Kenma tirou uma das mãos de Kuroo de sua caneca, puxando-a para seu colo e começou a traçar círculos em sua palma. Havia a possibilidade de que contar a Kuroo o quanto estava assustando Kenma agora serviria apenas para afastá-lo ainda mais, então ele não o fez. Seu coração continuou a bater rapidamente no peito, ameaçando estourar para fora de sua caixa torácica.

  "Por favor?"

  "Eu não posso," Kuroo implorou, a voz fraca. "Você vai me odiar."

  Kenma bufou. 

  "Você sabe que não há nada que possa me fazer odiar você. Vamos, saia da sua cabeça e fale comigo, Tetsuro."

  Era verdade. O céu estava azul. O sol nasceria amanhã. Kenma nunca poderia odiar Kuroo. Mesmo agora, quando a maneira como Kuroo falava fazia Kenma se perguntar se ele tinha sido traído. Kuroo não faria isso; Kenma tentou se convencer.

  Ambos ficaram em silêncio depois daquilo, Kenma ainda traçando linhas sobre a mão de Kuroo, como algo para acalmá-lo. O silêncio foi ensurdecedor. Kenma queria dizer algo - qualquer coisa - mas ele não tinha palavras.

  E então, Kuroo falou.

  "Eu estou doente."

  O mundo de Kenma quebrou, ameaçando se estilhaçar em milhares de peças que não podiam ser consertados.

  Kenma congelou, piscando por alguns momentos antes de seu lábio inferior começar a tremer.

  "Você vai melhorar, certo?"

  Ele teve que perguntar. Kenma não queria nem pensar em mais nada, ele não se permitiria, não sem confirmação.

  Foi nesse momento que Kuroo se virou para olhar para ele, balançando levemente a cabeça.

Não.

  O peito de Kenma havia parado de doer, substituído por uma pontada aguda de dor onde seu coração estava. Ele queria que Kuroo parasse e dissesse que ele estava apenas brincando, mas com base no olhar sério e totalmente devastado em seu rosto, isso não iria acontecer.

  Kenma não perdeu tempo se lançando sobre sua alma gêmea, envolvendo os braços em volta dele e enterrando o rosto na curva do pescoço de Kuroo. Kenma não tinha certeza de quando começou a chorar, nem tinha certeza se seu cérebro havia conseguido processar totalmente a brevidade da circunstância. Kuroo estava tremendo embaixo dele; parecia que também chorava. Isso só serviu para fazer Kenma chorar mais, segurando Kuroo com mais força. Ele não queria se soltar.

  "Sinto muito," balbuciou Kuroo. "Eu sinto muito." Ele parecia derrotado. Se havia algum pedaço do coração de Kenma ainda intacto, então o tom de Kuroo com certeza o quebrara além do reparo.

  Kenma apertou Kuroo com mais força contra o peito. Ele não tinha palavras para transmitir que Kuroo não deveria se desculpar, mas esperava que Kuroo entendesse pela urgência do aperto de Kenma.

  Horas se passaram sem que nenhum deles quisesse se separar do outro. A cabeça de Kenma latejava com a quantidade de lágrimas que ele chorou, seu peito vazio doendo.

  Ele ainda não havia compreendido totalmente o peso da situação - qual seria o resultado inevitável. Como ele poderia? O choque tomou conta de seu sistema, sua mente parecia incapaz de computar.

  E Kuroo. Deus, o que Kuroo estava sentindo? Ou pensando? Ele achava que Kenma iria odiá-lo por isso, estava carregando tudo sozinho. Kenma distraidamente deu um beijo no ombro de Kuroo. Ele ainda o amava mais do que ontem. E amanhã, ele o amaria ainda mais.

          

  Além disso, Kenma tinha um vislumbre de esperança nele. Eles ainda tinham suas marcas de alma gêmea. Desde que Kuroo nunca dissesse a Kenma que o amava, tudo ficaria bem. Era assim que as marcas funcionavam. Contanto que continuassem como sempre fizeram, estaria tudo bem.

  Tinha que estar tudo bem.

  Kenma se afastou, segurando o rosto de Kuroo com as mãos. Ele queria dizer algo a ele, qualquer coisa, realmente, mas não haviam palavras para dizer que tornariam as coisas melhores. Não que Kenma ainda tivesse pensado.

  "Você quer os detalhes?" A voz de Kuroo continuou suave, como se estivesse com medo de ultrapassar algum limite invisível.

  Kenma acenou com a cabeça. Se o inimigo era invisível, Kenma pelo menos precisava ouvir sobre o que estava enfrentando.

  Kuroo olhou de volta para Kenma. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar, seu nariz e bochechas de um vermelho manchado e seu cabelo despenteado. Kenma não parecia melhor.

  "Você se lembra do que eu disse que deixou minha mãe doente?"

  Kenma lembrava. Ele piscou para Kuroo uma vez.

"Mesma coisa. Doença de Lou Gehrig. ELA."

  Kenma tentou se lembrar de tudo o que sabia sobre a doença, do que ouviu de Kuroo e dos poucos dramas médicos que cometeu enquanto estava na universidade.O principal sintoma era fraqueza muscular. Degeneração do corpo. Os sintomas aumentavam em gravidade ao longo do tempo.

  Sem cura.

  "Quão mais?" A voz de Kenma era um coaxar, ele mal a registrou como sua.

  "Fui diagnosticado tarde. Os médicos disseram que era difícil estimar. Provavelmente quatorze meses no máximo." Kuroo falou sobre isso com tanta naturalidade, a quantidade de tempo que ele gastou refletindo se tornou aparente no conhecimento de suas palavras.

  "Kuroo." Kenma nem sabia por que disse isso.

  "Eu sinto muito."

  "Isso não muda nada," sussurrou Kenma. Eles ainda eram almas gêmeas, ele ainda era Kuroo. Kenma ainda o amava.

--- ☾ ---

Kenma não sabia como se sentia sobre a concepção de que era uma pessoa tímida e quieta.

  Sim, para pessoas que eram estranhas para ele, ele pareceria assim. Nada, exceto olhos murmurantes e voltados para baixo, escapando de seus olhares de julgamento. Esse era o Kozume Kenma que a maioria das pessoas conhecia.

  Mas também havia o Kenma que se sentia confortável com as pessoas o suficiente para mostrar seu lado mais apaixonado. Para ver o brilho em seus olhos; ouvir a elevação de sua voz quando ele falava sobre algo com o que realmente se importava. Ele tinha certeza que em momentos como aquele, ele até chegou a atingir o volume do Bokuto. Ou pelo menos, foi o que lhe disseram.

  Uma pessoa que testemunhou cada um dos momentos mais altos de Kenma foi Kuroo. Ele estava lá quando ficou tão vidrado em um videogame que gritou quando perdeu sua última vida, ele esteve lá para ver Kenma gritar em uma quadra de vôlei quando pensou que Nekoma estava prestes a perder os nacionais, ele esteve lá para comemorar a emoção da primeira parceria da Bouncing Ball Corp.

  Talvez não tenham sido as experiências que permitiram que Kenma agisse dessa forma, talvez fosse realmente o fato de que Kuroo estava lá. Essa era a única conexão que Kenma podia fazer entre momentos como aquele.

  Talvez tenha sido por isso que ele não ficou surpreso com sua explosão pública; ele não ficaria surpreso se sua área de estudo fosse sua principal paixão na vida: Kuroo Tetsurou.

A Galáxia é Infinita (Pensei Que Nós Também) | Tradução Onde histórias criam vida. Descubra agora