Capítulo 5 - Rafi

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 Você não gosta de ter sua beleza avaliada?

Não.

 Não tem motivos para isto.

 Eu sei que não devo me importar com opiniões alheias, mas isto é desconfortável. E você também não tem uma em seu perfil. Está se escondendo, por acaso?  Falo um pouco impressionada com minha ousadia. Em outras circunstâncias, não expresso meu ponto de vista tanta com facilidade. Talvez o fato de não estar sob seus olhos me faça não temer sua reação, e isto me deixa destemida.

Minha fala direta parece o ter amedrontado, mas após alguns minutos esperando sua resposta, eu recebo:

Sim.

Surpreendo-me intrigada com os motivos que o levaria a isso, mas imediatamente uma resposta óbvia surge em minha mente. Isto era ridículo!

Mais um homem casado buscando diversão extraconjugal na internet. Acho melhor encerrarmos por aqui, sinto muito, não posso te dar o que você procura.

Não. — Sua resposta chega rapidamente, seguida de outra. — Por favor, fique. Eu não sou casado.

Então, por que se esconde?

Não gosto de ter minha privacidade compartilhada em redes sociais.

Isto é um site de relacionamento. Utilizar uma foto não te expõe tanto.

Continuo não achando seguro.

Solto um riso com sua resposta. O que um homem poderia temer tanto?

Quantos anos você tem?

Dez?

Vinte e quatro. Isto está ficando realmente estranho.E você?

 Vinte. — Questiono-me se o que fala é verdadeiro. Ele é crescido o suficiente para se proteger das ameaças cibernéticas. Ainda tomada por dúvidas, continuo o interrogatório. — Seu nome não é americano. De onde você é realmente?

 Sou sírio, vivo nos Estados Unidos há alguns anos.

 Por que está nos EUA?

— Há guerra na Síria.

Oh, sim... A guerra. Como não havia pensado nisto?

— Como conseguiu ir para a América? Não é fácil se refugiar aí.

 Um general do exército americano me trouxe e me acolheu.  Que gesto nobre. Pergunto-me em que condições este homem o encontrou que o motivou a isso. Mesmo sem o conhecer estou certa de que é um homem honrado e bom, seria maravilhoso se existem mais pessoas como ele no mundo. Ainda movida pela dor e sofrimento que ele possa ter passado e sem crer na sua real identidade, peço-lhe sem pensar muito:

 Gostaria de te ver. Posso fazer uma vídeo-chamada?

Droga! O que eu fiz?

Não sei se estou preparada para isto e antes que eu consiga controlar meus pensamentos, as propostas indecentes do Eduardo já me atormentam. A forma como eu me deixava ser induzida a ceder-lhe o que queria e me expunha ante as câmeras me causa repulsa. Encolho-me com vergonha de mim mesmo, porém, antes que eu caia em desespero, recebo sua resposta:

 Não.  Observo a mensagem surpresa. Apesar de aliviada, não posso negar o desapontamento por ele não ter aceitado e ainda me negar tão secamente. Pergunto-me o que o leva a não querer revelar-se desta forma, contudo, de qualquer maneira, respeito sua escolha. — Desculpe, estou com um pouco de pressa agora. — Concluiu após uma longa pausa.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora