𝕰𝖚 𝖙𝖊𝖓𝖍𝖔 𝖖𝖚𝖊 𝖘𝖆𝖑...

By JoyceLunas1

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Desde os seus quinze anos, Joanna se vê fascinada por uma história: A história da heroína que comandou o exér... More

Avisos
𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝙸 - ℌ𝔞𝔩𝔩𝔬𝔴𝔢𝔢𝔫
𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝙸𝙸 - 𝔏í𝔡𝔢𝔯
𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝙸𝚅- 𝔗𝔢𝔯𝔯𝔞𝔰 𝔄𝔩𝔱𝔞𝔰
𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝚅 - 𝔓𝔦𝔱𝔞𝔡𝔞 𝔡𝔢 𝔳𝔢𝔯𝔡𝔞𝔡𝔢
𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝚅𝙸 - 𝔄 𝔪í𝔰𝔱𝔦𝔠𝔞 𝔠𝔦𝔡𝔞𝔡𝔢 𝔡𝔞𝔰 𝔭𝔢𝔡𝔯𝔞𝔰
𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝚅𝙸𝙸 - ℭ𝔞𝔯𝔳𝔞𝔩𝔥𝔬 𝔢𝔫𝔱𝔯𝔦𝔰𝔱𝔢𝔠𝔦𝔡𝔬
𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝚅𝙸𝙸𝙸 - 𝔒 𝔯𝔞𝔦𝔷𝔢𝔦𝔯𝔬
𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝙸𝚇 - 𝔙𝔢𝔫𝔥𝔞, 𝔈𝔰𝔭í𝔯𝔦𝔱𝔬 𝔖𝔞𝔫𝔱𝔬
𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝚇 - 𝔅𝔦𝔟𝔩𝔦𝔬𝔱𝔢𝔠𝔞
𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝚇𝙸 - 𝔈 𝔫ã𝔬 𝔰𝔢𝔯𝔦𝔞 𝔲𝔪𝔞 𝔱𝔞𝔯𝔢𝔣𝔞 𝔣á𝔠𝔦𝔩
𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝚇𝙸𝙸 - 𝔄 𝔇𝔬𝔫𝔷𝔢𝔩𝔞
𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 xiii - 𝔄 𝔭𝔯𝔦𝔪𝔢𝔦𝔯𝔞 𝔣𝔩𝔬𝔯 𝔡𝔢 𝔭𝔯𝔦𝔪𝔞𝔳𝔢𝔯𝔞
𝘊𝘢𝘱í𝘵𝘶𝘭𝘰 xiv - 𝕮𝖗𝖎𝖆𝖙𝖚𝖗𝖆 𝖉𝖆 𝖓𝖔𝖎𝖙𝖊

𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝙸𝙸𝙸 - ℭ𝔩𝔞𝔳𝔞 ℭ𝔞𝔦𝔯𝔫𝔰

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By JoyceLunas1

I̲n̲v̲e̲r̲n̲e̲s̲s̲, ̲ ̲E̲s̲c̲ó̲c̲i̲a̲, ̲2̲3̲ ̲d̲e̲ ̲n̲o̲v̲e̲m̲b̲r̲o̲ ̲d̲e̲ 2019


   

       ꧁  Joanna꧂

   
     𝕋alves... Não. Essa é a viagem da minha vida. Estive em pesquisas constantes até encontrar Inverness, uma cidade na costa nordeste da Escócia, onde o rio Ness se encontra com o braço do mar Moray. Ela é a maior cidade e capital cultural das Terras Altas. E não é de se estranhar que a cidade com o segundo maior e mais profundo lago escocês, o Lago Ness, seja minha escolha. Essa vasta extensão de água é mais conhecida por uma outra razão. Diz a lenda que sob a superfície escura do lago vive o famoso Monstro do Lago Ness, carinhosamente conhecido como Nessie. Independentemente da veracidade desses fatos, o monstro é sinônimo de lenda e folclore escoceses, mostrando que minha escolha está mesmo certa. Logo, logo,  vou ver se realmente estou certa.
Cheguei no Aeroporto Heathrow em Londres ontem, era quase oito horas da noite. Peguei um táxi até a Estação King Cross. A estação é caracterizada por uma estrutura colorida futurista, com uma fachada clássica de tijolos, os largos arcos e o inevitável jogo de luzes dão ao lugar um toque de magia. Mas eu estava tão cansada e tão inquieta que não tive animação nenhuma para tirar fotos na Plataforma 9¾, como uma grande fã de Harry Potter que eu sou. Cochilei por alguns minutos na madrugada. Eu queria ter pagado um quarto de hotel, mas no fim, acabei nos bancos da estação, debruçada sobre a minha mala, esperando o horário do meu trem.
Às seis e meia da manhã, tomei um café reforçado em uma lanchonete, e às sete horas o trem parou na estação. Meu coração parou, e eu fui a primeira a entrar.
Minha escolha de viagem foi peculiar, e até eu não entendo. Eu poderia ter escolhido uma das nove empresas aéreas que realizam a rota entre cidades do Brasil e Inverness. O Aeroporto de Inverness fica a 15 km do centro da cidade e o trajeto pode ser facilmente realizado por táxis ou ônibus. Mas eu nunca andei de trem, e no centro de Inverness existe uma estação de trem com rotas que ligam várias cidades da Escócia e Inglaterra até a cidade, como Londres, Aberdeen, Edimburgo, Glasgow e vários outros lugares. Resolvi que se essa seria minha viagem, que, talvez, seja só de ida, e eu precisava de mais tempo para mim. Um voo de onze horas, e uma viagem de trem de sete horas. Muita coisa para pensar até o ponto final.
Viajar de trem pela Europa era um clássico algumas décadas atrás, mas ficou menos comum depois da chegada das companhias aéreas low cost. Para mim, foi como num sonho de olhos abertos. Do lado de fora, havia montanhas nevadas, lagos alpinos e fazendas típicas. Dentro, o conforto do trem, permitiu que passássemos por cidades geladas sem sentir um pingo de frio. A rota passara por campos de trigo, pequenas fazendas, praias e paisagens que eu jamais imaginaria encontrar. E eu pretendia dormir durante a viagem, mas aquela vista não me permitiu. No meio do caminho, ainda tinha penhascos, casinhas coloridas empilhadas, mar azul turquesa e muito verde. No final, ainda teve desfiladeiros, montanhas, penhascos íngremes e florestas de pinheiros.

   E lembrei da discussão que tive com Felicia. Ela finalmente falou, depois de semanas calada.

— Não quero que você vá. — Felicia entrou no meu quarto, enquanto eu guardava as últimas coisas em minha mala.

— Felicia...

— É a verdade. Isso não te trará nenhum bem.

— Você não sabe o que vou fazer lá.

Ela balançou a cabeça. Parecia procurar coragem para continuar aquilo.

— Você, e sua mãe... São as únicas que ainda conseguem pisar naquele lugar. Foram sete anos de tortura, e você ainda quer voltar?

— É você que está voltando no assunto.

Meu coração palpitava, parecia que estava prestes a sair da caixa torácica.

— Talvez seja isso que eu deva fazer. Voltar no assunto mesmo. O que ela diria? — Felicia parecia prestes a chorar. — Vocês estudam tanto. Dizem que a história é importante. Mas vocês apagaram ela da história! As fotos foram tiradas dos quadros, foram substituídas.

Aquilo foi como uma facada. Meus olhos arderam em lágrimas.

— É isso que você acha? Você não acha que eu não notei? Eu era criança! O que eu poderia fazer?

— E agora, vai ficar assim? Você... — Felicia estava cara a cara comigo. — Você adora história. Mas apagou Jeanine da sua vida. 

Empurrei Felicia para longe de mim. Lágrimas escorriam pelo meu rosto. Ela esfregou a mão no ombro, e me olhou intrigada.

      Foi o apito do trem que me fez voltar para o presente. Já estávamos na estação de Inverness, e era tres horas da tarde! Peguei minha bagagem de mão e minha mala. Caminhei pelo corredor do trem até a achar a porta da saída do vagão. Quando desci, algumas pessoas esbarram em mim, e notei que é uma estação de trem normal, não muito bonita ou particularmente limpa. E no fim, também descobrir que os sanitários custam dinheiro. Pelo menos a equipe é feliz e amigável.
Para a minha frustração, eu acabei me perdendo a caminho do ponto de ônibus, e acabei perdendo o ônibus. Isso porque os sinais para a rodoviária são enganosos. Agora eu sei que é melhor perguntar a um membro da equipe ou confiar no Maps para navegar.
Então, pedi um táxi. Um senhor gentil e muito alegre era o motorista, e ele foi logo falando quando entrei:

— Brasileira?

— Sim. — respondo. — Como percebeu?

— Você pode ter o melhor inglês, mas seu sotaque entrega.

— Oh. — eu rir. — Achei que estava fazendo o meu melhor.

— Como eu amo esse humor brasileiro. O que te traz aqui? Saiu de país tropical para passar frio? Não diga que veio para ver o Monstro do Lago Ness.

— Eu vir para aproveitar o frio de final de ano mesmo.

— Já que você vai ficar no hotel Best Western Inverness Palace, acho que o Nessie pode aparecer quando você for abrir as cortinas do seu quarto.

— Digo que será a melhor experiência da minha vida.

   O restante da viagem foi um silêncio.
Passamos pela ponte que passa por cima do lago Ness. Posso fingir que estou aqui por causa dele, mas, na verdade, estou aqui por causa das Pedras Mágicas da Escócia.
No caminho para o hotel, não deixei de notar também as diversas indicações e placas para Culloden. De fato, é uma das principais atrações perto de Inverness, não pela sua beleza (é um descampado, afinal de contas), mas pelo enorme peso histórico que teve para a Escócia. Foi, portanto, em Culloden, que um sonho escocês viu o seu final trágico e, com ele, a morte de milhares de soldados. A batalha foi tão sangrenta e causou tantas mortes, que as próprias placas na entrada do campo pedem que os visitantes o tratem com respeito por se tratar de um cemitério de guerra. Eu estudei sobre isso antes de vir para cá, já que Clava Cairns fica bem perto do campo, e chamou minha atenção.
A Escócia é um lugar místico. Descobri que aqui há histórias antigas que falam em distorções perceptivas, perda de memória e acesso a outras dimensões. E afinal, se existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa filosofia, então por que não viajar no tempo?
O círculo de pedras utilmente apresentou-se no curso da minha pesquisa sobre a geografia e cenários escoceses, então eu tinha um mecanismo para viagem no tempo! A verdadeira mecânica e implicações do processo, entretanto, necessitaram de um pouco de tempo para serem planejadas. Agora, eu não sei ainda se os círculos de pedras são apenas indicadores, com a intenção de serem avisos antigos de um lugar de desaparecimentos misteriosos, ou se as próprias pedras têm algum papel ativo na “abertura” de uma porta através das camadas do tempo. Eu estou inclinada a acreditar na primeira ideia, mas isso se mantém uma pergunta em aberto.
Em 2015, acabei conhecendo Outlander uma série de televisão de drama e romance britânica-americana baseada na série de livros de mesmo nome da escritora americana Diana Gabaldon. De forma bem resumida, Outlander retrata a vida de Claire Beauchamp e seu marido Frank, dois ingleses que estavam em uma segunda lua de mel em Inverness, na Escócia. Nessa época, Claire viaja no tempo e se vê no mesmo local, mas durante o século 18.
Mesmo sendo um romance histórico, Outlander, a Diana Gabaldon se aproveitou e muito bem da mística que existe sobre os círculos de pedra para validar sua teoria sobre viagem temporal. Eu fiquei obcecada, mas ao contrário do que eu acreditava naquela época, a ideia de que pedras antigas possam ser mágicas não é nada original. A autora se inspirou nas várias histórias já-existentes sobre esses lugares ao escrever sobre Craig Na Dun, um círculo de pedras fictício que foi montado com pedras de isopor, na região de Perthshire, para as filmagens de Outlander. Fora da ficção, relatos sobre estranhas sensações e histórias passadas em círculos e outros locais pedregosos sagrados da Escócia são documentados há séculos. Uma rica cultura de folclore e mitos existe sobre essas misteriosas pedras, tanto sobre suas origens quanto sobre os poderes que elas supostamente tem.

— Chegamos! — o taxista anunciou.

Eu fiquei encantada. Mesmo que eu tenha visto as fotos do hotel, isso não me preparou para este momento. É uma mansão vitoriana imponente. O Inverness Palace Hotel combina o melhor do passado com o estilo contemporâneo do presente, e isso é incrível!! Olho para a mansão quando saio do carro. Coloco as mãos na cintura, e dou um sorriso. Eu sabia que o Reino Unido em geral me traria coisas assim, e que a Escócia teria cenários com campos vastos e montanhas, castelos e ruínas, cidades medievais que parecem ter parado no tempo. Mas eu realmente não estou preparada para isso tudo! A última vez que estive na Escócia foi em Fort William, e eu realmente não lembro de quase nada da cidade.

— Você parece encantada. — o motorista sorriu, deixando a minha mala ao meu lado. — Ele é incrível mesmo.

— É sim.

Eu sei que eu não poderia me dar esse luxo todo. Mas meu pai me deu a passagem, dinheiro extra e tenho o dinheiro que meu avô deixou para mim. Esse hotel é situado nas margens do Rio Ness, em frente ao Castelo de Inverness. Ele oferece uma coleção de propriedades vitorianas e uma moderna casa de campo com jardim a poucos passos do centro da cidade de Inverness. Ainda apresenta a arquitetura do período em ambas as propriedades com um estilo contemporâneo. Uma elegante Brasserie, Bar e salões, completamente remodelado 10 At The Palace e é o único hotel à beira do rio Inverness com um novo e soberbo Clube de Lazer e Spa de luxo. Respirei fundo, eu poderia morar aqui.
Olhei para o motorista, ele estava apoiado no carro, parecia está admirando tanto o castelo quanto a mim, já que eu devo está parecendo uma criancinha olhando para um brinquedo desejado intensamente.

— Bom... — olhei para ele. — Você foi uma ótima companhia. Agora, vou entrar.

— Tenha uma ótima tarde. — Ele tirou a boina escocesa da cabeça, e fez uma leve reverência. — Que a Escócia te traga boas coisas.

— Obrigada. Boa tarde.

  Arrastei minha mala de rodinhas nas pedrinhas da entrada principal do hotel. Sim, eu ainda estava deslumbrada!
Quando entrei, vi mais coisas elegantes e rústicas. Parecia os sets de filmagens da série The Crown, e eu poderia me sentir como a Rainha Elizabeth II ou a Lady Diana.
A recepcionista foi a mais gentil possível, e fez meu check-in rapidamente. E logo fui para o meu quarto.
Encontrei uma cama enorme, com travesseiros aconchegantes e edredons macios até demais. Quando abrir a enorme cortina para olhar pela janela, acabei me deparando com o profundo e escuro Lago Ness. Abrir a janela e coloquei parte do corpo para fora, e olhei para aquelas águas. Dentro de mim, sentir que eu estava desafiando, querendo uma prova. Eu sei que por trás de toda história existe uma pitada de verdade. Depois de alguns segundos, me afastei da janela.
Caminhei pelo quarto, decorando cada espaço e tocando cada superfície. Na lareira, me abaixei e peguei o controle para liga-la. Depois me joguei na poltrona ao lado. Minha mochila estava jogada perto da poltrona, peguei e abrir o bolso pequeno. Havia várias fotos lá. Rostos familiares estavam impressos em cada papel: minha mãe e meu pai quando ainda era casados, meus amigos e eu em frente a hamburgueria Vassoura Quebrada, Felicia e eu quando éramos crianças, e por último, Jeanine e eu...
Depois do que Felicia falou, eu acabei entrando em mais conflitos comigo mesma. E se eu pudesse fazer algo?

            Acordei em um pulo. Olhei ao redor, e tive que fazer um esforço para me lembrar onde eu estava. Mas foi só ouvir o doce som da gaita de fole para meu cérebro dizer “ Estamos na Escócia!”. Já era tarde, quase sete horas da noite. E eu tinha deitado na cama só para um cochilo, e perdi uma tarde inteira.
Fui para a janela, e vi um senhor lá no pátio, vestido com uma camisa branca, colete, paletó, usando meias até o joelho e peças de tecido decorativo presas às meias, combinando com o padrão vermelho da saia, e usando lindos sapatos lustrosos e uma pequena bolsa levada na cintura e posicionada na parte da frente, e sim, ele está usando “saia” o famoso Kilt, e ainda tocando a mágica gaita de foles! Que som incrível!
Ainda nem andei pela cidade, mas já percebi que ela respira uma forte cultura! É lindo de ver como certos traços estão enraizados nos escoceses. Percebi que eles preservam bastante certos costumes dos antepassados. O que é um verdadeiro deleite para mim que estou apenas visitando o país!
Usar Kilt e tocar gaita de foles é algo mais formal, usado em casamentos, formaturas, comemorações e eventos especiais, esportivos e tradicionais. Então, seria a anunciação do jantar?
Fui até a mesinha ao lado da porta, e peguei o panfleto. Sim, está quase na hora do jantar.
        Antes de descer, tomei um banho rápido, coloquei um vestido xadrez e calcei minhas botas de cano baixo.
Para a minha surpresa, o hotel estava cheio. O salão de jantar tinha rosas laranjas em vasos brancos, e os garçons também estavam usando Kilt em uma cor verde.
Tinha um cardápio sobre a mesa, peguei e dei uma olhada. A culinária da Escócia tem muito em comum com a culinária da Inglaterra, mas tem lá suas particularidades e recipientes próprios. É uma comida robusta, rica em gordura e carne, e eu digo que a tendência dos escoceses em fritar tudo está contribuindo para o aumento dos problemas cardíacos, com toda certeza. Fiquei um bom tempo olhando os pratos bastante autênticos e alguns pratos, confesso, tem que ter coragem para experimentar. Até que pedi peixe a milanesa com batatas fritas.
Tive um jantar eufônico. Depois da abertura oficial, começou o coquetel, depois o jantar e uma apresentação de danças típicas. Textos de Burns foram recitados a todo o momento. Com espetáculos tradicionais escoceses em um lugar de sonho. Uma mansão, muito bem decorada, jantar impecável e um show incrível! Mas o ponto alto do jantar foi quando serviu o tradicional haggis, feito com carne de carneiro e temperada com pimenta e cevada. Ele entrou, soberano, no salão de jantar, e foi seguido por um músico que tocava a gaita de foles. Antes de servir o haggis, um escocês recitou um texto de Burns sobre o prato e, em seguida, ele o abriu com uma faca especial.

_________

 

         Para alguém que teve uma noite deslumbrante e festiva, eu conseguir acordar cedo. E ainda pude ouvir a gaita de foles tocando do lado de fora, agora num som mais leve.
Meu café da manhã sempre foi simples, mas não achei nada simples no cardápio do hotel. O café da manhã típico escocês consiste em ovos, bacon, tomates grelhados, salsichas, feijões, torradas e uma linguiça feita de sangue de porco, aveia, gordura e especiarias. Ah, tinha cogumelos. Eu acabei pedindo apenas uma uma espécie de mingau de aveia, mas não é muito doce. Eu comi uma vez só e achei com um gosto muito neutro, não gostei muito. Então, pedi bacon e tomates grelhados. Depois de um café da manhã desses, eu não vou sentir fome tão cedo, e assim espero.
    
      Depois de arrumar minha coisas, pedi um táxi, e lá foi eu e minha mochila cheia de coisas que eu possa precisar, e tem livros também.
Mesmo dentro do táxi, eu pude sentir. Andar pelas ruas de Inverness ao som da gaita de foles é entrar num mundo onde os sonhos podem ser alcançados com um esticar do braço. Não coisas materiais, mas overdose de vida! Vi pessoas dançando nas ruas e elas sorriam para mim como se me convidassem para se juntar a elas. Parece que o lema da cidade é: Liberte-se do padrão de turista normal e caia na magia!
Voltei a pensar em Joana D'arc, e também nas pedras de Clava Cairns. Se Clava Cairns não é o lugar, então, irei até a região de Aberdeenshire, que possui uma concentração de círculos de pedra fora do comum. São cerca de 175 registrados, mas como muitos foram destruídos com o tempo, restam uns cem inteiros.
Joana D'arc tinha se esforçado para conseguir chegar até o Delfim. Joana sabia que a instrução divina por si só não era suficiente para garantir acesso à presença real. Joana tinha ido a Vaucouleurs, e pediu ao capitão de lá que a levasse até o rei. Mas Baudricourt a mandou embora com uma pulga atrás da orelha, mas no fim do ano ela voltou, e levou com ela uma mensagem que atraiu mais atenção. Mas foi quando as notícias das insistentes alegações de Joana começou a se espalhar, que o duque de Lorena a convocou à sua corte para uma conversa particular. E quando Joana voltou a Vaucouleurs depois da audiência, ela descobriu que, fosse por causa ou consequência do interesse do duque, Robert de Baudricourt havia mudado de ideia: estava preparado para enviá-la a Chinon.
Se for para eu ter um Robert de Baudricourt, ou alguns habitantes que manifestem esperanças na minha missão de salvar Joana D'arc, que ofereçam agora, uma ajuda para essa perigosa jornada.
              Do hotel até Clava Cairns foram dezeseis minutos. O lugar fica a leste da cidade de Inverness. O taxista estacionou o carro num lugar meio improvisado, dei o dinheiro para ele  e entrei por uma porteira. A placa que fica na porteira diz que eles estão monitorando os efeitos da erosão nas pedras e conta com a ajuda dos visitantes para tirarem fotos e marcá-las com a hashtag #clavacairns.
Subi a estrada que estava escorregadia por causa da friagem da noite anterior. O lugar fica em um ambiente tranquilo e bastante arborizado. Sem dúvida, Clava Cairns aqui em Inverness é um lugar bastante místico e esotérico. Quando vi ele nas fotos não parecia tão impressionante, mas estando aqui pessoalmente é impossível não sentir respeito e reverência aos povos tão antigos que realizavam seus rituais.
Aqui tem dois tipos de formações de pedras: uma se parece com uma forma de pudim com uma fatia faltando. No centro fica a câmara funerária, cujo único acesso é uma passagem bem estreita. Entrei por essa passagem, minha mão esquerda deslizando delicadamente sobre as pedras. Uma energia diferente percorria e entrava por meus dedos, subia pelo meu braço e ia até meu coração, fazendo ele palpitar. Quando sair da câmara funerária, fui até um lugar que possuem entradas que estão alinhadas no sentido sudoeste. No solstício de inverno, a luz do sol poente entrava de forma perfeita e iluminava as câmaras centrais. Fiquei lá por um tempo. Percebi que eu realmente não estava preparada para isso.
Sair do lugar e fui para o outro tipo de formação, as pedras verticais que ficam espalhadas ao redor formando um círculo. Ao caminhar pela área, li umas placas que falam sobre os estudos que já fizeram no lugar, que mostram a relação do alinhamento solar com a entrada de luz nas câmaras, sobre caminhos (túneis) subterrâneos que teoricamente ligam todos os círculos de pedras da região, e várias outras curiosidades. Tem que dar certo, tem que dar certo! Esse é considerado um dos locais mais misteriosos da Escócia. Muitos turistas relatam sentir energias estranhas em Clava Cairns, e eu sinto o mesmo. Como se o vento estivesse me dizendo algo: vá embora!
As histórias antigas dizem que esses locais são propriedade do mundo espiritual, e que os espíritos se irritam com interferências humanas nos círculos.
Caminhei pelo circulo das pedras verticais, e toquei em uma. Fechei os olhos, sentir que eu estava querendo chorar.

— Joana... — sussurrei. — Joana!

O vento se agitou ao meu redor. Abrir meus olhos, e olhei para a pedra. Meus pensamentos estavam entre Joana e Jeanine. Então, o vento parou, e tudo ficou silencioso demais. Olhei ao redor, eu ainda estava sozinha. Sentir um grande privilégio em poder tocar naquelas pedras que há milhares de anos pessoas fizeram o mesmo durante suas cerimônias, que datam de 4.000 anos da Idade do Bronze. Então, me ajoelhei e comecei a chorar, e eu nem sei o motivo. Fiquei de joelhos no chão, mas algo me fez levantar, peguei meu celular e sair correndo. Voltei para o mesmo lugar que o taxista tinha me deixado, e continuei correndo até achar a estrada asfaltada. Não, eu não tinha viajado no tempo. Ainda estou em 2019!
Peguei meu celular, e pedi um táxi para Tyrebagger. E eu não parava de chorar, e isso até chamou a atenção do taxista que chegou quinze minutos depois que chamei ele.
      Foi um trajeto longo e silencioso, mas eu só conseguir parar de chorar depois que sair de Inverness.
Mesmo com um trânsito normal, foram duas horas de viagem até chegar na região Aberdeenshire. Foram duas horas que doeu no meu bolso, porém, o motorista me deu um desconto. Talvez seja porque eu estava chorando boa parte do trajeto.
Para começar, Aberdeen me recebeu com uma temperatura de -7°c. E, o acesso de carro é proibido em Tyrebagger. Tive que ir andando. Acompanhando meus passos no Maps do celular. Caminhei uns trinta minutos em uma estrada de chão meio congelada. Uma caminhada no frio, beleza. Aí tive que virar em outra estrada menor, e no final dela havia um portão fechado. Olhei ao redor, e pulei o portão!
E no final da estrada, lá estava Tyrebagger. Um círculo formado por enormes pedras verticais. Talvez eu seja apenas uma deslumbrada que acha tudo lindo, mas eu achei realmente lindo. Indescritível a emoção que sinto. A paz, o silêncio, e os 4.000 anos de existência ali, na minha frente. Mas eu tive que sair da minha contemplação arqueológica para fazer O TESTE. Tinha um casal mais afastado, tirando fotos das montanhas ao longe.
Fui direto para o círculo. Teria este círculo o poder de me transportar no tempo?
Minhas mãos estavam congeladas e vermelhas. Toquei em todas as pedras. Mas nada aconteceu, mas eu ouvia murmúrios, e não vinha do casal que estava ali perto.
Abracei algumas, e murmurei palavras e pedidos de ajuda.
Em desespero, me joguei no chão de joelhos, ergui as mãos para o céu e gritei:

— ME LEVEM!! — em gaélico. Uma língua que eu pouco sei.

— “Se eu puder encontrá-la em breve...” — uma voz feminina falou.

Olhei ao redor, mas foi quando virei-me para a pedra na minha frente, que eu vi uma mulher usando um vestido vermelho com longos cabelos castanhos em uma trança.
Sentir uma enorme tontura e enjôo, e então, tudo ficou escuro....

                       __________________

Primeiro capítulo do ano!

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