Se passaram alguns dias depois do que eu tinha revelado ao Matias. E eu percebi a diferença que havia acontecido na nossa relação. Se é que podemos chamar aquilo de relação.
Lembrei que no dia da festa ele tinha dito que a gente namorava.
Fiquei tão feliz quando ele disse isso. Mas logo veio acompanhado de desespero e tristeza.
Desespero por quase ter perdido ele para sempre. E tristeza por saber que ele estava bem ali no quarto ao lado mas nós não podíamos mais ficar juntos.
Queria que de alguma forma desse certo para que eu e o Matias namorasse.
Suspirei e me levantei da cama depois de alguns torturantes minutos depois.
Fiz minha higiene e fui até a cozinha.
Dessa vez o Matias não estava lá como todos os dias. Ele sempre me esperava para tomar café.
Ele tinha arrumado o café da manhã para mim.
Sorri.
Pelo menos ele ainda se importava comigo de alguma forma.
Tomei meu café em um silêncio absoluto. Antes ele sempre conversava comigo durante o café. Suspirei alto novamente.
— Acho melhor você se apressar— disse o Matias me assustando.
— Caraca que susto. Por que eu tenho que me apressar?
Ele pegou uma maçã na fruteira e depois me encarou. Mas logo desviou o olhar.
Percebi que ele estava um pouco distante de mim.
Mas o que eu queria né. A gente não ia ter a mesma relação depois daquilo.
— Hoje começa seu treinamento.— me informou.
Agora que eu já tinha tirado o gesso da perna e conseguia andar como antes e sem nenhuma dor já podia começar meu treinamento.
Eu de verdade não estava a fim.
Durante esse tempo estava bem abatida.
Assim como ele.
Eu pude perceber que não havia mais aquela alegria nos olhos dele.
E quando ele sorria para mim não era mais aquele sorriso verdadeiro que me alegrava.
Praticamente éramos estranhos um para o outro.
Nem sabia que eu era importante assim para ele. Ao ponto dele ficar triste assim.
— Sério isso? Não estou com vontade.— disse.
Ele suspirou.
— Olha você vai ter que treinar de qualquer jeito. No momento que você entra nesse mundo precisa se defender. Ainda mais você que é a escolhida.
Eu bufei e coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
— Mas eu não pedi para ser a escolhida. Preferia nunca ter conhecido esse mundo.
Ele se sentou na cadeira ao meu lado.
— Eu sei que você não pediu por isso. Mas agora você é nossa única esperança. Logo o Abbadom vai iniciar a guerra contra os anjos celestiais.
Ele pegou na minha mão.
— Eu vou estar com você. E eu mesmo irei treiná-la.
Nós nos encaramos por alguns instantes.
Como eu queria beijá-lo agora.
Percebi que ele também queria pois ele estava chegando mais perto de mim.
Mas ele virou o rosto para olhar lá para fora e depois foi em direcão ao seu quarto.
— É melhor você se arrumar logo. Não temos tempo.
Disse ele sem se virar e entrou no quarto.
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Estávamos agora na ala de treinamento dos anjos celestiais.
Havia vários anjos treinando ali. Até mesmo adolescentes lutavam. Eles deviam ter seus treze anos,mais ou menos.
O Matias escolheu duas espadas de madeira.
Eu ri e ele me encarou.
— Qual a graça?— perguntou.
— Você quer que eu seja uma guerreira com uma espada de madeira?— perguntei em tom de deboche.
Ele me olhou sério.
— Para sua informação isso é para não te machucar. Você provavelmente se mataria até mesmo com uma espada de madeira.— disse também com ironia e com um tom de grosseria na voz.
— Não precisa ser grosso tá. Eu não sabia. — falei irritada—Não sei se você se lembra mas eu não sei nada ainda desse submundo maluco.
Ele chegou perto de mim e entregou a espada.
— Desculpa por ser grosso com você.
Eu sorri.
— Tudo bem. Agora vamos começar.
Primeiro ele me ensinou a manter minha pernas e braços firmes. Caso contrário eu iria cair com muita facilidade.
E também perderia logo a guarda.
Foi um dia bem cansativo e chato.
Ele ainda não tinha me colocado na aula prática vamos dizer assim.
Ele estava treinando mais minha postura que como ele disse “ era muito desengonçada”.
Só não xinguei ele porque eu realmente era desengonçada e totalmente destraida.
— Por hoje é só. Mas amanhã nós vamos começar com a aula prática.
Sorri.
— Tudo bem. Não vejo a hora.
Ele levantou uma sombrancelha.
— Como assim? Achei que você não gostasse.
— Eu não gosto da aula teórica mas dá prática sim. Vou amar quando segurar uma espada de verdade. Vou me sentir a guerreira.
Ele deu risada.
— O quê foi?— perguntei.
— Nada. É só o seu jeito de falar.
Ele ficou me encarando e depois desviou os olhos.
Nessa hora a Bonnie chega e nos cumprimenta.
Eu nem respondi. Ela escondia alguma coisa e eu tinha certeza.
— E então Matias como você está?
— Estou bem.—ele respondeu sem olhar para ela.
Eu fiquei ali sem fazer nada. Apenas observava.
Ela chegou mais perto dele e levantou o queixo dele para que ele olhasse para ela.
— Você não quer sair comigo hoje não?
Ele olhou para ela e depois para mim pensou um pouco.
Como aquela garota era ousada. Me dava vontade de meter a mão na cara dela. Mas me segurei,não chegaria a esse ponto. E dessa forma mostraria que ela me afetava.
— Pode ser. Eu te pego as oito.
Ela sorriu e lhe deu um abraço e foi embora.
Eu observei ela saindo e quando ela já estava fora de vista me virei para o Matias que estava arrumando algumas espadas.
Puxei ele pelo braço e ele me olhou com surpresa.
— O quê foi garota maluca?— perguntou ele num tom irritante.
— Você sabe o que é.
Ele se virou de frente para mim.
— Não sei não. Pode me dizer?
Eu revirei os olhos.
— Como assim você vai sair com aquela garota ? Ela não é quem aparente ser.
Ele chegou mais perto.
— Como você tem tanta certeza?— disse me encarando.
— Eu vou te provar que é verdade. E outra— completei.— Você já me esqueceu assim tão rápido ?
Ele não me respondeu e saiu andando até o salão da sede.
Eu segui ele e fiquei na sua frente impedindo sua passagem.
— Então é assim? Não vai me responder.
Ele tirou minha mão das suas.
— O quê você quer que eu responda ? De qualquer forma a gente não vai poder ficar juntos não é mesmo? — disse irritado.— Não depois dessa sua decisão estúpida.
Eu o encarei com muita raiva. É sério que ele ainda estava com isso na mente?
— Você não entende que eu não tinha escolha ? Era isso ou a sua morte.
Ele me olhou e abriu a boca para falar mas desistiu da idéia.
— Me deixa tá bom. Eu faço o que bem quiser dá minha vida.
Ele andou em direção a sala do Erengilses.
— ENTÃO VAI— eu gritei.— Você nunca gostou de mim mesmo.
Ele voltou e me agarrou pelo braço.
As pessoas que estavam no salão já estavam olhando para gente.
— Não fala do que você não sabe.
Eu puxei meu braço.
— Eu sei sim. Você também vai me abandonar como todos os outros.
Disse e sai do salão em direção a rua.
Lá encontrei o Erik que estava conversando com um goroto que eu nunca tinha visto.
Ele me viu saindo e percebeu que eu estava irritada então se despediu do garoto e veio até mim.
— O que aconteceu Melanie?— perguntou preucupado.
Então eu contei tudo a ele. Desde meu envolvimento com o Matias até a proposta do Salatiel para que eu abrisse mão do Matias.
Ele me abraçou e disse que tudo ficaria bem.
E para me alegrar ele me levou ao cinema e comprou lanches,doces,tudo que ele sabia que eu gostava.
Eu realmente me senti melhor com aquilo. Era bom saber que eu tinha pelo menos alguém que me amava.
— Obrigado por sempre estar comigo.—eu disse depois que ele me deixou na casa do Matias.
Ele sorriu.
— Eu sempre vou estar aqui.
Eu o abracei e entrei em casa direto para o quarto.
Nem dei bola para o Matias que estava na sala e olhou como se quisesse dizer algo.
Fiquei no meu quarto durante todo o tempo apenas pensando em tudo na minha vida.
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