01. ─── SANGUE É MAIS TURVO QUE A ÁGUA

Começar do início
                                    

Lyriana Targaryen, a sexta filha, rodeada de irmãos-dragões — como deleitava-se a se referir — se sente inadequada, uma falha.

Ansiava brandir sua espada, aprender golpes unida aos irmãos, galopar no dorso de cavalos, partilhar de lendas e histórias de aventuras estrangeiras, mas preferir não alimentar esperanças. Nenhuma promessa a Deusa Tessarion pode lhe curar, não até o momento. Até seu irmão mais novo, Daegon, de seis anos, detinha maior disposição.

Ao menos, durante a temporada da alvorada, a mais importante para os descendentes da Rainha Visenya Targaryen, da Passagem do Crepúsculo — o ritual de passagem e amadurecimento; aos quatorze para donzelas e dezesseis para jovens cavaleiros — reuniu forças para ser consagrada preceptora do sangue em suas veias.

De olhos fechados, os pés tocando o chão, descalça, movimentava-se com fluidez. A sensação é gélida, seus pulmões respiram e latejam suavemente. Seus cabelos brancos balançam suavemente, presos pela fita lilás. Poderia sentir-se em comunhão com o ar, transmutando entre a graça, a mente nublada pela paz, os batimentos são suaves, cantarolando a cantiga valiriana, os movimentos tornam-se mais rápidos.

Em suas mãos, movem-se os leques, a lâmina entalhada no objeto é uma recordação de que sua feminilidade é uma arma, um memorando. Cada parte de seus músculos estão em comunhão, seu espírito elevando-se, a emoção atinge seu interior, até que o coração lateja, e Lyriana tropeça em seus pés, caindo de frente, violentamente ao chão, causando um grunhido de dor, frustrando-a da cabeça aos pés.

— Por Syrax...— ela resmunga, consternada. Levanta seu olhar, no entanto, reparando onde caiu, a escultura da própria Deusa, feita de mármore, em sua glória, usando os leques, esses que ela faria a recriação no dia. — Eu suplico.....

Lyriana pausou, incerta.

Escutou desde cedo por sua mãe, Aeriana Targaryen — esta que é a Sumo Sacerdotisa do Panteão Valiriano — sobre a responsabilidade das preces. Não é adequado prometer e pedir em vão. Os deuses concedem oportunidades, não conquistam as vitórias para seus devotos, lhe disse, o que conteve a língua da Targaryen.

A Princesa pôs a mão no coração, a fim de averiguar a dor repentina, o quão rápido e agressiva veio, deixou. A donzela treinou incansavelmente por horas desde a Hora do Rouxinol, vindo até o Templo Dourado — um dos templos do Panteão Sagrado criados pela Linhagem de Maegor para preservar a Fé Valiriana —, mas quis continuar.

Se eu tivesse energia o suficiente. Lyriana respirou fundo, aos quatorze dias de nome, via-se incrédula devido à sua condição. Só de cogitar como estaria em sua velhice, se sobrevivesse a maldição de sua família, poderia crer que estaria pior do que Rei Viserys.

— Que Tessarion me poupe — balançou a cabeça, a Deusa da Cura e Profecia ao menos poderia vir ao seu socorro. Mas, sabia que não seria curada por um milagre, nutrir esperanças era em vão.

Assim, tombou a cabeça para trás, no mármore, observando o esplendor do Templo Dourado, aguardando pequenos minutos para retornar ao trabalho.

Haviam três templos dentro do Panteão Dourado, dedicado aos três grandes deuses; Balerion, Vhagar e Aegarax. Cada um deles, repleto de devotos, os estrangeiros de Lys — esses atraídos pela existência do culto — tornavam-se os mais notórios. Lyriana ainda não entendia o motivo de dentro da Casa Targaryen sua linhagem ser a única a insistir no culto dos Deuses Valirianos.

É ridículo vê-los traindo nossas origens. Escutou certa vez, seu irmão, Príncipe Aemon, de forma petulante, sendo prontamente corrigido pelos pais, expressando descontentamento pelo quanto a Fé dos Sete parecia estar impregnada.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 17 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

CONFUTATIS MALEDICTIS ⸻ AEMOND TARGARYENOnde histórias criam vida. Descubra agora