Quando Camila havia dito que iria viajar no final de semana, uma parte de mim ficou para baixo ao constatar que eu não a veria, mas, agora, estava começando a enxergar o lado bom naquilo. Precisava mesmo impor uma distância entre nós dois e a viagem veio no momento perfeito para isso. Aproveitaria aqueles dias para voltar a ser o Shawn de sempre, aquele que aproveitava a vida e que não se apegava a mulher alguma. Enquanto voltava com Bob para casa, quase vi meu subconsciente levantando o polegar para mim, satisfeito por eu ter acordado com o seu tapa na minha cara.


***


No sábado, tive uma reunião na parte da manhã e passei a tarde trabalhando em casa. Geralmente, fazia de tudo para não ter que trabalhar no final de semana, mas em época de lançamento, era quase impossível dar conta de tudo nos dias úteis. Só consegui parar depois das quatro da tarde, que foi quando realmente encerrei minhas atividades daquele dia. Só voltaria a ficar de frente para um computador na segunda-feira. 

Minha mão coçou para pegar o celular e enviar uma mensagem para Camila, mas me segurei. A essa hora, ela deveria estar na sessão de autógrafos em São Paulo, mas não foi por isso que me impedi de mandar a mensagem e, sim, porque resolvi levar a sério a decisão que havia tomado dois dias antes. Precisava mesmo colocar certa distância entre nós dois. Como estava muito cansado, deitei no sofá para ver um filme e acabei pegando no sono. 

Acordei com o toque estridente do meu celular e demorei alguns segundos para ler o nome do Pablo na tela. 

— Fala aí — murmurei com voz de sono, coçando os olhos e contendo um bocejo. 

— Que isso, cara. Tá morrendo? 

— Não, mas poderia. Estou morto de cansaço. 

— Que isso, esse não é o Shawn que eu conheço! Levanta logo dessa cama e vem encontrar com a gente aqui na Lapa. Tem um monte de gostosa te esperando. 

Franzi o cenho ao ouvi-lo e olhei para o meu relógio de pulso, pensando que ele estava louco em me chamar para ir para Lapa tão cedo. Fiquei assustado quando vi que passava das nove da noite. Porra, eu tinha mesmo apagado no sofá. Por um momento, pensei em não ir, estava cansado e desanimado para cair na farra. No fundo, estava morrendo de saudade de Camila e preferia comprar alguma comida para jantar com ela no seu apartamento, vendo um filme velho da Netflix, do que sair para farra com os meus amigos, mas logo caí na real.

Primeiro, eu não era do tipo que recusava um convite de amigos. Segundo, eu jamais trocaria uma noite ao lado de uma mulher para ficar vendo filmes na Netflix e, terceiro, Camila estava em São Paulo, a quilômetros de distância. 

Levantando do sofá, falei para Pablo antes de desligar: 

— Chego aí em meia hora. 

Tomei um banho demorado para relaxar os músculos tensos depois de dormir no sofá, me arrumei e parei em frente ao espelho, vendo Bob deitado em seu lugar favorito no meu banheiro. Eu quase podia sentir o julgamento em seu olhar, era como se ele me falasse, silenciosamente, que eu preferia passar o resto da noite ao seu lado do que ir para Lapa encher a cara. Ignorei seu aviso silencioso e saí do banheiro, ouvindo seus passos atrás de mim. 

Antes de sair de casa, coloquei mais um pouco de água e comida em seu pote e me virei para ele. 

— Cuida de tudo por aqui e, já sabe, nada de mijar nos móveis, garotão. 

Cheguei na Lapa e logo entrei no bar em que meus amigos estavam. A música ao vivo tornava o ambiente quase ensurdecedor e, ao invés de me sentir acolhido — como eu geralmente me sentia —, tive vontade de ir embora. Lógico que não fui e logo encontrei Pablo, Tomas e Hugo em uma mesa rodeada de mulheres. 

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