Designated;;KNJ

By bwluemin

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[CONCLUÍDA] "Um amor infantil e inocente transformou-se num amor para a vida inteira, apesar da pouca idade o... More

¡!Prólogo¡!
1 - "Mudanças"
2 - "Esperança"
3 - "O colar"
4 - "Reencontro"
5 - "Discussão"
7 - "As cartas"
8 - "Me conheça melhor"
9 - "Revelações"
10 - "Preciso de ti"
11 - "Descanso"
12 - "Tempo para pensar"
13 - "Recaídas"
14 - "Juntos"
15 - "Um amor de outra vida"

6 - "Descoberta"

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By bwluemin

Corri o mais rápido e desesperadamente possível para longe de Namjoon, de maneira atordoada e me sentindo em um extravio, ainda sendo capaz de ouvir os gritos dele chamando pelo meu nome freneticamente, enquanto eu corria em meio aos carros daquela estrada movimentada para não ter mais que vê-lo.

Os pingos da chuva fraca que caiam sobre minha cabeça foram se intensificando aos poucos, indicando que logo aquela velocidade aumentaria. Merda, eu não estava nem um pouco perto de casa.

Ainda sentindo minha garganta ser cortada pelos soluços da minha choradeira e minhas mãos tremendo pelo que acabara de acontecer, sentei em um dos pontos de ônibus vazio de pintura azul desgastada e pouco enferrujado, apertando os desenhos com os modelitos borrados pela água entre meus dedos, grunhindo, puxando o ar com força, gemendo em tristeza.

Senti o celular vibrando ao fundo da minha bolsa preta ensopada e puxei o zíper com força, pegando o aparelho e atendendo de forma estérica. Era a Kimberly.

-Mana, o que diabos aconteceu? Um dos coordenadores da tua facul ligou pra cá, dizendo que você não apareceu, perguntando onde estava estava... Amiga, você tá bem?

-E-eu vi ele, eu vi o Namjoon, Kimberly. -comecei a berrar bem alto e a dizer tudo rapidamente, sem lhe dar espaço para dizer algo.- ele estava comigo agora a pouco, a gente se beijou e depois eu briguei com ele e dei um tapa forte no rosto dele, ele foi um príncipe encantado e ao mesmo tempo um escroto ridículo, eu fugi dele...

-Espera. Espera, espera, espera... -um silêncio tomou de conta daquela chamada.- Você encontrou o Namjoon?! Alyssa...!

-Sim, ele disse que me amava, e me pegou no colo e depois falou sobre umas cartas que eu nunca recebi e depois disse que encontrou meu colar no lixo e eu comecei a chorar...

-Amiga, para de falar um segundo, respira.

-Okay.

Eu estava tão desesperada que comecei a gritar sobre tudo o que havia acontecido, sem nenhuma explicação ou pausa, eu só precisava que ela soubesse de tudo o mais rápido possível para tentar me fazer ver alguma luz, qualquer uma que fosse.

-Estou indo te buscar. Me diz onde você está.

Após informar Kimberly sobre minha localização, demorou poucos minutos até que seu carro estacionasse em minha frente e ela abrissa a porta. Eu estava jogada em um dos bancos, abraçando meus desenhos e sentindo os olhos arderem por conta do rímel extremamente borrado e da chuva que caía com violência.

Ela suspirou, olhando pra mim como se eu fosse uma criança em apuros através da janela com o vidro baixado completamente e me chamou com uma das mãos. Levantei, corri até seu carro para não me molhar tanto e entrei, fechando a porta.

-Vamos passar na cafeteria. -ela disse sem me olhar, ligando o carro outra vez.- Comprar o seu cappuccino preferido com bastante espuma, e depois voltamos pra casa. Você vai tomar um banho quente para não se resfriar, se agasalhar e aí... Você me conta tudo o que aconteceu porque eu não entendi NADA por telefone. Ouviu mocinha?

Kimberly gostava tanto de cuidar das pessoas que ela amava, que por muitas vezes eu me senti sufocada. Mas não dessa vez, eu precisava de alguém pra me ouvir e cuidar um pouco de mim e não negaria isso. Me sentia cansada, triste e confusa, ao mesmo tempo que uma euforia me engolia por ter reencontrado uma paixão antiga.

Mesmo que tenha sido tão desgastante.

-...Sim senhora.

Eu disse fazendo um bico de reprovação, tombando a cabeça para o lado e encostando no ombro da minha melhor amiga, suspirando baixo e fechando os olhos para tentar descansar um pouco.

Depois de passarmos na cafeteria, chegarmos em seu apartamento e tomar um banho quente exatamente como deveríamos fazer, nos jogamos na cama tomando o café que ela comprou, sentando uma de frente para a outra na cama do meu quarto.

E só então eu pude lhe contar tudo com bastante calma. Kimberly parecia ainda mais desacreditada com toda aquela situação do que eu, o que era um pouco impossível. Ela parecia estar ouvindo o resumo de uma novela mexicana, gritou em algumas partes, pulou na cama, gargalhou...

-Mas Aly, você também já transou com alguns caras depois dele, por que bateu no pobre coitado?

Inacreditável, parecia que ela não tinha prestado atenção em nada do que eu disse.

-Kimberly, acorda! -estalei meus dedos na frente do seu rosto.- Eu não bati nele porque ele transou com aquela songa monga, e sim porque ele ficou chateadinho quando soube que eu já não pensava tanto nele, não usava mais o colar, enfim, estava desistindo dele. Sendo que... Ele fez exatamente a mesma coisa e pior! Ele usou a Raquelle pra isso.

-Ah! Ela gosta dele? Porra, que vacilo... -Sorriu nervosa, negando com a cabeça.

-Gosta... -abracei minhas pernas com força.- Eu nunca usei ninguém, sempre deixei bem claro que não tinha nenhum sentimento ali e ninguém saía machucado daquela relação.

-Ah, mana... Sim, foi errado ele ter te colocado contra a parede, mas aposto que agora ele está arrependido. Talvez ele nem tenha lembrado que se relacionou com ela, pelo menos ele foi sincero.

-Sincero e idiota.

-Alyssa, ele te ama, amiga! Todos nós cometemos erros, e pelo o que eu entendi, ele se relacionou com ela na mesma época que você decidiu se relacionar com outros homens também.

-Eu sei que entre duas pessoas e um amor duradouro, muito perdão, conversa, força precisa existir pra manter ele vivo, mas... Isso me magoou demais. E essa nem é a pior parte.

-O que seria pior do que não receber as cartas de amor dele durante todos esses anos?

-A minha mãe. Ela nunca me falou nada. Ela sequer tocou no assunto. Ele disse que foi lá em casa me procurar, mas ela expulsou ele de lá. Isso já faz dois anos, Kimberly. Eu nunca vou perdoar ela por isso.

-O seu pai não sabia, né?

-Provavelmente não.

-Eu sinto muito, mana. Por tudo isso. Mas... Vamos parar de focar só nos pontos negativos, uh? Vocês enfim conseguiram se encontrar e isso é muito fantástico. Ele te abraçou, te beijou e demonstrou que te procurou durante todos esses anos, ele nunca deixou de te amar, e eu sei que você também não. Por favor, Alyssa. Não desperdiça isso por causa de orgulho. É o seu amor mais precioso, luta por ele.

Sem perceber, eu e Kimberly estávamos chorando juntas por conta daquele assunto difícil. Nós nunca conversamos profundamente sobre tudo o que eu sentia, e agora eu estava aliviada por ter colocado tudo para fora.

Kimberly era uma das melhores pessoas que eu já havia conhecido, ela era sincera, uma companhia de tirar o fôlego, verdadeira o tempo inteiro sobre como se sentia, e conseguia me confortar como ninguém, me fazia rir, me fazia bem.

Nós nos conhecemos há muito tempo, quando eu decidi que trabalharia de meio expediente apenas para ganhar um dinheiro extra, numa lanchonete. Éramos duas das doze garçonetes que trabalhavam lá, mas não foi uma fase muito boa.

Era um estabelecimento bastando frequentado por homens, e todos os dias nós precisávamos passar por absurdos como ouvir piadinhas sexistas e machistas, passar por assédio verbal e ser humilhadas na maioria das vezes por homens bêbados.

Eu trabalhei ali por cerca de quatro meses apenas, aos dezenove anos, mas Kimberly já estava ali há sete meses, com vinte e um. Lembro-me como se fosse hoje, o dia em que estávamos fechando as portas e um homem babado a agarrou na calçada. Eu juntamente com outras garotas e o próprio gerente colocamos aquele louco para correr, mas ela decidiu que não trabalharia mais ali. Muito menos eu.

Muitas garotas pediram demissão depois disso, e nós ficamos mais próximas. Não todas, mas eu fiz algumas amizades maravilhosas... Entre elas, Kimberly.

Lembrar de tudo isso aumentou a minha vontade de chorar em seu ombro.

-Obrigada por tudo, mana... Eu vou pensar com calma nas suas palavras e decidir o que fazer.

-...Isso me deixa muito feliz, a sua felicidade é importante pra mim, ouviu? -Sussurrou ela.

-A sua também é pra mim, jamais esqueça isso.

Namjoon POV

Eu não queria parecer um louco desesperado correndo sem parar atrás de uma garota no meio da rua, mas eu cheguei bem perto de fazer isso. Com dificuldade, eu aceitei que ela precisava de um tempo para respirar, pensar e descansar depois de tudo o que conversamos.

-VOCÊ É UM IDIOTA, KIM NAMJOON! UM COMPLETO IDIOTA! -berrei para mim mesmo, me aproximando de uma calçada com cobertura de um estabelecimento ao notar que começara a chover. Sentei ali com a cabeça baixa e apertei meus punhos.- Raquelle...

Bufei, ainda desacreditado. Como ela teve coragem?

Eu confiei a minha vida inteira àquela mulher e tudo o que ganhei foram facadas profundas em minhas costas. Eu nunca pensei que ela seria capaz de continuar alimentando um sentimento que eu tentei fazer nascer em mim também mas não consegui.

Não era injusto com ela, nem comigo. Não era bom, não era saudável. Haviam vezes em que ela me pedia para imaginar que estava com Alyssa para me sentir mais a vontade, por mais que eu tentasse explicar que isso era um absurdo.

Preferi acreditar no que ela me dizia, não no que seus olhos me gritavam. Eu me ceguei contra a minha vontade e segui minha vida normalmente. Eu a tratava como uma amiga próxima, com respeito e carinho, sem nunca lhe dar falsas esperanças ou ter recaídas.

Ela foi um dos maiores motivos pelos quais não encontrei Alyssa antes. E eu não vou perdoá-la nunca por isso. Eu errei, eu tinha consciência disso. Mas o que ela fez... Eu não podia deixar passar.

Cobri meu rosto com as duas mãos aos poucos e me deixei ser vencido pela tristeza súbita, me permitindo desabar ali, chorar, lembrando das vezes em que me imaginei reencontrando Alyssa e lhe dizendo tudo o que eu senti durante todos os anos em que estivemos separados, imaginando como seria abraça-la, beijá-la finalmente, ouvir a sua voz e apreciar a mulher fantástica que ela se tornou.

Chorando por me sentir infinitamente arrependido por ter dito o que eu disse, por ter me comportado como um imbecil na sua frente, por ter estragado tudo, porque eu realmente estraguei. Eu consegui estragar o encontro mais esperado e importante da minha vida.

Agi sem pensar, me senti magoado durante um curto período por ouví-la dizer que havia tentado esquecer a nossa história, sem ao menos perceber que eu havia feito o mesmo. Eu tive medo, insegurança. "E se ela tivesse se apaixonado? Me esquecido? Construído uma família?" Eu pensei. Sem lembrar de que isso também poderia ter acontecido comigo.

Mas, eu não irei desistir dela. Passei muito tempo procurando por essa mulher, só desistirei um dia se por acaso ela me pedir. Caso o contrário, eu lutarei por ela. Sempre.

Mas agora, tinha algo a resolver.

[...]

3:48pm

-Finalmente você apareceu! -Raquelle berrou ao me ver entrando pela porta que dava entrada ao meu escritório, levantando da cadeira preta giratória e caminhando de peito estufado até mim.- Aonde você estava, Namjoon?! Aaron veio aqui furioso por causa dos...

-Você está demitida. -A interrompi.

-O... Quê? Espera... Como assim?

-Você. Está. Demitida.

Disse ríspido e em bom som para que ela entendesse de uma vez e segui em linha reta até minha mesa para preparar a sua carta de demissão imediatamente, mas ela puxou o meu braço.

Fiz um movimento pouco brusco para que ela me soltasse e me virei para ela, tentando conter a minha expressão de nojo ao precisar olhar para o seu rosto falso e mentiroso.

-O quê? Você só pode estar brincando comigo! -Berrou outra vez.

-Eu pareço estar brincando com você?

-Não seria a primeira vez.

Imediatamente os seus olhos brilharam por conta das lágrimas que ameaçavam cair em seu rosto, mas eu não iria acreditar mais no seu teatrinho de quinta. Tudo o que ela vem fazendo é me tratar como se eu fosse a sua marionete, pena que eu demorei a perceber isso.

-Para com isso, eu jamais faria algo pra te magoar e você sabe muito bem disso, tanto que era você quem implorava pra ficarmos juntos!

Disparei, me virando de costas e buscando me acalmar. Ela bufou, respirando fundo e tentando se recompor.

-Por que está me demitindo, Namjoon?

-Eu encontrei a Alyssa. -virei-me outra vez, agora ela estava com um semblante surpreso, e apertando uma mão na outra.- Pois é, esse mundo é muito pequeno. E tudo o que ela me disse, Raquelle...

-Ah! Então é isso. -bateu com os braços nas laterais do corpo.- Você FINALMENTE encontrou essa garotinha ridícula e agora está me descartando porque eu não sirvo pra mais NADA na sua vida, não é?

-Não tem nada a ver com isso, Raquelle.

-E TEM A VER COM O QUÊ, PORRA?

-Com você! Por sua causa a Alyssa nunca leu as cartas que eu, o inocente, acreditava que você entregava! Foram quatro anos inteiro escrevendo inúmeras cartas pra ela, sem nunca receber uma resposta, e por quê? Porque ela nunca soube da existência delas!

Raquelle deu alguns passos para trás, arregalando os olhos e a boca tentando fazer parecer que ela também estava surpresa, mas seu semblante de culpa e nervosismo a entregava completamente.

Eu estava começando a sentir repulsa de toda aquela situação, só desejava que ela fosse embora o mais rápido possível dali e me deixasse em paz.

-Como você pode ter coragem de acreditar que eu faria algum mal a você dessa maneira? Uh? Eu...

-Então onde estão as cartas que não foram enviadas?

-EU ENVIEI! -Gritou.

-MENTIRA! -me aproximei da mesma e agarrei seus braços, a aproximando de mim e a encarando seriamente.- É melhor você me dizer a verdade de uma vez por todas, Raquelle! Vai ser melhor pra você!

Ela curvou a boca como se estivesse furiosa e seus olhos se transformaram completamente, ao ponto de me fazer sentir um apavoramento desconfortável.

-EU RASGUEI! -urrou em minha frente, se debatendo contra mim e esmurrando meu peito.- RASGUEI TODAS, JOGUEI NA PRIVADA TODA AQUELA MERDA! AQUELAS PALAVRAS DEVERIAM SER PARA MIM, NÃO PARA ELA! ELA ESTRAGOU TUDO, TUDO, TUDO!

-Inacreditável...

Neguei algumas vezes com a cabeça e a soltei, fazendo Raquelle cair sentada no sofá de acolchoado vermelho em nossa frente. Ela cravou as unhas no tecido e bateu os pés contra o chão.

-EU ODEIO AQUELA GAROTA, NAMJOON, E A CULPA É TODA SUA! TODA SUA, NAMJOON!

Eu estava começando a ficar levemente apreensivo com toda aquela gritaria e falta de controle por parte dela.

-Ah, não se preocupe, eu me arrependo todos os dias por isso.

-AAAARGGGGH!

Ela levantou por um breve instante, agarrando o jarro feito de mármore branco com algumas hortênsias na mesinha de centro à sua frente e me lançou um grito extenso, ameaçando jogar o jarro em minha direção.

Corri para detrás da minha mesa e me abaixei em questão de segundos, observando o jarro pesado voar em minha direção e quebrar em vários pedaços ao se chocar com a madeira pintada de verniz.

-EU NÃO SABIA QUE VOCÊ SE TORNARIA ESSA MULHER CONTROLADORA E ABUSIVA! -gritei.- MENTIROSA! LOUCA! NUNCA DEVERIA TER ME APROXIMADO DE VOCÊ!

-VOCÊ É UM IDIOTA, NAMJOON! UM IDIOTA!

Ela continuou repetindo sucessivamente que eu era um idiota e passou a chorar depois da décima vez, e por mais que ela não merecesse a minha pena, meu peito estava apertado por vê-la passar por isso.

Ela não era uma pessoa ruim, muito pelo contrário, nosso convívio sempre foi um dos melhores. Era realmente uma pena acabar com tudo por conta de um sentimento que fugiu do seu controle. Eu me sentia culpado por ter entrado na sua vida e matado sua essência, mesmo sem nunca ter essas intenções.

Estávamos condenados a viver com isso.

Saí detrás da mesa e caminhei até ela, que estava sentada no chão. A levantei outra vez sem dificuldade e tirei seus fios de cabelo escuros da frente dos olhos, segurando seu rosto.

-Me perdoa. Eu sinto muito por isso, eu juro que eu não queria te fazer nenhum mal, eu nunca quis que você se tornasse tão dependente desse sentimento. E-eu achava que seria capaz de esquecer a Alyssa, mas eu não consegui. Eu te deixei bem claro que poderia ser uma tentativa falha, e você quis mesmo assim... Se eu pudesse voltar no tempo pra consertar as coisas, eu jamais teria aceitado te beijar, tocar o seu corpo e te machucar assim, Raquelle. Me perdoe por isso.

-...Eu não quero... O seu perdão... -ela afastou bruscamente minhas mãos do seu rosto.- Eu quero o seu amor.

-Bom, o máximo que você poderia ter de mim, era uma amizade. E nem isso você tem mais.

-Namjoon, por favor. Eu vim pra cá por sua causa, pra trabalhar com você, você vai me deixar assim? Desempregada, sozinha?

Suspirei alto.

-Não. Em consideração a todos os anos que você me ajudou, esteve ao meu lado, me viu subir e nunca me abandonou... Você vai trabalhar como secretária na empresa do Aaron, parceiro da Kim'style. Ele acabou de demitir sua secretária antiga, e... Você é uma ótima assistente. Tenho certeza que vai fazer um bom trabalho por lá.

-Eu não quero ser assistente do Aaron, eu sou a SUA assistente.

-Não, Raquelle. Eu sinto muito que nossa vida pessoal tenha que se misturar dessa forma com a profissional, mas o que você fez... Não vale a pena continuar te tendo por perto. Espero que você tenha sucesso.

Aquilo era tão desconcertante. Talvez eu não estivesse sendo um bom profissional tomando tal decisão, agindo como se fosse um adolescente revoltado com a vida e todos ao meu redor e tomando decisões precipitadas sem pensar bem nas consequências.

Raquelle era uma mulher bem organizada, conseguia dar conta de toda a papelada, -não importava o horário, ou dia da semana.- problemas que nem eu mesmo sabia resolver, minha agenda sempre estava em ordem, ela sabia todos os meus passos e me ajudava a solucionar tudo, ela era pergunta pra empresa, e eu não pensei duas vezes antes de tomar essa decisão de demiti-la.

Ela faria falta na empresa, muita. Em minha vida também, confesso. Mas não estava nem um pouco confortável com a ideia de que ela estava disposta a fazer qualquer coisa para arruinar a minha vida amorosa, estragar todos os planos que construí pra mim e Alyssa.

Ela tem uma parcela de culpa muito alta nisso tudo, ela assistiu todo o meu sofrimento e mesmo assim não conseguiu ter compaixão por mim. Eu não chamaria isso de amor. Ver a pessoa amada sofrer e não fazer nada pra impedir isso -claro, quando você tem como impedir.- é uma crueldade sem tamanho.

-Vou preparar a sua carta de demissão e te mando por e-mail mais tarde. Também vou conversar com o Aaron sobre isso.

-Hum. -riu sem humor, pegando sua bolsa no sofá.- Obrigada. -Disse num tom irônico.

-Antes de ir, me responda apenas mais um coisa. Você teve ajuda da minha mãe, não foi?

-O que você acha? -riu outra vez, limpando o rímel borrado abaixo dos olhos e se aproximou a passos lentos.- Joeun também não suportava a ideia de você querer casar com uma estrangeira.

-Ah, típico... E você concordou com isso, é óbvio.

-Ela disse que aprovaria meu casamento com você. -Deu de ombros.

-Mas você também não é coreana.

-Não, mas sou tailandesa, asiática. Isso já bastava para ela.

-Que piada... Você também foi enganada por ela, Raquelle. Ela te manipulava tanto quanto a mim.

-É, eu só estou te contando isso porque ela não cumpriu com a sua palavra. Sua mãe é uma traiçoeira.

-E você não?

Naquele momento, recebi o segundo tapa do dia.

Raquelle estalou seus dedos com toda a força em minha bochecha esquerda, um tapa quase tão dolorido quanto o de Alyssa, que me fez dar alguns passos para trás. Massageei devagar a pele que latejava freneticamente e respirei fundo, a encarando furioso pela agressão.

-Você ficou louca? -Perguntei.

Ela rosnou alto mais uma vez para mim como resposta e foi em direção à única porta daquela sala, esbarrando em Aaron que estava prestes a tocar na mesma. Ele parou ali com o punho na altura do peito e sorriu para ela.

Porém, ela passou por ele como um furacão e quase o derrubou, indo embora finalmente. Aaron me encarou e eu dei de ombros, fazendo parecer que eu não sabia o motivo de sua irritação. Não queria conversar sobre isso.

-Puxa, o que deu nela? TPM?

Apontou para ela com o polegar e fez uma expressão de espanto, rindo vagamente. Adentrou a sala e fechou a porta, indo em minha direção e me observando. Eu estava com uma das mãos na cintura, enquanto a outra massageava a bochecha ardida. Desviei o olhar para o chão tentando disfarçar, mas não deu certo.

-Wow! Não acredito... Ela te deu um tapa?

-Pois é, é o segundo do dia.

-Caramba. -riu, sentando numa cadeira em frente à minha.- Você virou saco de pancadas da mulherada, companheiro?

-Rá-rá-rá, que engraçado.

Revirei os olhos, sentando em sua frente e pegando uma caneta azul no porta lápis marrom, brincando com ela entre meus dedos. Quando estava chateado, gostava de voltar minha atenção pra qualquer outra coisa.

-E por que não revida?

O encarei imediatamente, espantado.

-Que pergunta mais ridícula é essa, porra? Ficou maluco? Que tipo de homem você acha que eu s...

-Calma. -ergueu as mãos pra frente, se sentando corretamente na cadeira.- Eu só estava brincando.

-Desde quando agressão à mulher é brincadeira? -ele ficou quieto, concordando com a cabeça e dando de ombros.- Aliás... Eu mereci esses tapas.

-Bom, se você diz.

-O que faz aqui a essa hora?

-Vim falar com você sobre a papelada que você precisava me enviar até às duas e meia da tarde.

-Ah, caramba! As cláusulas contratuais, eu... Eu esqueci completamente. Perdão.

Pela careta estranha que Aaron fez com a minha desculpa esfarrapada, eu estava prestes a tomar um esporro. Eu o conhecia bem, sabia que ele não havia gostado nada disso.

Alyssa me fez esquecer absolutamente tudo por algumas horas, quando estávamos juntos parecia que só existiam nós dois no mundo. Quando ela vai embora, eu volto a estar essa realidade ruim, realidade em que estamos separados pelas mágoas e cicatrizes, tempo, mentiras...

Eu só queria tê-la em meus braços. Por que isso é pedir demais, Deus?

-Uhum. Você acha que isso é uma desculpa válida? -neguei com a cabeça, apesar da pergunta ser retórica.- Namjoon, isso aqui não é como a escola que você diz que esqueceu de fazer uma tarefa e fica tudo bem. Isso aqui é a nossa vida, sustento, nosso nome! Você não pode esquecer de fazer algo importante, assim do nada e por nada. -eu não gostei nem um pouco do seu tom na última frase.- Você não pode largar tudo assim por causa de uma garota. Você...

-Em primeiro lugar, Aaron, não se meta na minha vida. Você não tem o direito de opinar no que não é da sua conta, somos colegas de trabalho, nada mais além disso.

-Não somos porque você não deixa. Eu só quero te ajudar...

-Você pode me ajudar, só não dê pitaco sobre o que não sabe. Droga!

-...Certo, me desculpe. Eu não quis ser intrometido. Raquelle quem me revisou as quarenta páginas de cláusulas e me enviou através do e-mail dela enquanto você estava fora.

-Hum. -dei de ombros.- A culpa sobre os ombros dela deveria estar pesando demais.

-Ela me contou que estava preocupada com você.

-Jura? -Revirei os olhos.

-Teríamos tido problemas sérios sem esses papéis, Kim. Eles tratam de contabilidade, dinheiro, fortuna, money, dimdim! -esfregou o polegar no indicador.- Pelo amor de Deus!

-Tá! Tá. Não vai mais acontecer, okay? Logo eu contrato outra secretária...

-Demitiu a Raquelle? Por quê, coitada?

-Motivos pessoais. Aliás, eu ia mesmo recomendar ela pra você. Posso te mandar o currículo dela mais tarde?

-Nossa...! Você quer mesmo se livrar dessa mulher. Bom, eu estou mesmo procurando uma gostosa pra me servir. -Me lançou uma piscadela.

Eu apenas o encarei enojado.

-Desde quando você se tornou um machista de merda? Você não era assim... -Suspirei, observando Aaron rir.

-Ué, todo homem gosta de um rabo de saia a postos.

Aquela frase era ridícula em centenas de níveis.

-Então eu sou um legume.

-Qualé Namjoon, você...

-E ainda me pergunta porquê não te quero por perto? -Sorri desacreditado.

-Mas...

-Okay, chega. Eu não aguento mais ouvir a sua voz, você já pode ir embora. -voltei a tomar a caneta em mãos.- Ah, e se você desrespeitar a Raquelle, mesmo no mínimo olhar, ela arranca os seus ovos e faz uma omelete deliciosa para o jantar. Não tente dar uma de engraçadinho, seja profissional. Com ela, e qualquer outra mulher da sua empresa. Eu odiaria ter que cortar nossos laços. Boa tarde.

Sorri ao fim de minhas palavras observando sua expressão de espanto. Ele levantou devagar e caminhou até a saída, indo embora. Respirei fundo e descansei minhas costas na cadeira aconchegante, mexendo o mouse de um lado para o outro na tela do computador.

Sem querer, acabei por clicar em uma pasta aleatória no meio da tela, que estava ali graças ao pendrive branco conectado em uma das entradas. Ele continha muitos arquivos pessoais como fotos e vídeos meus em Seoul.

Entre aquelas pastas lotadas de lembranças boas e felizes, havia uma outra que eu não lembrava da existência até ver outra vez.

Cliquei. Apareceram vários outros arquivos estranhos, num total de dezenove quadradinhos brancos sem título. Apertei em um deles apenas por curiosidade e quase fui capaz de cair daquela cadeira ao notar que...

...Eram as cartas que escrevi para Alyssa anos atrás.

Arregalei os olhos sem acreditar que todas elas estavam salvas naquele pendrive e eu simplesmente não lembrava disso.

-Tive... Uma... Ideia.

Sussurrei para mim mesmo, abrindo um sorriso largo.

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