Che Te Dice La Patria?

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Inspirado por conto, de mesmo título, de Hemingway

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Inspirado por conto, de mesmo título, de Hemingway

Quanto tempo? Ainda quanto tempo? Umas quatro horas. Até a fronteira? A fronteira está a quatro horas de distância? Mais ou menos isso. Acelera, corra, meta este pé na tábua! Não adianta, não faz diferença. Corra, porra! Não aguento mais verde, não aguento mais sol. Morro, serra, ribanceira, pradaria... Corra, acelera. Não importa por quê.

Era isso o tempo inteiro. Às vezes, a selva é bem silenciosa. Às vezes faz um burburinho. Ernesto continuava falando ou gritando, sei lá.

Subindo num chevette velho, a rua estreita e íngreme, via-se o horizonte atrás de um desfile de morros. O sol esplandecendo. Delineando cada detalhe. Como se o mundo fosse forjado por uma mão cuidadosa. Verde de farda brilhante. Sol raindo feito cruzes de platina, medalhas de bravura. Ele cerrava os olhos para não ver. Para passar o tempo e deixar eu dirigir. Fechava e abria os olhos. Fechava os olhos, abria, fechava, abria-os. Não dava pé. Tudo naquele morro ardia. Fazia o possível para deixar passar um tempo só para voltar com a ladainha, como se tudo ardesse, como se o dia iniciasse de novo, tudo de novo. Aquela musiquinha nos meus ouvidos, " Corra, acelera, pé na tábua. Não aguento mais verde, sol, floresta, cipó" Tudo bem, eu dizia, por dizer, daqui a pouco escurece.

Se aprendi alguma coisa fugindo da polícia é que não precisa se apressar. Pode ficar tranquilo, ou se afobar. Uma vez comprometido nessa empreitada, não sou eu que guio. Os homens aparecem. Faz sol, faz chuva. Eles aparecem. Pelo menos o dia estava realmente esplendoroso. Não era de se jogar fora. Um verde raiado de amarelo.

A fronteira estava mesmo a umas quatro ou cinco horas de distância, estávamos de fato num chevette velho, que, aparentemente de deboche, ainda vazava óleo. Não adianta disfarçar nada. Nunca tem caô. A estrada pode ser longa ou nem tanto assim. Fazia cinco ou seis horas desse tal de sofrimento, quatro, cinco ou seis horas até a fronteira, tudo conspirava para me dar mais vontade ainda pra nos levar mesmo até o fim da linha.

Fatalmente, o estômago ronca. Precisávamos tomar providências. Cachaça serve. O whisky paraguaio. Falsificado, adulterado, para combinar com meu humor.

Paramos num restaurante/bar quase no topo da serra. Teríamos que descer e subir e descer. Melhor parar. A floresta também dá trégua. Amansou. Silenciou. E agora o sol era um espetáculo emoldurado. Acho que foi de tanto martelar a cuca. A floresta se cala. E Ernesto também, resistiu, mas se calou. Finalmente.

Paramos o carro uns cem metros antes do restaurante. No mato. Por força do hábito. E fomos andando um ao lado do outro como se fossemos amigos, o que realmente éramos, afinal. A fuga agrega. E não há nada de mais imbecil do que essa coisa de codinome. Pa quê? Usurpamos o direito de nossos pais de nos identificar. Enquanto nos aproximamos de mais um barzinho/restaurante com uma ou duas mesas no lado de fora, o interior escuro, uma televisão muda, não era nenhum homem que nos seguia, mas um garoto.

Che te Dice La Patria?Where stories live. Discover now