Capítulo XVII

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Lover podia imaginar o que Laurence Hawkins estava pensando: lá vai ele, tentando ascender novamente e falhando miseravelmente. Patético!

— A situação... não saiu do controle, senhor — respondeu com uma pequena pausa, selecionando suas palavras, estudando-as na medida certa para tentar prever qual reação viria de Laurence.

— Ah, não? Pois a administração do Condado pensa que sim.

— E por que pensam isso?

— Além desse anúncio vergonhoso no rádio, foi inevitável não pensarmos: por qual motivo Lenny Lover esconderia um caso que está sob controle?

O delegado engoliu em seco.

— Já sabemos que Lucas Yard e Ursel Hargroove foram mortos, delegado, e o seu retardo em tornar isso público é alarmante.

— Crianças morrem todos os dias... — tentou ponderar, porém foi interrompido por Laurence no mesmo instante:

— Sim, infelizmente, morrem de leucemia, de acidentes, mas quando um assassino está à solta não se pode tratar da situação como uma mera casualidade, delegado.

Era impressionante como o tom de Laurence conseguia ser firme ao mesmo tempo que ameno. Ele falava de forma impositiva, séria, de fazer as pernas tremerem — as de Lenny, certamente —, mas nem ao menos elevava seu tom.

— As pessoas merecem saber quando estão seguras ou não.

— Vocês me pediram para abafar o caso — retrucou com cautela.

— Não, Sr. Lover, isso foi o que você quis fazer. — Laurence inclinou a cabeça para o lado. — Nós apenas pedimos para que agisse com cautela e precaução, para que um alarde não fosse criado antes da hora.

— Foi o que eu fiz!

— Não...

— Sim! — Sua voz elevou-se.

— Maneire seu tom, delegado.

— Eu fiz o que me pediram. Vocês não queriam um escândalo...

— E olhe por onde estamos seguindo! — pontou com o gesticular das mãos. — Um jornalista de outro Condado fazendo notícia sobre este. Francamente, delegado, Painswick sofre de uma falta de coordenação tremenda!

Então, tomado por uma súbita coragem, Lover replicou:

— Vocês são hipócritas.

Laurence sorriu, uma fileira de dentes brancos brilhando na direção do homem.

— E o senhor trabalha para nós, e sugerimos que o faça direito.

— Vocês não queriam um alarde...

— Mas já aconteceu — interpelou-o. — Não adianta ficar repetindo isso, a situação não irá mudar.

Um instante de silêncio e Laurence apoiou os braços sobre a cadeira.

— O Condado preza pela eficiência e segurança, Sr. Lover. Há anos que o caso mais violento foi uma briga em uma reunião escolar onde uma mulher tentou cortar um homem com uma faca por um estúpido bolo. — A respiração do Sr. Hawkins pesou. — É por isso que o nome do Condado não pode estar relacionado a um fracasso. A um banho de sangue.

Foi então que um estalo mudou as sinapses dentro de sua cabeça e Laurence assistiu ao iluminar do rosto do delegado.

— Deixe-me adivinhar: teve uma ideia brilhante? — ironizou.

— Na verdade, sim — afirmou Lenny com uma postura melhor, endireitando os ombros. — O Condado não quer seu nome ligado ao sangue de crianças, assim como eu também não, mas sei de alguém que pode levar a culpa.

Passado Perverso (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora