido muito que ele consiga convencer a mãe do Anthony.

— Heitor, o que aconteceu, cara? — a voz de Henri surgiu atrás de mim. Ele se aproximou e, ao ver a bota no meu pé, ficou boquiaberto. — Eu vou matar o Fred!

— Que isso, cara? Não precisa, tô tranquilo. — Sorri. Para ser sincero, estar machucado não é tão ruim, pelo menos estou livre dos treinos. Mas é chato que tenha sido algo tão sério.

— E como ficamos agora? Você é um dos mais rápidos e o melhor na sua posição! — disse Henri, um pouco irritado, enquanto dava a volta no banco para se sentar ao meu lado. — E agora?

— Cara... posso tentar arranjar alguém... — Olhei para Anthony e coloquei a mão no ombro dele. — Anthony, que tal jogar futebol no meu lugar?

— O quê?! — Ele saltou do banco como se tivesse sido queimado e começou a se afastar. — Não, não, não! Você sabe que eu odeio essas coisas!

— Além disso, ele é péssimo em qualquer esporte! — completou Henri.

Henri estuda no mesmo ano que a gente, mas em outra turma. A escola é grande, tem muitos alunos, então as turmas foram divididas, mas todo mundo sabe quem é bom nos esportes. É por isso que só os melhores formam os times para os campeonatos.

— Isso é porque ele não se empenha! Anthony é mais baixo e tem menos massa que eu, o que significa que ele é mais leve e, portanto, mais rápido! — Sorri, tentando convencr Henri, depois olho para Anthony — Você consegue, cara! Basta se esforçar.

— Tuto! — A voz do meu pai me paralisou por um momento. Olhei para ele se aproximando. — Vamos?

— Tuto, é? — Henri riu e levantou. — Até mais, Tuto! A gente se fala!

— Vai se foder!

Pego as muletas, levanto irritado e caminho em direção ao meu pai, com a cara fechada. Ele sabe muito bem o que fez, mas mesmo assim está lá, sorrindo todo orgulhoso. Ele vai me pagar. Como ele tem coragem de cometer esse crime na frente de todo mundo? Tá, não tinha tanta gente assim, mas ainda é constrangedor.

Heitor Onde histórias criam vida. Descubra agora