Prólogo

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Há muitos anos essas terras deixaram de ter o brilho de uma manhã bem iluminada. Nem o sol era realmente capaz de por vida nos poucos sorrisos que aconteciam ocasionalmente, nem a lua era capaz de apagar com sua beleza ás coisas devastadoras que ocorriam na mais perfeita escuridão. O terror devasta nosso mundo aos poucos, e o medo que o percorre nos persegue como parte das nossas sombras, como parte de quem somos. Qualquer coisa pode acontecer se você se não souber disfarçar seus sentimentos, ou se demonstrar qualquer gentileza. Qualquer um pode simplesmente desaparecer nas ruas, e nunca mais regressar a sua casa. Porque provavelmente foi morto em uma execução onde se rebelou contra a coroa.

Não há guerras, pois nenhum reino em sã consciência enfrentaria o tão temido reino de Monteblack. Ninguém teria coragem o suficiente de ver sua economia cair, pois todos os países são interligados a ele, e precisam dele para seu sustento.

Não há músicas alegres, pois alegria seria uma afronta ao rei, nem uma melodia triste pode ser ouvida nas vielas em dias normais. Nem o som de uma risada que insinue um resquício de felicidade. Não existem crianças aprontando nas ruas, pois tudo isso é rebeldia aos olhos de quem está no poder.

Vivemos com medo de nos expressarmos, de podermos falar abertamente como estamos nos sentindo, mas nosso tapete é justo e precisamos saber onde estamos pisando, porque nenhum caminho é claro para nós, e um passo em falso seria o mesmo que acabar com uma geração inteira. E ninguém gostaria de ver seus filhos mortos em uma forca, ou em paredão de fuzilamento depois de serem torturados pelos guardas que vieram do palácio. Ninguém gosta de ver a vida dos olhos de alguém se esvair sem um motivo plausível.

Nenhum resquício sobrou do que esse mundo já foi um dia, nem do que essas paisagens foram e representaram para outras gerações que estiveram aqui antes de nós. E que se deterioraram depois de muitas guerras entre seus próprios reinos séculos atrás. Não restou mais nada, até o caráter de um ser humano passou a ser deixado para trás e se tornou a ambição para uma única coisa: Poder.

Uma vez no ano. Temos apenas um dia no ano em que podemos esquecer o quanto nosso povo é amaldiçoado. Não existe nada que possamos fazer, não há nada que queremos fazer. Vivemos com medo de que um dia seja a nossa vez, de que nossos dias estejam contados enquanto o rei se deleita com as nossas mortes, impondo a ordem que tanto gosta em nossa sociedade. Não há como se libertar dessas garras que nos sufocam, não temos como fugir.

Temos apenas um dia no ano para sairmos de nossas casas e comemorar por estarmos vivos. E oferecer nossos bens a realeza, para mostrar nossa devoção a todos eles, principalmente àquele que herdará a coroa, e destruirá nosso povo com todo seu poder.

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