Agora estou fazendo o que eu quero. Não sou quem vai enlouquecer sem você. Eu vou me livrar de você. Eu quero viver minha vida do meu jeito. — Mamamoo (Egotistic)
Era notório minha inquietação no hall da sala de casa, o mais velho tinha o celular pendurado ao ouvido e falava um pouco mais distante de mim. Eu odiava esse suspense, essa demora, a ansiedade de esperar por notícias boas me dava ânsia. A ligação foi encerrada e ele aproximou-se de mim sentando no sofá preto de couro da sala, soltando um suspiro por fim, antes de iniciarmos um diálogo.
— Então? — As definições para mim naquele momento eram: ansioso, nervoso, tenso, entre essas e várias outras coisas que sinceramente, não me lembro agora.
— Ela disse que não vem, está ocupada com as coisas da faculdade e é muito provável que não a deixem sair por ser período de provas. — William relaxou no sofá afrouxando sua gravata. — Quem sabe ela não vem para o casamento? — Questiona e eu nego com a cabeça várias vezes, não tem essa possibilidade e ele sabe muito bem disso.
— Não existe isso William, ela está nos ignorando, simples assim. Não quer olhar na nossa cara, fim.
Cinco anos haviam se passado, é, exatamente cinco anos. E o último contato que eu tive com a minha irmã foi no natal de dois anos atrás, conseguimos fazer as pazes, mas também não passou disso. Madson fez sua vida em Los Angeles e pisar agora em Atlanta para ela deve ser difícil mesmo, mas eu não quero saber, quero minha irmã no meu casamento e ponto final.
— Pai! Por que você mesmo não fala diretamente com o Diretor Shan? Eu tenho certeza que ele abrirá uma exceção. — Meu pai olhou-me pensativo, ele mais do que qualquer pessoa queria vê-la também, tinha muito tempo que não vemos nossa doce Madson. Meu pai sem dizer nada pegou o celular do bolso, já enlouquecido com aquela minha idéia.
— Alô! Shang? — Meu pai disse entusiasmado. — Gostaria de pedir um pequeno favor a você. — Ele fez uma pequena pausa e riu com o que falaram do outro lado da linha. — Minha filha está na faculdade de vocês e eu sei que estão no períodos das provas, mas eu gostaria de pedir que a liberassem por dois meses, tempo exato para que aconteça o casamento do meu outro filho. — Meu pai balançou a cabeça concordando, mesmo sabendo que a pessoa não estava vendo. — Madson William.
Um tempo depois eu vejo ele franzir o cenho de um jeito estranho, ele finalizou aquela ligação pedindo desculpas e me olhou nada feliz.
— O que aconteceu, pai? Não liberaram? — Os olhos estreitos do meu pai me fitaram com um olhar indescritível.
— Madson não está no curso vai fazer exatamente dois anos. Ela trancou a faculdade na metade do ano.
— Como? Houve um engano pai, eu tenho certeza! Madson nunca faria isso, não sem nos contar. — Estava abismado e sem acreditar naquelas palavras, meu pai negou várias vezes mordendo a pele fina de seus lábios com dureza. Um silêncio pairou sobre a sala, mas logo eu faço questão de acabar com o mesmo. — Creio que deve ter acontecido alguma coisa, ela é a nossa menina nunca mentiria, talvez encontrou uma faculdade melhor, e-eu não sei… — Dou de ombros, querendo muito acreditar nas minhas próprias palavras.
— Não seja ingênuo. — Murmurou ele, me olhando de soslaio.
— Não importa o que aconteceu ligarei para ela, a presença dela é importante no meu casamento. Eu quero-a aqui, quem sabe ela não explica o que de fato aconteceu pai. — Ele não diz mais nada, estava visivelmente desapontado com Madson, mas a pergunta é por que ela fez isso? por que mentiu?
Madson William
Los angeles, Santa monica
— Hum. — Murmuro me espreguiçando na cama, meu corpo estava preguiçoso como sempre ficava pela manhã. Abri lentamente meus olhos e agradeço por ter fechado as persianas na noite passada. Fiquei exatamente dez minutos rolando na cama, esperando a preguiça passar, meus dedos finos entram em contato com minhas madeixas curtas e finas, bagunçando-os mais ainda. A sensação de ter o cabelo no pescoço era maravilhosa, rápido e prático. Essa na verdade foi uma das minhas primeiras mudanças nesse tempo todo, cortar o cabelo como sempre quis: curto, quase como um corte masculino e logo depois platinei meu cabelo e foi o fim da “Madson loira sem sal original”, para uma “olá madson gostosona”
Busquei meus chinelos e logo depois que estava devidamente calçada vou em direção ao banheiro, assim que tenho toda a visão de mim mesma sorri, soltando um suspiro. Observei as tatuagens pequenas espalhadas pela minha pele levemente bronzeada pelo magnífico sol de Los angeles.
Sim, as tatuagens entraram de vez na minha vida, começaram com umas pequenas pelo braço, espalhadas e discretas, mas depois disso sinto em dizer que tornou-se um vício. Na minha espinha tem uma rosa linda, com traços delicados, no lado esquerdo da minha perna subindo ao lado da minha bunda tem mais flores detalhistas, em meu calcanhar uma letra de música em japonês, nos meus dedos alguns bonequinhos minúsculos. Entre outras que no momento minha mente não é capaz de lembrar. A minha mudança foi radical, eu confesso. As roupas, o jeito de se portar, o estilo, mas o amor pela dança, prevalece até hoje.
Tanta coisa mudou.
Minha página ainda continua aberta para o público ver aquela menina de 19 anos rebolando em seu quarto, engraçado que mal sabia ela que seu sonho logo em breve se realizaria. Aquela pagina eu nunca consegui apagar, pelo simples fato de nunca me desapegar da antiga Madson, mesmo ela sendo aquela menininha, no fundo ela era uma fodona, cheia de desejos.
— Madson! Vamos nos atrasar sua mala. — A voz de Kate tornou-se abafada do outro lado da porta. Eu ri com aquilo começando a me despir. Era insano morar numa república, no começo foi meio ruim de se acostumar, agora sou amiga de geral. E sinceramente? não quero sair daqui nunca, nada mais me tira de Los Angeles.
Quando eu cheguei aqui completamente perdida, com a bunda cheirando a talquinho de bebê, entrei naquela faculdade me borrando, minhas férias foram uma porcaria, passei as semanas no hotel esperando o tempo passar junto com as memórias dolorosas, até que certo dia eu encontrei um grupo de jovens dançando no centro de Los angeles. E o jeito como as pessoas os olhavam me deixou simplesmente encantada, conheci eles, saímos durante muito tempo e então eu saí da faculdade e me cadastrei na academia de arte, que ao contrário da faculdade caríssima que meu pai pagava, era pública, ou seja era lotado de jovens, fritando com seus talentos. Eu saí do campus e vim morar na república, com Kate, Flora, Chris e Harry.
— Até que enfim. — Kate diz rindo quando eu apareço na cozinha enrolada numa toalha e prendia outra no topo da cabeça enrolada em meus cabelos. — Bom dia, bela adormecida. — Me entregou uma xícara de café sem açúcar, do jeitinho que eu gostava ou melhor tinha aprendido a gostar de uns tempos pra cá. — Como foi a noite ontem? Ouvi vocês chegando às quatro da manhã, rindo igual malucos.
— Teria sido melhor com você lá. — Dou de ombros. Todo fim de semana tinha uma festinha pra ir da galera da academia, o que nos dava acesso a ter mais popularidade, dentre os grupos que haviam e afins.
— Não me dou muito bem com aquela Tiffany. — Fez cara de nojo. — Aliás, seu celular tocou a noite toda ontem. Não atendi, mas era o seu pai. — Eu fico em silêncio fingindo estar tomando meu café, embora na verdade eu estivesse molhando meus lábios no café quente enquanto buscava uma resposta boa.
— Bom dia! — A voz gostosa de Harry exalou pela cozinha me fazendo suspirar, Kate me fuzilou com aquele olhar de mãe e abraçou o moreno, dando-lhe um beijo na bochecha. — Eu to' quebrado, nunca me diverti tanto quanto ontem. Até que a chata da Tiffany faz festas legais. — Eles entram no assunto da festa enquanto eu devaneio sobre meu pai. O que ele queria comigo?
Desde que eu vim para Los angeles, nos vimos ainda quando eu estava na faculdade, ou seja, meu pai não sabe nada sobre meu processo mudança, e nem mesmo sonha que eu estou fora da faculdade. Sem mais nem menos me levanto dali indo em direção ao meu quarto, precisava ver o que ele queria, eu sentia tanta a falta deles…
Peguei meu celular que estava sobre a mesinha do quarto e sem ver mais nada ligo para o número residencial. Dois, quatro toques e quem atende é uma mulher da voz extremamente chata.
— Alô quem é? — Foi impossível não torcer a cara de nojo ao ouvir aquela voz.
— Quem está falando? Preciso falar com o Mike ou William. — Falei firme, ouvi um barulho e depois eu escuto a voz firme do meu irmão. Meu coração apertou de um jeito inexplicável.
— Madson?
— Oi Mike. — Embora tivesse acontecido diversas coisas, eu sentia sua falta. Mas eu queria distância também, eu nunca esqueci suas palavras duras sobre mim.
— Eu preciso muito falar com você.
— A-ah, Mike não vai dar. Estou atrasada para fazer algumas coisas, quem sabe depois. — Estava completamente desconfortável com aquilo, já a ponto de roer minhas unhas, pintadas na coloração preta em um formato que eu amei, as famosas stiletto. Mas não, paguei caro demais nelas para quebrá-las numa simples conversa com o meu irmão.
— Não Madson, não pode ser depois! — Ele se mantém firme e eu engulo em seco. — Ficamos afastados por muito tempo, sinto sua falta e a sua presença no meu casamento é importante.
Ele iria se casar. Céus, por quanto tempo eu dormir? Por quanto tempo eu me afastei…
— Casamento. — Engoli em seco. — Mike… você sabe, não dá pra mim.
— Eu sei que dá Madson! E, esse é um dos motivos para que eu quero que você venha. Quero que participe de tudo, meu noivado, casamento. — Eu não estava o vendo, mas podia imaginar o sorriso nos lábios dele. — Venha, eu conto com você. Não será a mesma coisa.
[...]
Estava mergulhando imersa em meus pensamentos. Mike, a pessoa mais improvável se casando, construindo sua família, vejo que realmente seu amadurecimento chegou. Mas eu não consigo, não consigo sair de Los Angeles, encarar a todos com um sorrisinho cínico e depois os abraçar dizendo que eu estava com saudades, sendo que é uma puta mentira. Eu sinto saudades, mas os quero longe.
— Ei. — A porta rangeu abrindo-se, levantei minha cabeça encarando Harry. — O que aconteceu, gatinha? — Sentou-se do meu lado na cama me olhando atentamente, curioso.
— Estava ao telefone com meu irmão.
— Fico feliz em saber disso, a estabilidade entre vocês dois é um furacão, ora calmo, ora tenso demais. — Ri fraco de seu comentário. — O que ele queria?
Harry tinha liberdade comigo ao ponto de saber tudo sobre mim, poderia perguntar o que ele quisesse. Éramos ótimos amigos, ele me ajudou tanto, parecíamos dois irmãos. Passávamos a maioria do tempo deitados assistindo desenhos iguais duas crianças. Ele também tinha vindo de Atlanta e veio pra cá na intenção de pegar umas ondas boas num campeonato da praia, mas acabou ficando pra sempre, até conhecer a galera da Academia de arte.
— Me chamar para seu casamento. — Um suspiro escapou de meus lábios.
— E você vai? — Olhei para ele com uma cara de “sério que me perguntou isso?” — O que? Não perguntei nada demais, e outra, está mais do que na hora de vocês se verem e quebrar esse climão.
— Acho melhor não.
— Por que? Do que tens medo, Madson?
— De nada. — Dou de ombros me levantando, sorrindo fraco.
— Mentira! Você mente tanto que acaba acreditando nisso. — Olhei para ele espantada. — É exatamente isso que você ouviu, ainda tem medo da reação da sua família, ao verem quem é a verdadeira Madson. — Desvio o olhar. Aquilo era uma verdade que eu não conseguia confessar para mim mesma. — Madson, está na hora disso acabar. Mostra de uma vez quem você realmente é, a mulher maravilhosa que se tornou. — Volto a encará-lo. Um sorriso fraco surgiu em meus lábios, logo seguida de uma gargalhada.
Talvez ele tivesse razão, estava na hora de voltar e mostrar quem realmente é, Madson William.