Catarina Hernandez
- pode nos dar licença um minutinho? - perguntei para Morgan.
- claro! Posso levar Lia comigo? - Morgan perguntou se levantando.
- por favor - pedi.
Morgan pegou Lia que estava no colo de Júlio, no começo achei que minha princesinha fosse chorar, mas ela parecia entender que a coisa ficaria séria.
- olha Catarina... - Júlio tentou falar mas eu levantei a mão mandando-o calar a boca por um minuto.
- quero que você saiba que essa é uma responsabilidade enorme, ela já me parece acostumada e apegada a você, não quero que a machuque - falei com a voz triste.
Do fundo do meu coração, só queria o melhor para Lia, e para outras várias crianças que eu sempre ajudei doando como pude uma ótima quantia.
- não quero machucar ninguém, olha... eu quero realmente tentar entender essa coisa de amar alguém, não posso deixar essa oportunidade passar, sei que você me odeia, mas preciso que deixe isso de lado pela Lia.
- olha aqui Júlio, não a envolva em seus problemas, óbvio que estou fazendo isso por ela, mas quero e preciso que você cumpra tudo que estiver naquele maldito contrato - falei entredentes.
- Catarina, pelo amor de Deus, você não consegue entender que eu só quero fazer as coisas de um jeito melhor? - ele perguntou se levantando, aproveitei para me levantar também.
- eu sei muito bem seu estilo de brincadeira, saiba que se Lia ficar doente e você estiver ocupado demais punindo uma de suas vadias, eu faço questão de me casar com um mendigo qualquer - falei e Júlio apertou a mandíbula.
- não vou largar tudo por causa de uma gripe - Júlio falou, qual é? Isso só pode ser brincadeira.
- você acha que ela escolheu os pais que teve? Você acha que ela escolheu estar na porra daquele carro? Você acha que ela sabe o que é sorrir para um cretino igual a você?
- se controla Catarina - ele falou e eu revirei os olhos.
- você é um idiota - falei pedindo aos céus um pouco de paciência.
Júlio cruzou os braços e olhou para um ponto acima da minha cabeça, não é a primeira vez que ele faz isso, acho está virando um costume.
- tudo porque não sabe escolher a porra de um carro - falei fazendo uma careta.
- ah vai se foder - ele falou batendo a mão na mesa.
- ah vai você - falei andando até o bar, louca por uma garrafa de vinho branco.
- você acha que eu queria voltar para casa com você?
- você acha que eu queria dirigir para a madame que não podia pegar um uber? - perguntei sarcástica.
- nem tinha sinal naquele fim de mundo - ele falou abrindo os braços.
- foda-se, devia ter jogado aquele carro em uma árvore - sussurrei.
- o que você disse? - Júlio perguntou, mas eu sabia que ele havia ouvido.
- o que você quer dizer com "aprender a amar"? - perguntei encarando aqueles olhos verdes que estavam ainda mais claros por causa da boa iluminação.
- tem uma pessoa... - ele falou mas parou.
- ótimo, vamos nos casar de mentirinha e ainda serei corna de mentira - falei bebendo na garrafa de whisky.
- olha... eu não sinto nada por ela, mas ela parece se entregar tanto a mim! - Júlio parecia perdido em pensamentos.
- vai me dizer que é uma de suas submissas? - perguntei já sentindo nojo da resposta.
- sim - ele falou compenetrado em mexer no relógio preto.
Pelo amor de Deus, isso só pode ser uma pegadinha, alguma brincadeira, tudo isso por causa de uma maleta rosa, se não fosse por isso, eu teria ido para uma balada, bebido todas, teria encontrado um gostosão.
Voltaria para casa com ele e teria pelo menos um orgasmo, provavelmente o acidente aconteceria mas Lia estaria com outras pessoas, talvez pessoas melhores do que eu e esse babaca.
Mas talvez ela tivesse morrido, ok isso não é bom, mas também não sei nem o que é bom para mim, quem dirá para outra vida?
- se não fosse por Lia, eu teria te pedido ajuda do mesmo jeito... - o interrompi abruptamente.
- mas eu teria dito não, mas como você é o fodão, você quer aproveitar a oportunidade de me obrigar a te ajudar, mas vem cá - dei uma pausa necessitada para molhar os lábios - quando formos a Miami, quem ficará com a Lia?
- ela ficará com Gabriel, claro, se você concordar - ele falou olhando para mim.
- prefiro deixá-la com Vitória, confio mais - falei e ele assentiu.
Vitória ainda não sabia que eu estava planejando adotar uma menininha, muito menos do quase acidente que eu sofri, isso a deixaria histérica.
Apertei o botão do interfone para falar com Estela e Morgan.
- Estela e Morgan, por favor venham - falei e Júlio me olhou assustado.
- Estela? Estela Márquez? - ele perguntou e olhou para porta.
Não sei porque mas Júlio se sentou, parecia que tinha acabado de ver um fantasma, Estela ficou do mesmo jeito e Morgan fez uma careta segurando Lia no colo.
Lia pediu para descer e correu até Júlio, ela tentou chamar sua atenção mas ele não tirava os olhos da Estela, Lia cansou e começou a chorar desapontada com Júlio.
- puta merda - falei andando até Lia e a pegando no colo, Júlio pareceu sair de seus devaneios e finalmente percebeu o que estava acontecendo bem na sua frente.
- aí meu Deus princesa, me desculpe - ele falou pegando-a no colo, ela se aconchegou em seu peito e fechou os olhos levemente.
- que porra foi essa? - perguntei indo para trás da minha mesa.
- desculpe senhorita Hernandez é que... - Júlio a interrompeu.
- ela é minha irmã - Júlio falou e Estela olhou para o chão.
- era só o que me faltava - falei e Morgan brincou passando o peso do corpo de um pé para o outro, ela estava parada ao lado da Estela.
- comece a contar essa bendita história Júlio - Estela ordenou e ele se aconchegou na cadeira.
- bom... minha família é um pouco grande, temos tia Diana e o tio Roberto, temos também minha mãe Daiana e o meu pai Bernardo, meus pais tiveram quatro filhos.... - me controlei para não interromper Júlio, mas não consegui.
- porra, ninfomaníacos - falei e Morgan sorriu.
- cala boca - Júlio falou autoritário e eu fiz uma careta - meus pais tiveram, eu Júlio Mendonça Márquez, Matheo Mendonça, Estela Mendonça e Gabriel Mendonça.
- se me permite - Morgan falou - Estela e Matheo são gêmeos.
- ele deve ser o maior gostoso - falei sem pensar muito e Júlio me olhou com uma cara feia.
- você vai ser casar comigo daqui a pouco - Júlio falou e antes que ele continuasse eu falei.
- mas não significa que sou sua - falei e Júlio rosnou.
- mas o que rolou foi... acabei saindo de casa, um pouco cedo, me afastei da minha família, mas foi uma opção, eles queriam a todo custo me prender, por eu ser a única mulher da árvore genealógica.
- não queríamos prender você, só queríamos que você considerasse esperar por um cara bom o bastante - Júlio falou.
- não existe o cara bom o bastante, isso é loucura - Estela falou - entendo se quiser me demitir por causa do babaca do meu irmão ou por causa da chatice da minha família.
- seu irmão não interfere em nada na minha vida, muito menos a sua família, adorei você desde o começo, não será por causa de um falso marido que eu te demitirei - falei e Júlio soltou outro rosnado.
- nessa seção louca de família, poderia pedir para que você não contasse a Megan que eu estou em Londres? - Morgan levantou a mão e falou.
- porque você não quer que ela saiba? - perguntei.
- minha mãe é extremamente controladora, e meu pai acha que eu estou fazendo faculdade administração, quando na verdade nunca nem comecei - ela sorriu mas sem demonstrar felicidade.
- isso tudo por um casamento de mentira, grande bola de neve senhor Mendonça - Júlio desviou o olhar pela primeira vez no dia.
- ela te chamou de mamãe? - Júlio perguntou ainda sem me olhar.
- sim, e eu não a corrigi - Júlio continuava sem me olhar.
- não sei se estamos fazendo o certo - ele admitiu.
- eu sei perfeitamente que quero assumir essa responsabilidade, mas e você? Essa barganha vai servir para você?
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