Café (ou a busca)

4 0 0
                                    

Eu sou viciado em café.

Todo dia eu tenho que dar um jeito de tomar café. Um café bom, bem encorpado, retirado com sabedoria da máquina, produzido com maestria e inteligência a partir de bons grãos. Existem dias em que eu tenho que mudar completamente minha rotina só para que eu consiga manter o vício sob controle, embora talvez com todo o esforço que eu faço, seja um pouco forçado dizer que tenho algo sob controle. De qualquer maneira, tomar café todo dia tem sido uma das poucas coisas na minha vida que ainda faz sentido.

Eu sou mais um exemplo de uma crise que vem assolando nosso mundo de 2025: eu não tenho a menor fé mais. Como tudo na sociedade, o amor também passou por mudanças, não necessariamente evoluiu. Em meados de 2018 já era subentendido pela maioria das pessoas, principalmente jovens, que as relações humanas eram cada vez mais superficiais, os compromissos não eram mais bem claros tampouco eram sequer compromissos em si, longínquos, sinceros e declarados. A única garantia que se tinha de estar com uma pessoa era estar com ela em um exato momento, passado o momento nada mais é garantido. Pode ser aquela menina que você é apaixonado, no dia seguinte ela pode ficar com seu melhor amigo e com o passar dos anos situações assim eram vistas cada vez com menos julgamento.

Tinder foi o primeiro passo tecnológico para essa crise. Um local abstrato onde você podia ser o mais objetivo possível: "quero uma transa rápida", "quero apenas um lance", "não venha com sentimentos", eram frases frequentes nos perfis do aplicativo. Uma deslizada para o lado esquerdo: "eu estou disposto a dar afeto a você, por um tempo indefinido, provavelmente curto", um mover de dedo para o lado direito: "eu não gostei de você baseado em uma fração de segundo que pude observar sobre você". O clique, o "like", passou a ter um significado gigantesco e as pessoas um significado quase descartável. O que é bastante irônico, as pessoas são o centro dessa relação toda, mas aplicativos como o Tinder nos colocaram tão próximos de tantas pessoas, de tantas opções, que uma pessoa, perto de uma amostra gigantesca de pessoas, perde seu significado.

A falha do Tinder, e todo movimento novo, precursor pode falhar por falta de perspectiva; foi ser talvez abrangente demais. Para uma pessoa mais purista, o Tinder sozinho seria uma abordagem bastante objetiva já das relações emocionais. Todavia para jovens usuários dessa novidade, a coisa podia ficar mais prática ainda, afinal de contas tudo que o esse aplicativo considerava era a distância para achar possíveis matches (pessoas que você deslizou positivamente, indicando que quer conhecer, que fizeram o mesmo com você). Mas ele não considerava vários outros fatores que se resolviam na conversa "pós-match" ou no próprio encontro.

O tempo foi passando e não havia mais tempo a ser perdido com encontros ineficientes, encontros com pessoas que você não tinha real interesse, mas não sabia até chegar lá. Esses jovens eram de uma geração em que até seu relógio tinha que ser produtivo. O seu óculos podia lhe mostrar um vídeo importante da empresa, o relógio pode responder e-mails, uma pulseira observa sua saúde (assim você gasta menos tempo indo até um médico especializado), seu carro te conectada com as pessoas que deseja, o dia em que descobri que o Japão havia desenvolvido uma privada que te lembrava do seus próximos compromissos durante a "hora H", eu simplesmente desisti de continuar compreendendo o conceito de "praticidade". De repente a vida é muito curta para arriscar no Tinder.

O grande problema da busca do Tinder pela distância é uma questão social. Várias pessoas de círculos sociais querem se manter em seu círculo social, uma questão de segurança, de não se envolver com o desconhecido. Foi com isso que começaram a surgir diferentes "Tinders". "Tinder-da-festa-do-fim-de-semana", "Tinder-do-trabalho, "Tinder-da-escola", "Tinder-da-faculdade", entre outros. Onde você fosse existia uma maneira de encontrar pessoas, nunca foi tão fácil e objetivo encontrar alguém.

Has llegado al final de las partes publicadas.

⏰ Última actualización: Mar 29, 2020 ⏰

¡Añade esta historia a tu biblioteca para recibir notificaciones sobre nuevas partes!

Café  (ou a busca pelo que já temos)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora