A Chance de Delilah

By fallforYourlarry

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Clichê - Livro Um Delilah Bertrand tem um sonho. Desde criança ela sempre soube que queria ser estilista e me... More

Avisos
Prólogo - O Começo do Fim
O que Passou é Prólogo
Acreditar em Todas as Possibilidades
Pronto ou Não, Aqui Vou Eu
Estabelecendo Limites
Traumas que Ainda Assombram
Caixinha de Surpresas
Pequenas Concessões
Prefiro o Bicho Papão
A Arte do Convencimento
Eu Não Quero Perder Nada
O que Estamos Esperando?
Em Pânico
Tic-Tac
Seu Fantasma
O Show Deve Continuar
A Ronda do Chacal
Aquele que Irá me Salvar
Fio Invisível
Ato Final
O que chegou é epílogo
Livro 2

Uma Festa Para Lembrar

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By fallforYourlarry

Delilah

Todos os anos, a Lantern dava uma enorme festa de halloween para seus amigos mais próximos com fantasias dignas da época e este se tornava o único assunto na internet por semanas, as fotos se tornando icons instantaneamente.

Infelizmente para mim, estive tão ocupada fazendo fantasias para os meninos ― que haviam escolhido ir como os cinco amigos monstros de Hotel Transilvânia ― que acabei esquecendo da minha própria fantasia, o que era inaceitável, visto que eu era estilista deles.

Assim, acabei com Holly fazendo uma maquiagem de gata em meu rosto enquanto fazíamos uma vídeo-chamada com Amélia, as duas se deram bem imediatamente e a conversa rendeu como se fossemos todas grandes amigas de longa data.

Terminei colocando um arco com orelhas felinas na cabeça e fingindo modéstia em vez de esquecimento. Definitivamente não me encaixaria diante das fantasias super elaboradas dos convidados, mas também não tinha interesse em me destacar diante dos flashes. Quanto mais baixo eu voasse, melhor, queria que minhas criações chamassem atenção, não eu.

Holly estava vestida como Wednesday Addams e Miranda, percebi ao chegarmos na festa, estava fantasiada como uma Malévola sexy e perseguia um pobre Ash vestido de Griffin, o Homem Invisível, o que eu tinha que admitir ser uma cena engraçada, pois não tendo como lhe fazer invisível de verdade, combinamos que ele usaria um lençol além dos famosos óculos.

Holly e eu tomamos ponche e conversamos com Naev, vestido como o lobisomem Wayne e com as crianças lobisomens de pelúcia costuradas por toda sua roupa, era impossível permanecer séria.

Ele nos apresentou a Reece, seu namorado e guarda-costas e senti um aperto no coração ao ver que ele não estava vestido de Wanda. Todos estavam acostumados a ver fotos dos juntos na mídia por causa do trabalho de Reece, mas parecia muito com testar a sorte usar fantasias combinando em uma festa cheia de fotógrafos. Um dia eles teriam a vida que mereciam, mas isso não me impediu de sofrer pelo seu presente roubado.

Dançamos com George de Murray, a múmia, e depois de minha amiga me deixar para ir conversar com um Matt Frankenstein, me encontrei sozinha com um Ian de Drácula em uma festa lotada.

― Quer sair daqui? ― Perguntou ele se aproximando do meu ouvido para se fazer ouvir sobre a música alta.

― Isso está se tornando um padrão ― disse em tom de provocação. ― Sempre que estamos com outras pessoas você busca uma razão para ficar sozinho comigo.

― Isso é um não? ― retrucou sorrindo.

― Claro que não ― peguei seu braço. ― Vamos.

Saímos da festa sem que ninguém percebesse, o que não foi fácil com tantos paparazzi a espera de um click, mas Ian estava bem mais acostumado com essa vida do que eu e sabia exatamente o que fazer. Entramos no carro e ela se inclinou na direção de Paolo:

― Rode pelo bairro, sim?

Paolo acenou sem fazer perguntas e engatou o carro.

― Algum lugar em mente ou apenas andaremos em círculos? ― indaguei.

― O que você acha disso? ― devolveu quando passamos em frente de uma casa mal-assombrada aberta ao público.

― Com vontade de me assustar, Ian? ― eu estava totalmente flertando com ele e não estava mais fazendo questão de esconder.

― Não acho que você seja do tipo que se assusta fácil ― respondeu com seu sorriso de ouro.

― Aceito o desafio ― concordei.

Paolo parou o carro ao comando de Ian e nós descemos. Meu chefe estava bem disfarçado, o cabelo preto com tinta temporária, a maquiagem branca forte de Drácula e se eu não convivesse com ele diariamente, dificilmente diria que o rapaz era Ian Montgomery de cara.

Na entrada da casa, uma caveira nos dava boas-vindas com os dizeres "entre por sua própria conta e risco" em uma placa no colo. A porta nos brindava com caveiras derretidas e era arrepiante por si só.

Não tinha fila e logo demos de cara com a sala dos espelhos, eu ri do reflexo dele mais alto que a vida e ele puxou meu cabelo ao me ver deformada em ondas. Passamos pela sala do cientista maluco e admito ter ficado um pouco assustada ao vê-lo serrar uma mulher ao meio.

No cômodo seguinte encontramos um banquete de cabeças cantantes, depois um maníaco com uma serra elétrica, passamos por uma sala cheia de zumbis e seguida por uma com sons ensurdecedores, como bombas caindo no quarto enquanto algo que se assemelhava a teias de aranha grudava em nós conforme tentávamos passar. Por fim, atravessamos um caixão aberto que levava a um cemitério falso.

― Então esse é o seu quarto? ― provoquei quando nos sentamos perto de algumas lápides.

― Só quando estou em turnê ― devolveu.

Eu sinceramente estava adorando o clima de camaradagem que havia se instalado entre nós após termos resolvido nossos problemas iniciais e ele ter deixado para lá o que quer que fosse que o incomodava sobre mim. Ian era, apesar de tudo, um cara legal e eu gostava de tê-lo por perto.

Ian

― Essas lápides não são nada assustadoras quando você conhece a coisa real ― comentei chutando uma pedra no cascalho.

― Nisso eu tenho que concordar ― respondeu a garota suavemente.

― Quem você perdeu? ― questionei curioso. Delilah estava sempre tão sorridente que era difícil imaginar ela passando pela dor de uma perda como essa.

― Meu pai morreu quando eu tinha treze anos e aos catorze... bem, uma pessoa que pensei ser minha amiga, a mesma que fez da minha vida um inferno, terminou seu projeto tentando me transformar em um. Ela ateou fogo ao meu cabelo, essa é a razão das minhas cicatrizes. Meu acidente não tem muito de acidente, no final das contas.

Segurei sua mão por um segundo, tentando passar apoio sem dizer as palavras clichês que eu odiaria que fossem ditas a mim.

― Passei muito tempo achando que de alguma forma era minha culpa, sabe? Que se tivesse percebido que havia algo por trás da toxidade da nossa amizade, teria podido ajudá-la em vez de só sentir pena de mim mesma.

― Espero que você já saiba que isso era resquício da forma como ela te tratava ― pronunciei baixinho.

Ela sorriu levemente:

― Quando conheci Amélia, eu entendi o que era amizade de verdade, entendi que não era culpa minha e que eu nunca tinha merecido nada daquilo, mas ainda assim acho perdi um pouco da minha capacidade de confiar nas pessoas depois de tudo.

― Agora isso é algo que eu tenho dificuldade de acreditar com você sempre sorrindo para todos ― brinquei tocando a covinha em sua bochecha direita com a ponta do meu dedo indicador, tentando aliviar o clima porque se eu a conhecia como estava começando a achar que conhecia, ela gostaria disso. ― É de conhecimento geral que eu não tenho contato com a minha família há anos, mas ninguém além dos rapazes e nosso agente sabe o verdadeiro por que ― ofereci tentando me abrir da mesma forma que ela tinha feito. ― Eu matei minha irmã ― soltei em uma corrida como se dizer as palavras lentamente fosse me sufocar. ― Quando tinha dezessete anos. Ela estava decidida a me ensinar a dirigir mesmo que eu tivesse pavor de aprender, dizia que uma pessoa não poderia viver em uma fazenda se não fosse capaz de dirigir um trator se necessário. Eu estava certo, no final, pois bati o carro do nosso pai e Inez, que estava sem cinto, foi arremessada para fora.

― Oh, Ian! ― exclamou ela com a mão cobrindo a boca aberta em choque. ― Nothing is enough é sobre ela ― sussurrou.

Fechei os olhos. Todos esses anos, desde o lançamento do nosso primeiro álbum, Nothing is enough era uma incógnita. Era um fato conhecido que perdi minha irmã mais velha, mas eu nunca confirmei ou neguei os boatos sobre a música.

Every night

In my dreams

I see it all again

And I can't scape

I can't keep you safe

I can't make it change

And I can't runaway

Agora todo esse mistério parecia ainda mais ridículo.

― Foi a primeira música que eu escrevi para o nosso álbum de estreia ― dei uma risada vazia até mesmo para os meus próprios ouvidos. ― O mais irônico disso tudo é que a proposta para assinarmos com a No Label veio um mês depois da morte dela, por intermédio de um vídeo que o dono do bar em que tocávamos postou e que Theo acabou vendo por acaso. Sendo o mais novo do grupo, e na época o único menor de idade, meu pai usou sua autorização como moeda de troca para que eu nunca mais pusesse os pés na fazenda da família.

Eu podia ver em seus olhos brilhantes que ela via como a situação era horrível. Um garoto de dezessete anos, enlutado pela perda da irmã, tendo seu sonho usado contra si. Aquilo daria um bom filme de Hollywood, pensei com ironia.

― Então é por isso, que apesar de já termos estado no Texas várias vezes em turnê, eu nunca fui para casa visitá-los: eles não me querem lá. Minha mãe não moveu um dedo para convencê-lo do contrário e minha irmã caçula, Isabelle, sequer atende minhas ligações e Deus é testemunha de que eu ligo todos os dias.

― Não há nada de errado em ainda estar de luto por toda a situação, Ian, você perdeu a irmã e seu lar no período de um mês ― ela pegou minha mão como para passar conforto através do toque. ― Está tudo bem sentir culpa e ainda não ser capaz de deixar tudo isso ir desde que você esteja aberto a possibilidade de um dia fazer isso.

Eu definitivamente não estava pronto, não antes de acertar as coisas com a última irmã que me restava e pensei por um segundo, tentando me decidir se compartilhava o último pedaço de privacidade que havia sobrado, mas o que era mais um segredo quando eu já tinha rasgado meu peito aberto?

― Hoje é aniversário dela, sabia? Dezoito anos da minha bruxinha Isabelle nascida no Halloween, o único dia possível para ela ― eu dei uma risadinha sem humor sentindo pena de mim mesmo, ainda que soubesse que isso não melhoraria nada. ― Enfim, ― falei forçando um sorriso ― isso muda a opinião que você tem de mim?

Eu juro que esperava uma centena de reações diferentes vindas dela, simpáticas, raivosas, enojadas, mas não me preparei para o que ela fez, porque no fim, Delilah era uma caixinha de surpresas e por mais que eu me convencesse de que a conhecia, ela sempre tinha a capacidade de me chocar e naquele momento, eu obtive a maior surpresa de todas, pois ela colocou as mãos magras em minhas bochechas como se não fosse nada demais e me beijou.

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