Na sala as mulheres vem e vão falando de Antonioni,
durante o eclipse, à noite, uma aventura.
Uma revolução e um tango, e mil e novecentos
e sessenta e oito, maio, maio e um tango
e um passo para trás, e os hippies, deixe estar,
outro passo para trás e os beats, na estrada.
Veni, Vidi, Vitti e Moreau,
amantes, constantes, acossados.
Nietzsche e Mirbeau;
retorno eterno ao jardim dos suplícios,
ao jardim dos suplícios...
Os sessenta acabou quando partiu-se os quatro,
'cabou de repente, quando caíram Jimi e Janis,
quando a mídia transformou a comunidade hippie
numa única grande família Manson
que assombraria os pais de virgens suicidas
em casas bonitas e gradeadas de gramados verdes.
Quão insensível a melodia que era doce,
o cinema que era novo, que era livre
e derrubava paredes, onde quer que fosse
Quão insensível o rapaz da gaita e do violão
E eu, canhestro, imitando Eliot e Don McLean,
sem ter estado lá, ter sofrido, ser o homem
e o outro e a outra, masculino e feminino,
relembrando os relâmpagos de ontem,
e os eclipses e as noites e as aventuras.