O começo.
Onde dois corações são trocados.
Palavras que um dia foram ditas em desprezo, hoje provam que nada está ao alcance do impossível .
#BUZINADAMORTE 🚨
Park Jimin
— Eu não acredito que vocês me trouxeram numa boate gay! — gargalhei dando tapas em Taehyung. Yoongi, Jin e Nam fizeram um círculo humano ao meu redor enquanto dançavam feito loucos.
— É pra ver se você sai do armário logo. — Debochou Yoon me entregando uma cerveja, a quinta da noite. Foi a primeira vez que bebi assim e a ocasião era favorável, eu finalmente tinha completado os tão esperados vinte anos.
Namjoon nos surpreendeu quando subiu em uma das mesas e começou a dançar de seu jeito desajeitado.
Ri alto quando notei que Jin tapava os olhos inconformado com a cena.
— Deixa sua mulher saber disso. — provocou Taehyung fazendo nosso amigo recém casado pular da mesa imediatamente.
A esposa de Nam era realmente assustadora e ciumenta.
— Se contarem terão suas almas levadas junto com a minha, ou vocês acham que ela vai deixá-los impune? — ditou em tom de voz ameaçador.
A lembrança dela dando uma voadora na prima de Taehyung que se declarou para Nam no dia do casamento veio a minha cabeça, ela realmente parecia assustadora aquele dia.
— Eu não tenho medo dela. — Esnobou Guinho virando um gole da cerveja e já me passando outra.
Como eu não notei que já tinha secado a lata?
— Não conta, até ela tem medo de você. — Zombou Jin já gargalhando.
Realmente, Yoongi bravo parecia dez vezes mais assustador que a esposa maluca de Nam, fico imaginando se eles tivessem se casado, o vestido e o terno teriam de ser a prova de balas.
— E você Jimin, vai ficar parado ai só bebendo? Vamos dançar, prometo que não conto pra sua avó! — brincou Tae me puxando pra pista, eu sempre admirei seu excesso de animação.
...
As horas se passaram tão rápido que a dona da boate precisou nos expulsar usando uma vassoura, estávamos mortos de bêbados, caindo e levantando pelas ruas.
— Meu Deus do céu, já são quatro da manhã. — Alertou Namjoon que por acaso era o mais sóbrio entre nós, ele sabia que se chegasse caindo em casa seria no mínimo expulso.
Jin carregava Yoongi nas costas desmaiado, e eu que já não me encontrava em boas condições arrastava Tae que parecia dormir e andar ao mesmo tempo.
Passamos primeiro pela casa de Namjoon, para nossa surpresa, e o bem de Nam, a"general" estava milagrosamente dormindo.
Jin e Yoongi dividem apartamento, então foram os segundos à chegarem seguros em casa.
Já Taehyung me deu trabalho, tive que levá-lo até a casa de seus pais.
Eles são meus melhores amigos desde sempre, tudo por causa de um festival anual que acontecia na rua da minha casa, é impossível esquecer o dia em que eu estava apanhando de meninos mais velhos e Namjoon que já era bem forte chegou socando todos, Yoongi e Tae me ajudaram a cuidar dos machucados, enquanto Jin ria da cara dos garotos que apanhavam, foi épico, desde aquele dia não desgrudei mais deles.
A casa de vovó era um pouco longe, comecei a caminhada tentando me manter equilibrado, sem contar que eu teria que me fingir de sóbrio para não a deixar irritada. Não que ela fosse uma pessoa ruim.
Minha avó é uma pessoa muito doce, ela me cria desde sempre, já que meus pais me abandonaram para viverem um romance...
Eu não os culpo, uma criança pode ser um problema as vezes. Na verdade já até cogitei escrever um livro contando o que pode ter acontecido com os dois, só que nunca fui muito bom com palavras.
Olhei pro céu ainda estrelado e me perdi em pensamentos lunáticos de um recém bêbado. Os pássaros anunciavam que logo o dia iria clarear e eu continuei tropeçando em pedras imaginárias até realmente tropeçar numa de verdade e cair de cara no chão.
Apesar de bêbado me levantei rápido fingindo que nada havia acontecido. Clássico.
— Ninguém viu. — Sussurei. Droga justamente a calça nova, presente do Jin, eu tinha que sujar, ele sempre teve um ótimo gosto pra roupas.
Um pingo grosso de chuva acertou minha cabeça, olhei pra cima e o céu estrelado de segundos atrás estava cheio de nuvens, como mágica.
— Ah não, eu não estou nem na metade do caminho! — Praguejei irritado.
Olhei mais uma vez pro céu torcendo pra que tenha sido coisa da minha cabeça, mas algo no terraço de um dos prédios me chamou atenção, forçei a vista meio embaralhada e vi um corpo perfeitamente desenhado em pé na beirada no topo do edifício.
Alguém estava prestes a pular.
Nada mais passou pela minha cabeça, além de correr. Adentrei o edifício pela entrada de serviços, sabia disso por já ter trabalhado em um grande hotél de Seul. Eles sempre deixam essa porta aberta.
Entrei em um dos elevadores desejando que não fosse tarde demais, ou que eu só tivesse tido uma alucinação de bêbado.
Os números dos andares foram acabando e a porta do elevador se abriu rápido.
Corri tropeçando em algumas escadas e empurrei a porta de acesso ao terraço. Lá estava ele de costas, um cara, de roupas pretas e molhadas, a chuva estava mais forte, a ponto de embaçar minha visão. Andei em passos lentos, fiquei quase ao lado dele, pouco atrás.
Sem pensar direito agarrei o braço do sujeito e o puxei, ele não se moveu o suficiente então usei o impulso do meu corpo para empurrá-lo. Nossos olhos se encontraram brevemente antes de todo impulso que fiz voltar fazendo eu me desequilibrar e cair no lugar dele fechei os olhos com força, foi como se eu pudesse sentir todo o meu último fio de vida ir embora.
Jeon Jungkook
E aquele que sentir humanidade onde não existe, terá seu coração! no entanto será punido com algo irreversível!
Mas isso é impossivel! Ninguém pode me salvar do que eu sou!
...
O que já ouviu sobre a morte?
Fria, dolorosa, inesperada e certa?
Talvez você até tenha pesquisado na internet, é isso que dizem lá:
A morte é a mudança que estabelece a renovação. Quando alguém parte, muitas coisas se modificam na estrutura dos que ficam e, sendo uma lei natural, ela é sempre um bem, muito embora as pessoas não queiram aceitar isso. ... Lembre-se de que nós não temos nenhum poder sobre a vida ou a morte. Ela é irremediável.
O que não está errado, nem totalmente certo.
Esqueceram de mencionar que a morte é alguém, um ser que foi escolhido para esse posto, alguém eterno, alguém que nasceu de uma humana a muitos anos atrás, e o mais incrível e irônico, alguém odiado que foi criado para fazer companhia à alguém amado.
Algumas pessoas dizem:
A MORTE É ETERNA, MAS A VIDA NÃO, ENTÃO VIVA INTENSAMENTE SABENDO QUE NÃO HÁ CERTEZA DE UM AMANHÃ.
Ela é normalmente dita por humanos ricos ou com pais liberais.
Alguns pais tem tanto medo da morte que acabam matando os sentimentos dos filhos, e alguns filhos são tão egoístas que matam os pais de preocupação.
Os humanos são tão estranhos...
Uma vez me disseram que eu jamais seria visto como humano por outro humano, que nenhum sentiria nenhum sentimento por mim, então eu comecei a fazer coisas para chamar atenção deles, nunca havia funcionado, até hoje.
O dia que um humano morreu para salvar a morte.
— Precisa buscá-lo antes que o vejam. — A voz do meu único e melhor amigo interrompeu o silêncio que eu tinha feito para tentar raciocinar o que havia acabado de acontecer.
Lembra de quando eu disse que fui criado pra fazer companhia pra alguém? Era dele que eu tava falando.
— E o que vai fazer? Vai ressuscitar ele com seus super poderes de cura? — Ironizei com as mãos no cabelo. — Não era pra ser assim, eu não estou preparado.
— Eu não vou fazer nada, ele vai acordar e vai ser bem estranho se isso acontecer no necrotério ou no velório, então é melhor ir buscá-lo agora. — Aconselhou Hoseok com uma das mãos sobre meu ombro. — É bom levá-lo pra sua casa e explicar tudo, depois vou aparecer por lá e ajudar você a lidar com a situação. — terminou de dizer antes de desaparecer.
Digamos que pro seu posto, Hoseok é um homem muito ocupado.
Pulei o edifício e vi melhor o garoto, sem sangue e os ossos pareciam estar intactos, o que significava que o processo já teria começado, os cabelos loiros estavam bagunçados e a blusa rasgada, possívelmente devido ao impacto.
O peguei no colo e um cheiro de bebida muito forte impregnou minhas roupas.
Quem tenta salvar outra pessoa bêbado? Carreguei o jovem até meu carro, e o deitei no banco de trás.
Céus ele parece um anjo, não vi muito ao longo do século, mas não era algo fácil de se esquecer.
Diriji o mais rápido possível, seria estranho se ele acordasse no carro.
Escolhi morar num lugar afastado por motivos óbvios, não sou bom para os humanos, e tenho certeza que seria menosprezado se soubessem quem eu sou.
Estava tão atordoado que nem percebi que a chuva já tinha parado, tudo indicava que seria um dia cinza.
Peguei o garoto novamente e o levei para dentro.
Deixei o corpo magro sobre o sofá e fiz outra análise. As bochechas pareciam mais rosadas que antes, o mesmo com os lábios, o peito subia e descia lentamente indicando que ele estava respirando.
Nunca havia chegado tão perto de um humano, ou ex humano, não sabia ao certo como chamá-lo.
Ainda mais um humano com traços tão delicados. Me pergunto como um ser pequeno e atrapalhado desse pôde abrir mão de sua vida por um desconhecido, ainda mais um desconhecido sem valor algum como eu, talvez o efeito do álcool, ou só a velha e rara bondade.
Um dos motivos para eu não observar os humanos é que muitas vezes eles são cruéis, e eu não to falando daqueles que pecam, na verdade me refiro aos humanos que amam, eles são raros, amorosos e prestativos, alguns desses humanos não vivem muito, e deixam uma enorme saudade no coração dos que ficam, isso é cruel, saudade, tristeza, dor, e por mais que seja duro admitir, a morte.
Despertei dos devaneios quando ele se mexeu, dei alguns passos para trás tentando manter a calma, e quando os olhos do mesmo se abriram senti algo formigar no meu peito.
Park Jimin
Abri os olhos, senti o ambiente girar um pouco, vi um teto diferente do da casa de vovó e lembranças estranhas tomaram conta do meu subconsciente.
Essa não...
Virei o rosto pro lado e meus olhos encontraram os mesmos olhos de mais cedo.
Era ele!
O garoto que ia pular estava de pé e usava as mesmas roupas molhadas, os cabelos também encharcados grudados na testa.
— Por que estou aqui? Eu não deveria estar morto? — Me espantei com a naturalidade que as palavras saíram da minha própria boca. Também percebi que estava sem minha camisa azul favorita.
— Sim, deveria, na verdade você morreu tentando salvar alguém que não precisava ser salvo, quanto azar — Falou fazendo eu estremecer com aquele tom de voz calmo demais. Levei uma das mãos a cabeça e pude sentir uma onda de desespero se aproximando.
— Do que você tá falando cara, eu preciso ir pra casa. — Levantei mas foi difícil caminhar, três passos foram suficientes para eu perder o equilíbrio, ele acabou me pegando tempo.
— Dá pra parar quieto você ainda não está bem. — reclamou me levando de volta ao sofá, o mesmo se abaixou para ficar de frente à mim, analizei aquele rosto preocupado sem entender o motivo, era quase surreal, os traços pareciam perfeitos, os olhos negros e algumas gotas do cabelo molhado escorriam pelo rosto que poderia ser facilmente esculpido por anjos, eu diria que ele era muito bonito, apesar das circunstâncias.
— Quem é você? — perguntei. Pensei em tentar correr mas ele prendeu minhas mãos contra o sofá. — Me deixa ir por favor. — implorei temendo o pior, de alguma maneira consegui sentir a irritação do ser.
— Eu vou te deixar ir, mas antes preciso te explicar umas coisas. — Suspirou aparentemente cansado. — Eu não ia morrer, não era pra você ter se sacrificado por mim, agora está preso á isso, está preso pra sempre. — Ofeguei assustado, sempre é muito tempo.
— Quer saber quem eu sou? — O garoto se levantou e estendeu a mão para que eu a tocasse. — Hesitei mas o mesmo perdeu a paciência e juntou nossas mãos.
Minha mente viajou de uma forma que fez eu questionar minha sanidade, tudo que vi foi escuridão, choro, tristeza, súplicas, e a mesma palavra se repetindo várias vezes.
MORTE.
E aquele que sentir humanidade onde não existe, terá seu coração! no entanto será punido com algo irreversível!
Me vejo no momento em que o salvei, e quando cai.
Imortalidade.
Soltei minha mão apreensivo, e voltei para realidade, ou o mais próximo dela.
— O que foi isso? Essa voz, o que ela disse é verdade? — Perguntei frustrado, por qual motivo tudo aquilo estava acontecendo, eu mal podia respirar, parecia só um sonho maluco.
— É verdade sim, se acalme, chorar, gritar e praguejar não vão salvar você disso, essa é sua nova vida. -— Uma terceira voz preencheu o local, e outro garoto surgiu sentado em uma poltrona no canto da sala. — Quanto a você, ele já sabe que é a morte, agora faça o favor de dizer quem realmente é.
— Meu nome é Jeon Jungkook. — Respirou fundo. — Eu sinto muito por você estar passando por isso, não tive controle sobre a situação, e sim, tudo que você ouviu é verdade, por isso está aqui e vivo. Não precisa se desesperar, vai poder continuar vivendo a sua vida. — Uma pequena e rápida sensação de alívio se espalhou pelo meu corpo, naquele momento só conseguia pensar no bem estar da minha avó. — Só tem um detalhe, quando se sacrificou por mim acabou pegando algo que é meu, algo que não pode ser devolvido, por isso vou estar presente na sua vida de agora em diante. — Jungkook se ajoelhou na minha frente e tirou a camisa encharcada. Obviamente estranhei o ato mas no segundo seguinte pude entender perfeitamente, ou quase.
Vi tatuagens em um dos braços, só que naquele momento o que mais me chamou atenção foi uma recente cicatriz no peito, na direção do... olhei pro meu peito e tínhamos a mesma cicatriz, os mesmos traços.
— O que Jungkook quer dizer é que quando você caiu levou o coração dele junto, por isso vai ser quase impossível pra ele passar mais de uma hora longe de você sem sentir necessidade de sua presença. — Explicou o estranho.
Se for um sonho desejo muito acordar logo. Poderia chamá-los de lunáticos, todavia, por mais estranho que seja, eu me lembro de ter caido, a idéia de aceitar que isso é verdade me deixa angustiado e assustado.
— Você não vai me dizer o seu nome. — Jungkook tentou fugir do assunto e o agradeci mentalmente por isso. Eu não tinha cabeça para discutir detalhes daquilo naquele momento, trocar de coração com alguém parece algo muito intenso, chega até ser constragedor, além de uma loucura.
— Park Jimin. Eu estava voltando da comemoração do meu aniversário quando te vi, achei que você fosse um humano triste ou vazio a ponto de tirar a própria vida, bem, olha onde eu estou agora, acabei de descobrir que perdi o privilégio de viver uma vida calma, e principalmente passageira, como qualquer outra pessoa normal, vejamos, tenho o coração de um estranho em mãos mas não consigo ver isso de uma forma positiva, isso tudo é muito confuso pra mim, por favor me leve pra casa, minha avó deve estar preocupada. — Jungkook não se atreveu a dizer mais nada.
Se levantou e faz sinal pra que eu o seguisse. Dei uma última olhada na direção do "estranho" e ele já não se encontrava sentado na poltrona.
Estranho, tudo tão estranho.
Adentrei o carro em silêncio, pude observar melhor o local, uma mansão de cores discretas como preto e cinza, grandes janelas transparentes por todo lado e um jardim de rosas brancas.
...
— É aqui. — O carro parou em frente ao meu portão. Agradeci mentalmente por não ver nenhum sinal de vovó e me preparei pra sair, porém o garoto agarrou meu braço. O encarei irritado, a expressão que dominava seu rosto era diferente, parecia súplica.
— Não pode ignorar o que aconteceu hoje, eu virei te buscar as oito da noite, você ainda precisa saber de muitas coisas. — Ele me soltou e eu sai do carro sem olhar para trás, não hesitei em correr pra dentro e pra minha derrota dei de cara com minha vó claramente irritada. Ah não, agora não.
— Park Jimin, eu posso saber onde você estava? Já são sete da manhã, e por que você tá sem roupa? — Vovó arremessou um almofada em minha direção.
— Eu bebi demais vó, preciso descansar, quando eu acordar te explico tudo. — Dei um beijo no topo da cabeça dela.
Fui as pressas para o meu quarto, onde peguei uma roupa seca no guarda roupas e corri para o banheiro.
Encarei meu reflexo, algo estava diferente, sem olheiras cansadas dessa vez, nem sono, fisicamente eu parecia perfeitamente descansado. Me livrei das roupas encharcadas e tomei um banho de água morna, meus pensamentos estavam focados em uma só coisa, ou melhor, um só alguém, Jeon Jungkook.
A própria Morte.
JEON JUNGKOOK
— O que é isso que estou sentindo Hobi? — Faziam nove horas que havia deixado Jimin em casa, ele parecia tão irritado, ou talvez só exausto pela situação que o coloquei, de qualquer maneira era compreensível.
— É algo como abstinência, ele está com seu coração, queria o que? Isso porque você ainda não o ama, vai doer mais quando se apaixonar. — Zombou.
— Eu não vou me apaixonar, é impossível pra nós você sabe disso. — O repreendi mas ele gargalhou alto.
— Eu te falava isso quando você ainda era um pirralho, como pôde acreditar? — Quando eu nasci Hobi já estava lá, ele era amigo de minha mãe e quando ela ficou velha demais fui levado para morar com ele, desde então nos tornamos melhores amigos, mesmo que a gente seja o oposto um do outro.
— E por acaso você já se apaixonou? —A expressão sorridente do mesmo sumiu por alguns segundos, levantando algumas suspeitas.
— Não, mas sei que vou, em breve. — Hoseok sempre sentiu algo antes de acontecer, o que é uma dádiva, poder se preparar para o pior ou o melhor deve reconfortar alguns sentimentos. — Esse garoto, Jimin, ele trará muita coisa pra nossa vida. Tudo o que conhecemos, a maneira como pensamos, vai ser tudo restaurado. — Comentou.
— Fala sério, ele me odeia. Eu duvido que consiga me suportar por mais de cinco minutos. — Me joguei no sofá que ainda estava fedendo a álcool, aquele garoto até o momento só me trouxe prejuízo.
— Te suportar realmente é uma tarefa difícil mas ele se acostuma, eu me acostumei. —Hobi sorriu antes de me jogar uma sacola. — Usa isso pra vê-lo mais tarde, suas roupas são todas iguais, é deplorável.
Abri a sacola, lá havia uma camisa branca e uma calça jeans preta, uma coisa mais humana e afins. Geralmente eu só uso meus moletons pretos.
— Falando assim até parece que eu vou à um encontro. — Protestei levemente envergonhado.
— E você vai. Eu to agindo como uma mamãe orgulhosa que assiste seu filhinho querido se apaixonar por um desconhecido que deu a vida por ele. — provocou afinando a voz, não hesitou em apertar minhas bochechas, ele sabia como eu odiava isso.
— Tá muito engraçadinho hoje, eu já falei que não vou me apaixonar. Ele é muito sem graça. — Me levantei irritado caminhando em passos firmes para meu quarto, aparentemente o único lugar de paz e tranquilidade para uma entidade.
— Você vai me agradecer depois! — Gritou o ser irritante gargalhando das minhas reações, só não o matei porque desconfio que ele é mais forte do que eu, também porque criamos um vínculo, não posso matar meu único amigo.
Fechei a porta e me apressei para vestir as roupas novas.
Dane-se eu estou ansioso.
Encarei o reflexo à minha frente, parecia tão...humano. Sempre quis parecer humano, fiz coisas humanas como desenhos na pele e cortar o cabelo frequentemente acompanhando as tendências de moda da tv, porém dessa vez é diferente, pareço um simples universitário, e nunca achei que iria gostar tanto disso.
PARK JIMIN
— Acho melhor levarmos ele ao hospital. — Yoongi analizava meu rosto de uma maneira extremamente irritante.
— Será que dá pra parar, eu já falei que não to inventando, eu morri de verdade! — Gesticulei impaciente, eu estava tão arrependido de ter contado toda a história pra aqueles tontos, mas fizemos um pacto a anos de não esconder nada um do outro, foi hilário na época que Namjoon perdeu a virgindade.
— Jimin você ainda tá bêbado cara, como você quer que a gente acredite que você morreu tentando salvar um cara que é a morte? Ficou maluco? — Nam me chacoalhava claramente irritado, só não tanto quanto eu que estava a ponto de surtar.
— Sem contar com a parte que ele disse que tem o coração da morte, fala a verdade Park, essa cicatriz ai no seu peito foi porque você caiu de bike e tá com vergonha de falar. — Zombou Jin enquanto se contorcia de rir, eu definitivamente não preciso de inimigos.
— É amigo, não tem como te defender dessa vez, eu te disse pra não aceitar bebida de estranhos, eles devem ter te drogado. — Tae segurava o riso e eu segurava a vontade de estrangular os quatro.
— Que droga, vou ter que fazer do jeito difícil. — Levantei da cama e fui em direção a cozinha, vovó havia saído para um bingo americano então era a hora perfeita para provar a aqueles idiotas que não estava mentindo. Peguei a maior faca que encontrei e voltei pro quarto, os quatro correram pro canto assustados.
— Acho melhor chamar a polícia ele tá doidão. — Ditou Guinho em desespero.
— Minha nossa, não sejam idiotas, não vou matar ninguém! — exclamo o óbvio. — Só prestem atenção pra não me chamarem de maluco depois. —Passei a faca nos braços e no abdômen deixando cortes médios. Namjoon correu e tomou a faca de minha mão, ele estava vermelho de raiva.
— Chega! Agora você passou dos limites, nós vamos te levar ao médico e... — Jin o interrompeu tapando a boca dele, todos estavam boquiabertos.
O sangue dos cortes voltaram para cada ferida aberta até ela se curar completamente, não haviam nem marcas.
Era óbvio que eu já tinha testado mais cedo, precisava ter certeza de que não alucinei tudo aquilo.
— Os machucados acabaram de sumir ou eu to alucinando? — Taehyung estava com o tom de voz trêmulo, visivelmente assustado.
— Então quer dizer que...tudo que você disse é verdade? — Yoongi parecia não acreditar e precisou se apoiar na minha cômoda de mangás, ele era meio sensível a sangue.
— Será que tomamos a mesma bebida que ele? — Jin estava inquieto e andava de um lado para o outro. Namjoon no entanto parecia estático, não se movia, nem piscava.
— Tem mais uma coisa, o responsável por tudo isso vai passar pra me buscar daqui a... — Ouvi uma buzina alta e todo o meu corpo gelou, peguei meu celular de cima da cama e o relógio marcava oito em ponto, além de tudo ele era pontual. — Bem, chegou.
— Tá me dizendo que a morte tá buzinando? — Taehyung gritou apavorado. Ok, eu tinha a plena certeza de que foi uma péssima idéia abrir a boca.
Namjoon finalmente se moveu mas para o meu desespero, foi pra fora do quarto, corri atrás do mesmo junto dos outros, tentei a todo custo o impedir de abrir a porta da frente mas era impossível.
Lá está ele, encostado em seu carro de luxo usando roupas despojadas, se eu não soubesse de toda a situação diria que ele era apenas um jovem tatuado comum. Corri até o mesmo.
— O que está acontecendo? — A voz firme e sussurada de Jungkook marcou presença próxima ao meu ouvido. — Contou a eles?
— Sim, só não os machuque. — sussurei de volta antes de Nam ficar cara a cara conosco. Pude ver Yoongi logo atrás ele tinha uma expressão assustadora.
— O que fez com ele? Desfaça imediatamente! — Rosnou num tom de voz ameaçador. Jungkook afastou meu corpo para o lado para ficar poucos centímetros de Namjoon.
— Ele não mencionou a palavra irreversível? — Devolveu a morte no mesmo tom. — Eu não o escolhi, não o vi chegar, não pude impedir. — Eram palavras sinceras e eu sabia.
— Se algo acontecer à ele você vai pagar! — Ameaçou Yoongi, foi como se ele pudesse ver o futuro...
Jungkook me puxou pelo braço sem muito esforço, senti a respiração pesada da morte sobre meu pescoço, mas aquilo de alguma forma não me causava um efeito ruim.
— Acha que vou deixar algo acontecer à ele? Já devem saber que Jimin tem algo que me pertence, está ligado à mim. — Ele apontou na direção do peito se referindo ao coração.
— Ele tá falando a verdade. — a voz de Taehyung chamou atenção e olhares de todos.
O estranho de mais cedo estava segurando sua mão.
— Quem é ele? — Questionou Jin em alerta. Céus, que vovó demore muito naquele bingo.
— Eu sou Jung Hoseok, mas vocês devem me conhecer por outro nome...Vida. — Tudo fez sentido naquele momento, ou não, definitivamente não sabia o que pensar. Ele soltou a mão de Tae. — Só mostrei a ele tudo que aconteceu. — Hoseok estendeu a mão a Nam que segurou sem hesitar. Sempre admirei a coragem, na verdade achei que seria mais difícil.
O mesmo foi feito aos outros que entenderam melhor a situação, foi como se Hoseok tivesse colocado paz em palavras. Os quatro apenas me abraçam forte como se sentissem muito por tudo isso, ambos sabíamos que seria difícil.
— Obrigado, eu não deveria ter contado tão rápido. — Agradeci hesitante. Hoseok sorriu sereno, e já percebi a diferença entre ele e Jeon, um doce e o outro azedo.
— Na verdade foi melhor assim, você não conseguiria esconder isso por muito tempo. — Falou calmo. — A propósito, poderia me dizer como ele se chama? — Ele apontou diretamente para...
— Kim Taehyung. — Respondi pronto para questionar o porquê da pergunta, no entanto Hoseok caminhou rápido na direção de Tae e o cumprimentou.
— Precisa vir comigo. — Jungkook surgiu com sua recente mania irritante de me pegar pelo braço. Como eu havia dito, azedo.
Entrei no carro em silêncio, e pensar que por um momento achei que poderia fugir disso, mas era praticamente impossível. O destino era óbvio assim que vi o caminho de inúmeras árvores. Minutos depois estávamos novamente em frente a mesma mansão dele.
— O que você quer? — Perguntei me sentando no mesmo sofá, ele já tinha meu coração mesmo, pra que ser tão formal nessas circunstâncias?
— Quero saber os horários posso te encontrar. — Respondeu me oferecendo uma bebida, neguei imediatamente, não quero e não vou beber nunca mais.
— Por que precisa me encontrar tantas vezes? Ainda dá tempo de esquecermos toda essa história, eu vivo minha vida e você a sua.— As palavras sairam como súplica de minha boca, nunca pensei que desejaria tanto minha vida de volta.
— Será que não vê que você é minha vida agora? Por que acha que está vivo? O coração que bate em você é o meu, e o que sobrou do seu está aqui. — Ele entrelaçou as mãos nos cabelos. — Acha que eu escolhi isso? Eu não sei como lidar com você.
— E qual reação você esperava? Achou que eu te agradeceria por virar minha vida de cabeça para baixo? — Levantei furioso. — Eu morri por sua causa! Se soubesse quem você era jamais teria perdido meu tempo tentando te salvar! — Cuspi palavras de ódio.
— Quer saber, eu fui um idiota em acreditar que me salvou por sentir algo, você só encheu a cara e queria se sentir um herói não é? Típico dos humanos, tão fodidamente frios! — A primeira lágrima desce molhando minha bochecha, mas eu não estava com vontade de chorar. — Não posso dar sua preciosa vida de volta... — Ironizou em tom frio. —...mas posso te dar isso! — Prendi a respiração, me apoiei no sofá enquanto Jungkook arrancava o próprio coração do peito, o meu coração, e o jogou no chão como se não fosse nada.
Me faltou ar, todo o meu corpo parecia flutuar em angústia, minha mente gritava para que eu acordasse daquele pesadelo tão real. Juntei forças pra correr, e corri pra longe de onde dóia.
...
Estava andando a quase uma hora, parte de mim jurava que seria rápido, parecia perto de carro. Me senti confortável com o fato da noite estar clara e estrelada, caminhar não estava nos meus planos mas eu não passaria nem mais um segundo na presença dele. Só não conseguia entender o motivo das lágrimas não cessarem.
— Onde está indo? — Senti um arrepio do pescoço ao fim da coluna. — Sabe que caminhou pro lado errado, não sabe? — maldito seja.
— Vai pro inferno. — Sussurei com a voz embargada. Céus por que não consigo parar de chorar? — O que vai fazer agora? Quer seu coração de volta? Pegue. Ele não tá funcionando direito mesmo. — Sentei no chão sentindo minha mente pesar pela milésima vez na noite, por mais que meu corpo estivesse inteiro minha mente definhava em pedaços, cansada.
— Parece que o coração que tem aí está triste. — Jungkook se abaixou ficando de frente pra mim, olhei pro rosto do mesmo, cabelo bagunçado e olhos inchados. Jurava que a morte seria uma vilã, mas ela parecia mais um garoto sensível.
— Faça isso parar por favor. — Implorei me refirindo as lágrimas.
— Passei uma eternidade acreditando que nunca seria visto como alguém, sendo mais um símbolo de desprezo para sua raça, e quando finalmente um humano me vê como algo, o faço sofrer assim em tão pouco tempo. — A morte me envolveu em seu colo sem nenhum esforço.
— O que está fazendo? Eu posso andar. — Protestei o ato inesperado.
— Te levando pra casa. — Senti uma leve brisa soprar meu rosto e bastou um piscar de olhos para eu me dar conta de que estavamos no meu quarto. Ele então me colocou no chão.
— Como fez isso? — Sentei no colchão de textura mediana, precisava me lembrar de economizar para um novo.
— Acontece quando eu quero. — Respondeu passeando os olhos sobre as paredes do meu quarto, que no caso não eram muito interessantes, a não ser pela minha coleção de mangás que guardava desde os quatorze. — Ainda está com raiva de mim? — Sentou ao meu lado.
— Bem, você arrancou o meu coração de dentro de você na minha frente, não é algo fácil de esquecer. — Respondi com sinceridade. Jungkook abaixou o olhar, segurou uma de minhas mãos, colocou em cima do peito e pude sentir algumas batidas. Não tão rápidas quanto as do dentro de mim, porem válidas o bastante pra notar que ele estava lá. — Mas...como?
— Acho que ele não quis ficar fora por muito tempo. — A voz de Jeon soou baixa e suave. Não era só a minha mente estava cansada. — O que vamos fazer Park Jimin... — Todos os meus músculos travaram quando ele encostou a cabeça pouco acima do meu peito. Senti uma dor agonizante, um pedido de socorro, como se eu pudesse sentir o pesar da solidão que agoniava o coração do garoto à minha frente.
JEON JUNGKOOK
— Me desculpe por ser tão emotivo e descontrolado. Não era essa a primeira impressão que eu queria passar. — Sussurei contra o corpo frágil do loiro. — E me desculpe por não conseguir reverter tudo isso, se eu tivesse te visto, teria te salvado a tempo.
O cheiro da roupa dele era suave e agradável, a temperatura quente o bastante para reconfortar meus sentimentos doloridos.
— Tenho que te falar uma coisa. — Jimin sussurou de volta antes de colocar uma das mãos sobre o meu cabelo. — Mais cedo quando te puxei da beirada do prédio, eu vi o seu rosto, os seus olhos, eu vi lágrimas. Você precisava sim ser salvo, mas não de uma queda como aquela, e sim do imenso vazio que sinto agora que tenho seu coração. — Permaneci imóvel hipnotizado pela voz fina e suave que despejava todas as minhas verdades. — Vou te ajudar a superar isso da maneira mais humana possível...com carinho. — Jimin passou os pequenos dedos entre meus cabelos e eu precisei conter o nó que se formou na garganta.
— Qual sua cor favorita? — Perguntei ignorando todos os sentimentos que queriam fazer meus olhos transbordarem.
— Assim do nada? Acho que Azul. — Respondeu descontraído. — Deixa eu adivinhar, a sua deve ser preto.
— Errado. Eu gosto de vermelho, me lembra maçã e eu amo maçãs. — Jimin riu baixo e senti algo diferente no coração dele. — Do que está rindo?
— Preciso te perguntar uma coisa, na verdade to muito curioso. — O senti inquieto, ele hesitou alguns segundos. — Onde está sua foice? — Me afastei o suficiente para analizar o rosto do pequeno e a expressão que vi foi de entusiasmo. Não consegui dizer nada além de rir. — Por que está rindo? Você é a morte não é? Onde está sua foice?
— Ei, não diga meu nome assim, se não vou ser obrigado a te puxar para o vale da escuridão usando minha enorme foice! — Ironizei com uma voz assustadora, naquele momento o rosto de Jimin ficou pálido. — Eu estou brincando loirinho, não tenho foice, isso é só um mito ridículo. — O mesmo cruzou os braços irritado. — Olha só, suas lágrimas pararam. — O garoto colocou às pequenas mãos no rosto checando a informação.
— A propósito, ainda é seu aniversário. — Comentei apontando pro relógio que marcava 22:30. — Quantos anos faz hoje? — Perguntei olhando os pequenos olhos que estavam inchados do excesso de choro.
— Vinte. — Analizei o pequeno corpo do jovem, eu daria uns dezessete. — Tenho cara de mais novo, eu sei, Namjoon me chama de miniatura. — Reclamou o loiro me fazendo rir, o clima parecia tão leve, como se algo tivesse sugado toda a nossa angústia.
Encarei o rosto sereno do menino anjo à minha frente, a pele parecia tão frágil que senti vontade de toca-lá. A boca encontrava-se entreaberta algo muito convidativo à meus pensamentos mais pecaminosos. Os olhos curiosos, de alguém que pagaria para ler cada um de meus pensamentos. Minha mão foi de encontro a pele do rosto, macia como eu imaginava, prendi a respiração ao notar os olhos de Jimin fechados, não sabia que um simples coração me deixaria tão vulnerável a sentimentos humanos em tão pouco tempo.
— Por que não dorme? Eu sei que a imortalidade não te deixa cansado fisicamente mas é bom dar um descanso para os pensamentos de vez em quando. — Sussurei anestesiado por um sentimento desconhecido. — Preciso te deixar descansar. — Me afastei.
— Consigo sentir seu coração, e ele diz que você não quer ir agora, na verdade ele diz muita coisa. — Falou, mais pra si do que pra mim.
— E o que ele diz Jimin? — Os olhos castanhos se abriram mostrando inquietação, talvez vergonha. — Me diga o que ele diz.
— Seria inapropriado, eu não te conheço. — Disse de cabeça baixa, se atrapalhando com as palavras. Levantei da cama.
— Voltarei quando tudo estiver mais calmo, acho que consigo aguentar por um tempo, você precisa de espaço e eu preciso pensar. — Dei uma última olhada no loiro. — Até breve Park Jimin.
Oii, gostando da história?
Não se esqueça de votar! ❤