Natacha
Me sento no sofá, sentindo minha cabeça arder, mas não vou tomar remédio. Ouço a porta da frente se abrindo e vejo Margot, ela abre um sorriso, mas eu não retribuo. Vincent levou Lohan para escola, Olívia me afastou do trabalho alegando que não estou bem, mas eu não consigo entender porque estão me tratando como uma doente, não tem nenhum sentindo porque eu estou me sentindo ótima, só tenho alguns momentos difíceis de vez em quando. Margot volta para a sala com uma bandeja, onde tem salada de frutas e suco de laranja, ela me entrega o copo.
— Quer conversar? Você está muito calada, Natacha — se senta ao meu lado.
— Eu estou bem, Margot — bebo um gole do suco.
— Sinto que tem algo perturbando essa cabecinha, diz pra mim o que está lhe deixando assim — passa a mão nos meus cabelos.
— Vincent está me traindo! — uma lágrima solitária escorre por minha bochecha.
— Isso não é possível, Natacha, ele a ama! — me olha.
— Vincent quer um filho, como não posso dar um à ele, foi procurar outra mulher que pode engravidar.
— Por que você acha que está sendo traída?
— Nos últimos dias Vincent tem chegado mais tarde do trabalho, eu sei os horários dele e até de cabelo molhado ele já chegou em casa.
— Ele não corre de tarde? Ou vai na academia?
— Vincent comprou os aparelhos para se exercitar em casa mesmo e quando corre passa em casa primeiro para trocar de roupa.
— Na minha opinião você deveria conversar com ele e não tirar conclusões precipitadas, pensar em traição está lhe deixando pior, Natacha.
— Você também acha que estou louca, Margot? — coloco o copo na mesinha de centro.
— Louca não, mas você precisa de ajuda, só que é necessário se dar conta disso primeiro porque não podemos obriga-la a fazer nada — aperta a minha mão.
Por que dizem que preciso de ajuda sendo que me sinto bem? Tenho sido uma mãe meio chata para Lohan, mas é porque ele está muito bagunceiro, então preciso dar educação à ele e chamar a atenção quando faz algo de errado. Sem trabalho minha rotina é sem graça, só fico em casa à toa, antes quando estava de licença maternidade eu tinha meu filho porque ele não estudava ainda, mas agora sou só eu nesse lugar gigante.
Pego minha bolsa e um cartão cai dela, é da Yohanna, ela voltou a dar aulas de pole dance porque estava sentindo falta e aproveitar o tempo livre porque os filhos passam o dia todo na escolinha. Será que eu devo ir até lá e assistir uma aula? Minha cunhada já me convidou várias vezes, mas sempre invento uma desculpa, mas hoje vou sair um pouco para me distrair. Troco minha roupa e aviso Margot, ela pede uma carona e a deixo no centro, paro meu carro em uma vaga e entro no prédio onde Yohanna alugou uma sala para dar as aulas, tem várias alunas.
Me aproximo da porta e a vejo pelo vidro pequeno, ela estava na barra mostrando alguns movimentos para as mulheres, entro na sala e me sento em uma cadeira do fundo, não quero chamar atenção.
— Como eu expliquei, meninas, com cuidado e calma — sorriu para as alunas e seu sorriso amentou assim que me viu, me levanto quando se aproxima — Que bom lhe ver aqui, Natacha! — me abraçou, bem apertado.
— O seu cartão caiu da minha bolsa e eu resolvi vir apreciar a aula.
— Isso é um sinal para deixar as desculpas de lado e fazer uma aula experimental.
— Não tenho coordenação motora para isso, eu vim só olhar mesmo.
— E acha que eu nasci sabendo? Cai muitas vezes, mas me levantei em todas elas — pegou minha bolsa e colocou na cadeira — Eu vou lhe emprestar uma roupa confortável, já estou terminando essa aula e vou dar total atenção à você, vai ser divertido — sorriu de lado.
— Não vai adiantar eu negar mesmo — dou de ombros.
Yohanna me entrega uma calça legging preta e um top da mesma cor, troco de roupa no banheiro que tem na sala e me sento novamente, esperando a aula terminar. Quando minha cunhada se despede das alunas, me chama e eu paro ao lado do cano de ferro, ela me explica os movimentos e eu tento fazer o que pediu, só que é mais difícil do que imaginei. Meus braços estão ardendo e minhas pernas formigando, me sento no chão e ela me entrega um copo de água.
— Agora eu entendo o motivo de ter esse corpo lindo — brinco.
— Também tenho uma alimentação mais saudável, tento ao máximo não comer muita comida gordurosa, mesmo sendo difícil resistir a uma pizza ou um doce.
— Eu te entendo — rimos.
— Você quer continuar frequentando as aulas? Gostou?
— Sim, eu gostei, mas ainda não sei se vou continuar.
— Por quê? Você pode fazer as aulas sem contar ao Vincent e um dia fazer uma surpresa para ele, tenho certeza que vai gostar.
— Vincent e eu não estamos tão bem, estou pensando que pode ocorrer uma separação — suspirou.
— Separação? O que aconteceu? — franze a testa, confusa — Vamos fazer assim, ti convido para um almoço e você me conta tudo, ok? — concordo com a cabeça.
Passar a tarde com a Yohanna foi a melhor escolha que fiz, ela é leve e divertida, me aconselhou como Margot e disse que tenho que conversar com Vincent e não ficar criando as coisas na minha cabeça, me machucando, sem saber realmente o que está acontecendo.
Quando cheguei em casa fui direto para o meu quarto tomar um banho, porque quero buscar o Lohan hoje. Meu filho não entendeu muito bem, porque normalmente é o pai que o busca, mas não disse nada o caminho todo, passei no supermercado e comprei uma comida especial, para preparar pro jantar. Quando Vincent chegou eu estava no quarto, já tinha dado banho no Lohan e ele quis assistir um desenho na televisão daqui, meu marido entrou e beijou a minha testa e do filho, ele foi tomar banho e eu desci, para iniciar os preparativos da refeição.
— Você quer ajuda? — meu marido questiona quando volta, já de banho tomado.
— Não, eu já cortei todos os temperos — respondo.
— Está se sentindo melhor hoje, amor?
— Eu estou ótima, Vincent — resmungo, ele me observa, mas não fala nada.
— O que você acha da gente comer na mesa de jantar na sala?
— Nós sempre comemos aqui na cozinha, você diz que a outra mesa é muito grande. O que mudou?
— Nada, mas é bom mudar de vez em quando — deu de ombros.
Eu não falo nada, apenas concordo com a cabeça. Vincent ficou o tempo todo comigo na cozinha, eu achei isso estranho porque não precisei da sua ajuda e quando não tem nada para fazer, ele fica com o nosso filho. Estou sentindo algo estranho, como se estivesse sendo observada, mas não por meu marido, até olhei algumas vezes pela janela e não vi ninguém.
Quando o jantar terminou, levei a louça para a pia e ouvi um barulho, como se fosse algo sendo raspado. Peguei uma frigideira para me proteger de qualquer coisa, andei devagar até o quartinho que tem para os funcionários, os ruídos vinham lá de dentro, rodei a maçaneta e assim que abri a porta um cachorro saiu correndo, nem vi ele direito.
Entrei no cômodo e percebi uma movimentação embaixo do edredom, que não deveria estar aqui porque normalmente só fica o colchão na cama, me aproximo devagar e o puxo vendo um garotinho.
— Nat... — Vincent não completa meu nome quando entra, o menino corre para ele, se escondendo atrás da sua perna — Eu posso explicar, amor — tenta se aproximar, mas me esquivo.
— Eu não quero saber das suas explicações — saio, jogo a panela na pia e subo para o meu quarto.
— Mas eu vou dizer — ele segura meu braço, me virando para olha-lo.
— Aquele menino é seu filho? — minha respiração falha.
— O quê? Claro que não! — arregala os olhos azuis.
— Não mente pra mim, Vincent! — bato em seu peito, ele pega meus pulsos.
— Eu resgatei ele da rua! O que você está insinuando não faz nenhum sentido, eu nunca lhe traí e nunca vou trair, você é a mulher que eu amo e ninguém vai mudar isso, Natacha.
— Por que pegou uma criança da rua? E a família? — me afasto dele.
— Vou lhe explicar, ok? — assinto, me sentando na cama.
Vincent me fala tudo, sobre como encontrou Benjamim e que não conseguiu deixá-lo sozinho na rua quando soube que ele não tinha ninguém para protegê-lo. Eu saio do quarto e desço as escadas, mas tenho uma surpresa quando vejo ele e Lohan brincando juntos com o cachorro no tapete da nossa sala. Dou pequenos passos e ele se assusta um pouco, meu filho se senta no sofá e Benjamin continua me encarando, me ajoelho, ficando da sua altura.
— Oi, eu sou a Natacha — me apresento.
— Eu sei.
— Sabe?
— Tio Vincent me mostrou uma foto sua e do seu filho — aponta para Lohan.
— É mesmo? E vocês são amigos?
— Tio Vincent me deu comida, cuidou do Spike e tia Ruth me ajudou também, ele me deu banho quando eu pedi, mas caiu embaixo do chuveiro e molhou tudo a roupa — riu baixinho, parecendo se lembrar da cena.
— Então é por isso que ele chegou em casa com o cabelo molhado? — olho para o meu marido que assente, discretamente.
— Tio Vincent é o melhor, ele me salvou das pessoas ruins — sorriu de lado.
— Nós podemos ir no meu quarto, mamãe? Eu quero pegar o carrinho pra gente brincar de corrida — eu balanço a cabeça assentindo, eles saem correndo subindo as escadas.
— Me sinto mal, Vincent — murmuro ao sentar no sofá.
— Está passando mal? — me encara, preocupado.
— Mal em ter desconfiado de você, de estar sendo uma mãe distante para Lohan nesses dias, eu sei de todos os meus erros, minhas reações agressivas foram porque eu odeio saber que estava errando dessa forma. Mas a incapacidade de engravidar me deixou triste e várias coisas passaram pela minha cabeça.
— Você não é incapaz, meu amor, só não é o momento para ter outro filho — me abraçou.
— Eu quero o Benjamin, precisamos adota-lo, Lohan com certeza gostou dele e vai ser bom ganhar um irmão.
— Você quer isso mesmo, amor?
— Quero muito! Benjamin entrou na nossa vida por acaso e pode ser que Deus esteja querendo nos mostrar algo, que eu não engravidei antes porque eu ia ganhar um filho de outra forma, eu queria tanto dar um irmão ao Lohan que só pensei na possibilidade de engravidar e não de adotar.
— Eu já estava pensando em conversar com você sobre o Ben, já falei com um advogado sobre a adoção dele e ele está verificando se não tem nenhum parente vivo que queira ficar com ele.
— Se tivesse alguém vivo já teria que ter o encontrado antes, agora não adianta, Benjamin vai ficar conosco porque precisa receber o amor e carinho que estamos dispostos a dar para ele, vai ser muito amado.
— Sim, meu amor, com certeza.
— Você me perdoa, Vincent? — passo a mão no rosto, limpando algumas lágrimas que escorreram.
— Eu te perdoo, amor, mas mesmo assim eu quero levá-la ao médico, para ele ti ver, tudo bem?
— Tudo bem, Vincent — nos beijamos, apaixonadamente.
Ouvimos o barulho das crianças e nos afastamos, eles desceram as escadas e eu abracei Lohan pedindo desculpas à ele, também dei um abraço em Benjamin, ele era um garotinho fofo. Se Jonh não tivesse me ajudado por tantos anos, eu e minha irmã ficaríamos na rua também, a casa onde morávamos era alugada e assim que soube que nossa mãe estava morta o dono já veio dizer que não queria a gente lá dentro, eu fiquei desesperada porque já tinha ouvido falar dos perigos de morar ao relento, Jonh foi como um pai para nós e nunca vou cansar de agradece-lo pelo cuidado e preocupação que sempre teve conosco.
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Será que Natacha e Vincent vai conseguir adotar Benjamin?
Estamos entrando na fase final. O que vocês esperam para esse fim? Quero saber, em? Deixe aí nos comentários! 💕
Até o próximo! 😘❤