A Garota da Fita Vermelha

By Maduxpadfoot

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Rafael De Luca. Um grande astro do basquete internacional. Queridinho da mídia e do público femino. O garoto... More

Prólogo
UM
DOIS
TRÊS
QUATRO
CINCO
SEIS
SETE
OITO
NOVE
DEZ
ONZE
DOZE
TREZE
QUATORZE
QUINZE
DEZESSEIS
DEZESSETE
DEZOITO
DEZENOVE
VINTE
VINTE E UM
VINTE E DOIS
VINTE E TRÊS
VINTE E QUATRO
VINTE E CINCO
VINTE E SEIS
VINTE E SETE
VINTE E OITO
VINTE E NOVE
TRINTA
TRINTA E UM
TRINTA E DOIS
TRINTA E TRÊS
TRINTA E QUATRO
TRINTA E CINCO
TRINTA E SEIS
TRINTA E SETE
TRINTA E NOVE
QUARENTA
QUARENTA E UM
QUARENTA E DOIS
QUARENTA E TRÊS
QUARENTA E QUATRO
QUARENTA E CINCO
EPÍLOGO

TRINTA E OITO

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By Maduxpadfoot

◇◇ ◇◇ ◇◇ Rafael ◇◇ ◇◇ ◇◇

Acordo sentindo mãos tocando meus ombros. Por um estante penso que é a Lily me acordando com suas massagens gostosas e seus beijos carinhosos. Ela sempre me acordava assim. Mas eu escuto a voz da Nina e abro os olhos.

— O quê aconteceu? — pergunta, preocupada.

Passo meus olhos ao redor e vejo que dormi com a cabeça apoiada na mesa. Ao me sentar ereto, sinto minhas costas reclamarem.

— Você disse não? — Nina pergunta com os olhos aumentados.

— O pedido nunca chegou a acontecer — ela me olha mais confusa ainda. — Eu terminei com a Lily ontem à noite.

— Você fez o quê? — grita.

Então, ela começa a me xingar de todos os nomes que ela conhece. Quando o vocabulário em inglês acaba, ela parte pro italiano. Mas, de repente, ela para e me olha.

— Aconteceu alguma coisa. Você não ia terminar com ela assim do nada. Você estava parecendo um quadrúpede de tanto que a ama — ela diz.

Não posso evitar sorri um pouco ao escutar sua comparação. Ela me olha e sorri pequeno. Nina puxa a outra cadeira pro meu lado e me abraça apertado. Tinha esquecido o quão seu abraço é reconfortante. Ela acaricia minhas costas, e tenho vontade chorar novamente.

— Quer conversar? — ela nos separa.

— Não — não posso falar nada a ninguém. Se tentarmos fazer algo contra Caleb, ele vai publicar tudo aquilo em poucos segundos.

— Está bem. Quando quiser, estarei aqui — assinto com a cabeça.

Ela pega as alianças e sorri triste para a folha.

— Você não sabe quantas vezes ela escreveu e reescreveu esse discurso. Lily estava bem nervosa. Essa foi a versão que ela mais gostou, então ela botou embaixo do prato e tentou memorizar isso, com medo de não saber o que falar na hora — nós dois sorrimos.

— É bem a cara da Lily fazer isso.

— Sim, é.

Paro um pouco e penso na ideia que venho pensando há um tempo. Acho que esse é o momento perfeito para realizar isso.

— Eu vou passar um tempo longe — digo.

Os olhos verdes iguais aos meus se voltam pra mim com rapidez.

— O quê quer dizer?

— Quero dizer que vou passar um tempo longe. Fazer uma viajem sem data de retorno.

— Mas e o time?

— Vou sair — as palavras me doem, mas não tanto quantas as que eu disse à Lily.

— Vai sair? Vai se aposentar?

— Vou. Estou jogando profissionalmente desde os meus vinte. Estou cansado. Conquistei todos os meus sonhos, profissionalmente falando, e quero focar em outros sonhos.

Mesmo que meu único sonho esteja apagado sob efeito de remédios nesse momento.

— Eu estou surpresa. Achei que você jogaria por uns dois anos ainda. Mas tudo bem. Está na hora de se aposentar, velhote — ela brinca.

Sei que Nina está tentando quebrar o gelo e o clima ruim, e eu agradeço mentalmente por isso.

— Vou falar com o treinador hoje e fazer toda aquela burocracia — anuncio.

Depois de um banho, saio em direção à nossa arena. Eu já estava planejando a ideia de me aposentar e sair das quadras. Mas não planejava para agora. Talvez no final do ano que vem. Queria aproveitar mais uma temporada, sabendo que é a minha última. Depois eu me despediria oficialmente das quadras. Mas não tive muitas opções. Pelo menos eu já estava pensando nessa ideia, então não está sendo tão ruim. Ou então seja por quê eu já fiz a pior parte, e agora nada mais parece ruim.

Teve toda uma comoção quando a notícia de que Rafael De Luca vai se aposentar saiu. Me forcei a ser educado com as pessoas, mesmo querendo mandar todos irem se foder. Não disse  isso pois sei que eles não tem nada a ver com toda essa merda. Volto para casa e dou de cara com meus pais e minha irmã ali. Nina, como a boa fofoqueira que é, já deve ter contado aos nossos pais sobre minha viajem sem data de retorno.

— Só viemos nos despedir pessoalmente — minha mãe fala, como se me devesse alguma explicação.

— Tudo bem.

Eles me acompanham até meu quarto, e ficam conversando comigo equanto arrumo minhas malas. Sem que posso controlar, lembranças da Lily assolam minha mente. Ela sempre zombava da minha maneira de arrumar a mala, ou a completa falta dela. Suas malas eram sempre organizadas, mas as minhas eram uma bagunça. Ela me ensinou a arrumar a mala corretamente, mas eu sempre bagunçava apenas para vê-la com sua expressão irritada. Nunca consegui levar aquela expressão a sério. Sorrio ao dobrar as roupas adequadamente e colocá-las na mala. Lily estaria me beijando agora por ter feito tudo direitinho. Quase posso sentir seus lábios tocando os meus.

— Para onde você vai? — minha cabeça sai do seu mundo e volta pra Terra.

— Itália. Vou passar um tempo com meus nonni — digo. — A nonna sempre tem os melhores concelhos, assim como a torta mais gostosa do mundo. Preciso de um tempo de Los Angeles, e também de novos ares pra pensar.

— Não precisa se explicar, filho. Nós entendemos — mamãe sorri.

Arrastando a mala junto comigo, desço as escadas. Tranco a porta e me despeço dos três. Assim que entro no avião, deito a cabeça no encosto na poltrona e fecho os olhos. Ela não sai da minha cabeça. Tanto as nossas lembranças juntos quanto as novas perguntas que rondam minha cabeça. Olhando as horas, vejo que ela já deve ter acordado. Provavelmente está agarrada a Josh assistindo alguma coisa. Fico imaginando sua reação quando o efeito de letargia lhe deixar. Nunca vou esquecer aquelas palavras.

"Eles vão me levar de volta. Se você for embora, eles vão voltar."

Eles quem? Levá-la de volta pra onde? Essas e mais dúvidas rodam minha mente e brincam com a minha sanidade. O voo parece passar num estante, e logo estou nos braços rechonchudos da minha nonna.

— Você está com grandes problemas, menino — ela diz com aquele seu sorriso de quem sabe de tudo.

E realmente sabe. Quando entro na casa, o cheiro da sua famosa torta já tomou conta de todo o lugar. Nonno não demora a aparecer e me olha com aqueles seus olhos sábios. Ele me lança um olhar que diz que vamos conversar seriamente logo. Nem sei se estou preparado para isso. Não vou ficar na casa deles, mas sim numa casa pequena na cidade vizinha. É bem perto, mas longe suficiente. É uma cidade pequena, e eu costumava vir aqui sempre. Conheço todos os lugares. É reconfortante. Ninguém aqui me ver como um grande jogador de basquete. Eles bem apenas Rafael, o neto dos De Luca, o casal de velhinhos mais gentis do país, e filho de um casal divertido.

Ando pelas ruas estreitas e antigas, olhando as casas e estabelecimentos comerciais de aspecto antigo mas conservado. Parece que voltamos no tempo ao andar por alguns lugares. Passo pelo centro de Florença, onde Lily e eu visitamos quando a trouxe aqui para conhecer minha família. Cada canto me lembra ela. Vejo seu rosto nas pequenas coisas. O sorriso nos carros. O dourado dos olhos nos raios que incidem nas superfícies. A sua risada no tráfico, soando por cima de todo aquele barulho. Tudo é Lily. Sempre será sobre a Lily.

Meus nonni insistem que eu durma aqui pelo menos uma noite. Eles dizem que o porão foi reformado e que agora é mais um local para poder receber convidados. Realmente o local está bem diferente de quando vim aqui pela última vez. Lembro da vez que Lily foi presa aqui pelos meus primos e teve um ataque de pânico. Minha pequena. Durmo no mesmo quarto que nós dois dormimos daquela vez. Talvez eu apenas goste de me torturar. Ou talvez eu saiba que mereço sentir isso. Porque eu sei que, não importa a dor que eu estou sentindo agora, não chega nem aos pés do que Lily está passando nesse momento.

Talvez eu só esteja me punindo.

  ◇◇  ◇◇  ◇◇  ◇◇  ◇◇  ◇◇  ◇◇

Passo as festas do fim do ano na Itália com meus avós e minha família daqui. Mesmo não estando muito no clima, ainda sou contagiado pela alegria deles. Depois das festas, quando já estamos em janeiro, volto pra minha casa no interior da cidade. Janeiro é o mês mais frio na Itália, e isso me faz lembrar da Lily. Inverno é sua época favorita. Posso ver o brilho nos seus olhos em cada floco de neve que cai preguiçosamente do céu.

Tudo me lembra a Lily. Até quando faço um chocolate quente eu me lembro dela. Ela amava chocolates quentes, principalmente no inverno. Ela pegava uma grande caneca com esse líquido, subia pro seu escritório que ocupa grande parte do andar de cima do seu apartamento, senta à sua mesa, e escreve mais uma obra genial, enquanto observa a neve cobrir a cidade. Sim, ela sempre faz isso no inverno. A melhor parte é que ela sempre usava uma blusa ou um moletom meu, assim como sempre roubava minhas boxers novas. Eu sempre sorria quando a via daquele jeito.

Sempre tão linda e radiante. Como não percebi o que estava acontecendo? Como pude nunca desconfiar de sua felicidade extrema, sua animação constante. Lily uma vez me disse que nunca confiava em pessoas felizes demais. Ela disse que elas sempre escondem algo. Pode ser tristeza, raiva, dor, ou pode simplesmente estar tentando te enganar para algum fim malicioso. Não importa. O ponto é: ela não confia em pessoas que estão sempre felizes demais, pois estas são, muitas vezes, as mais tristes. Ela é uma dessas pessoas. E eu nunca reparei? A culpa volta a se infiltrar no meu cérebro como uma cobra.

No meio do inverno não tenho seu calor para me aquecer. Quando durmo não tenho seu corpo para abraçar. Quando acordo não tenho seus beijos para me fazerem sorri. Quando choro não tenho suas mãos pequenas para enxugar minhas lágrimas. E quando a ansiedade me ataca como uma velha inimiga, não tenho seu apoio para me deixar de pé. Caio no chão com um baque e sinto o pânico me devorar aos poucos.

  ◇◇  ◇◇  ◇◇  ◇◇  ◇◇  ◇◇  ◇◇ 

Você não me parece bem — Nina diz me olhando preocupada pela tela.

— Vou ficar bem — digo.

O inverno se arrasta sobre nós como um véu pesado de memórias agradáveis, porém dolorosas. Passei o último mês enfurnado nessa casa, saindo apenas para o básico e para visitar meus nonni. Nina e eu fazemos essas ligações todo fim de semana, para nos atualizar de como foi a nossa semana. Claro que ela é a única que realmente fala.

Essa não é a primeira vez que Nina fala que não estou bem. Eu não me sinto bem. Desde o que fiz, parece que toda a minha vontade de levantar da cama se foi. Tudo que faço é deitar na cama e olhar para a nossa foto juntos por horas. Eu lembro desse dia. Foi uma das nossas pequenas escapadas de fim de semana para um lugar mais afastado. Estávamos no inverno. Lily tirou uma foto nossa. Suas habilidades atrás de uma câmera em evidência pela perfeição da fotografia. Nós dois estávamos perto de uma das montanhas com seus picos de neve. Os sorrisos enormes nos rostos, olhos brilhantes, seu rosto corado pelo frio, mas com felicidade estampada na cara. Minha foto preferida.

Nina desiste de tentar me animar, e nos despedimos. Volto pra cama. Continuei nessa mesma rotina, até que, no dia seguinte, escutei batidas na minha porta. Ao abrir, os olhos preocupados e determinados da minha irmã aparecem. Ela entra sem ser convidada.

— Você vai parar com isso. Agora — diz séria.

— Isso o que?

— Isso. Esse lance se autopiedade já deu. Faz quase três meses que tudo acabou, e você está se afundando aos poucos. Eu vou interceptar isso antes que você chegue ao fundo do poço. Então, agora você vai tomar um banho, fazer a barba, e eu vou te levar para almoçar. Vai — me empurra até o quarto e fecha a porta do banheiro comigo lá dentro. — Vou te esperar na sala — grita do outro lado.

Mesmo achando ela intrometida demais, agradeço por ter me obrigado a sair de casa. Ao me olhar no espelho, afirmo que realmente não estou no meu melhor momento. Caminho pelo corredor até a sala, e Nina se levanta do sofá.

— Viu só? Um novo homem — diz com a voz divertida, me arrancando um pequeno sorriso. — Ah, um sorriso finalmente. Vamos lá, irmão.

Ela prende seu braço no meu e entramos logo em seu carro. Ela me explica tudo que aconteceu que ela deixou passar nas nossas ligações, e eu a escuto atentamente. Assim que nos sentamos à mesa do restaurante, Nina começa a falar. Essa não é a primeira vez que ela toca nesse assunto, mas é a primeira que estou disposto a ouvir de verdade. Minha irmã parece feliz ao ver que a escuto. Ela insiste que eu volte às minhas consultas regulares com um psicólogo.

Seus argumentos são totalmente plausíveis, e não tenho como rebater nenhum deles. Então apenas a escuto. Eu concordo com cada coisa que ela diz. Depois de três meses de tortura, aceito ir no psicólogo. Nina quase chora de felicidade. Ela me passa o contato de um amigo seu, que está disposto a fazer consultas à distância. O cara parece entender minha situação, e não se importa em modificar seu estilo de consulta. Nina diz que ele é um ótimo profissional e que vai me ajudar.

— Ele é só seu amigo? — pergunto.

Nina revira os olhos.

— Sim. Não precisa entrar no seu modo irmão super-protetor.

Ainda desconfiado, assinto. Ela diz que minha primeira consulta será amanhã. Quando a olho confuso, minha irmã diz que já tinha marcado a consulta antes de falar comigo.

Claro que marcou.

Preciso admitir que falar sobre aquela merda foi melhor do que eu esperava. Acho que eu já estava a ponto de quebrar, porque o cara mal precisou abrir a boca, e eu já comecei a tagarelar. Tudo que vinha na minha cabeça eu falava. A consulta foi mais um monólogo, mas não me importei, nem ele. Dr. Yoon é realmente bom. Eu sei que foi apenas uma consulta, mas já me senti melhor, como se um peso saísse do meu peito.

Durante esses meses, eu sempre ficava encarando seu contato no meu telefone. Várias vezes cheguei a quase ligar pra ela. Me preocupo com seu estado. Tentei falar com seus irmãos, mas não tive resposta. Perguntei à Nina, já que as duas se tornaram amigas, mas ela disse que prometeu à Lily que não me contaria nada. Mas minha irmã disse que minha pequena também tirou um tempo pra ela. Foi tudo que Nina falou.

Conforme o tempo se passa, ela não sai da minha cabeça e muito menos do meu coração. Saber que a magoei novamente me faz enlouquecer. Saber que a quebrei me faz querer me bater. Mas saber que jamais a terei me faz querer desistir.

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