I is for Imprudent

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Não pôde evitar observar as interações do aluno e do professor. Jungkook tinha um sorriso aberto, e parecia que contava alguma história para Ten, que também parecia animado. Ninguém diria que eram professor e aluno, Jungkook parecendo mais o seu irmão mais velho. 

Ele seria um bom pai.

A frase viera na cabeça de Taehyung de maneira involuntária. Por que continuava a ter essas ideias? Era seu subconsciente querendo saber se Jungkook tinha família, chutava. Se ele tinha uma companheira. 

Se tinha um companheiro. 

Limpou a garganta e chamou por Ten com a voz clara. O primeiro a levantar os olhos fora Jungkook, lhe recebendo com um meio-sorriso nervoso. 

Taehyung apenas assentiu curtamente com a cabeça. Jungkook reparou os seus olhos um pouco fundos, viu que Taehyung tinha olheiras que geralmente não pertenciam à sua pele lisa.

Parecia extremamente estressado.

Taehyung os guiou até a ala de cirurgia. Jungkook deveria ficar em frente da ala, esperando em uma das cadeiras.  

E foi quanto Ten se mostrou apavorado, recusando-se a continuar andando. O medo de ficar sozinho com o médico era paralisante, pois o cenário que surgia em sua cabeça era daqueles reality-shows de cirurgia, com muito sangue e cortes e...

– Eu quero o treinador comigo. Eu não vou sozinho. – disse, convicto.

Taehyung não deixou que o medo do garoto tomasse conta, estando de certa forma acostumado com essas situações.  

– Ten, o acesso aos bloco cirúrgico é restrito à médico e anestesistas. – Taehyung fixou seu olhar nele, continuando de maneira firme. – Mas eu posso garantir total segurança a você. – Taehyung olhou para Jungkook. – Eu conheço o seu professor há muito tempo. Somos amigos de longa data, certo Jungkook?

Jungkook fez uma expressão cômica. 

– Claro. – Jungkook assentiu. – Pode confiar no Tae...hyung. Ele é excelente em tudo que faz.

Não queria que a frase soasse sexual, mas era exatamente assim que tinha saído, ao menos para os dois. Taehyung virou o rosto em sua direção imediatamente, um franzido irritado em sua testa. Jungkook achou que uma pequena mancha na parede em sua frente era muito interessante e merecia toda sua atenção. 

Taehyung voltou-se para Ten, que ainda não parecia muito confiante. Tentou apagar sua feição de desagrado, para não trazer ainda mais desconfiança ao mais novo.

– Se ainda assim não se sentir confortável, não precisa entrar. É sua decisão, está bem?

– Eu vou ver o sangue?

– Não. A cirurgia será feita com sedação somada a anestesia local. Basicamente, você vai estar dormindo. 

Isso considerou o que o médico dizia. Ele realmente não queria ser capaz de ver ou sequer ouvir o barulho do seu nariz sendo cortado, mas se fosse o caso de estar dormindo... 

– Tudo bem. – consentiu finalmente, assumindo uma postura mais confiante. 

***

Taehyung dirigiu-se até a saída, passando por uma das recepções do hospital. Era tarde da noite e o lugar assumia uma aura fúnebre. A recepção mais vazia, com apenas a emergência funcionando, e as luzes mais baixas deixavam a impressão que tudo estava estático.

Geralmente, quem estava ali naquele horário não esperava boas notícias.

Taehyung assustou-se ao ver Jungkook em uma das cadeiras. Foi pior quando o viu andando em sua direção. 

– Taehyung. – disse, simplesmente, como se o nome já dissesse tudo.

Preocupou-se que algo poderia ter acontecido com Ten. 

– Ten já foi liberado há um tempo, certo? Está tudo bem?

– Sim, já deixei ele em casa.

Ficaram em silêncio. O médico levantou uma sobrancelha bem feita no intuito de apressar Jungkook, como se não tivesse tempo para aquilo. E de fato não tinha.

Havia sido um daqueles dias terríveis no hospital, e realmente queria sair dali.

– Eu posso te ajudar em mais alguma coisa? – estava realmente impaciente.

Jungkook coçou a nuca. Não sabia o que estava pensando quando resolveu voltar para o hospital. E cometera uma loucura maior ainda: esperara Taehyung até tarde, tendo ludibriado a recepcionista para que revelasse o horário que o médico saía. 

Tinha feito tudo isso, mas não sabia exatamente o porquê. Sabia só que estava relacionado às olheiras que adornavam as pálpebras de Taehyung. 

– Você quer sair para tomar uma bebida?

Certo, não exatamente o que ele deveria ter dito, Jungkook pensou. Tentou consolar a si mesmo com a ideia de que poderia ter dito algo pior.

Para Taehyung, um convite para sair vinha em boa hora. Queria tanto fazer outra coisa que não fosse ir para casa dormir.

Mas não na companhia de Jungkook. Aquilo não seria prudente, seria?

Não deveria aceitar. Todas as suas células gritavam para negar, para não voltar a cometer o mesmo erro…

Para os mecanismos de defesa e sobrevivência no corpo, basta apenas uma experiência ruim para que se aprenda a evitar aquilo. A mente possui respostas que causam um estado de alerta sempre que alguma situação lembra uma experiência perigosa que se teve. 

E Taehyung estava prestes a ignorar todos esses mecanismos.

– Você estaria disposto a esperar dez minutos, só para eu tomar um banho? Não deve ser muito agradável beber ao lado de alguém cheirando a suor e sangue. 

Jungkook sorriu de lado, um sorriso que Taehyung reconheceu imediatamente. Já tinha sido sido alvo daquele gesto milhares de vezes no passado, afinal.

A diferença era que Jungkook teria que esforçar-se um pouco mais para afetar Taehyung. 

– Não consigo imaginar você sendo desagradável de nenhuma forma, Taehyung. 

– Isso foi antes. – Taehyung respondeu brincalhão. O brilho afiado estava ali, Jungkook reparou. – Hoje eu posso ser bastante detestável. 

Jungkook deu de ombros. 

– Acho que vou ter que ver por mim mesmo. 

Lie to Me (jjk + kth) - ConcluídaWhere stories live. Discover now